Situado no Cazaquistão, o mar de Aral foi batizado com este nome por causa das mais de 1.500 ilhas que banhava (traduzindo para o português, significa “mar das ilhas”). Já foi o quarto maior lago do mundo, apenas menos do que o mar Cáspio, o lago Superior (entre o Canadá e os EUA) e o lago Vitória (centro da África), com 1.100 quilômetros cúbicos de água cobrindo uma extensão de mais de 68 mil quilômetros quadrados (em 1960), mas um desastre ecológico vem determinando um processo acelerado de desertificação.
Em 2007, foi constatado que o mar de Aral estava reduzido a apenas 10% do seu tamanho original. Três anos depois, estava dividido em três porções de água. A população local praticamente desapareceu, já que grande parte vivia da pesca (uma das antigas riquezas do país). A região é bastante poluída, o que causa danos à saúde humana e animal.
Outras alterações foram produzidas pelo desastre do mar de Aral. O clima sofreu fortes mudanças, com invernos mais frios e longos e verões mais quentes e secos. A agricultura local, assim como o lago, está em processo de extinção.
A formação
O mar de Aral se formou no Período Terciário (68 milhões de anos atrás), com o acúmulo das águas de chuva e de alguns afluentes em uma depressão. Provavelmente, quando surgiu, ele estava conectado ao mar Negro (com saída para o Mediterrâneo) e ao mar Cáspio, outro corpo d’água também fechado, entre a Rússia e o Cazaquistão.
Mesmo com a separação dos dois mares, o Aral continuou a ser alimentado pelos rios Amu e Syr. A região se tornou um oásis e foi um dos primeiros locais da Eurásia a ser colonizado pelo homem. Os dois rios têm suas nascentes em montanhas do Himalaia, percorrem dois mil quilômetros e cortam quatro países até a foz, configurando-se como fontes de recursos naturais com grande variedade biológica em meio a uma região desértica.
A poluição
A situação começou a mudar no século XIX, quando a marinha imperial russa começou a construir navios no Aral, perto da foz do rio Syr. As embarcações precisavam ser desmontadas do outro lado do mar e transportadas por terra até o mar Negro. Até então, a população local vivia apenas da pesca e da agricultura.
Depois da Revolução Russa (1917), o governo soviético (que ocupou o Cazaquistão e diversos outros países da Ásia central) começou a desviar parte da água dos afluentes para irrigar plantações do Uzbequistão, então uma república soviética (com o final da Primeira Guerra Mundial, houve necessidade crescente de ampliar a produção de alimentos).
Os canais de irrigação foram sendo ampliados até a década de 1940. As técnicas de engenharia da época eram muito rudimentares, determinando a perda de três quartos da água captada, em função de vazamentos e evaporação.
No início, a irrigação captava 20 quilômetros cúbicos de água por ano. Nos anos 1960, a maior parte da água dos rios já servia exclusivamente à agropecuária, deixando o mar de Aral cada vez mais vazio: nesses dez anos, o nível caía 20 centímetros por ano; até 1990, este ritmo aumentou 350%. Em 1987, formou-se um banco de areia, um prenúncio da divisão do Aral. Para piorar a situação, lixo e esgoto eram lançados nas águas sem qualquer tratamento.
Em consequência desta retirada, a quantidade de sal no mar de Aral foi quintuplicada, fato que provocou a morte da fauna e flora locais (apenas como exemplo, a região deixou de produzir 500 mil peles de rato-almiscarado por ano). A indústria pesqueira, que empregava 40 mil pessoas, desapareceu e as cidades, sem abastecimento de água, diminuíram drasticamente. Houve desemprego e dificuldades financeiras.
Além disto, a água foi poluída pelos testes de armamentos (há notícias inclusive da instalação de um laboratório de armas biológicas em uma das ilhas; era época da Guerra Fria) e pelo uso abusivo de defensivos agrícolas, como pesticidas e fertilizantes. A produção agrícola aumentou a ponto de tornar o Uzbequistão o terceiro produtor mundial de algodão. Por outro lado, o mar agonizava.
O governo soviético, entretanto, defendia a tese segundo a qual o mar de Aral estava morrendo em função de fatores climáticos e geológicos. Em 1968, um membro do Politburo chegou a declarar que “a evaporação do mar de Aral é um fato óbvio para todos”. A culpa estaria apenas na evaporação, e não no desvio das águas que alimentam o lago. Mas a tragédia ambiental já era conhecida e discutida em todo o mundo, apesar das dificuldades encontradas pelos pesquisadores para entrarem no país, sob o regime comunista de Moscou.
A situação atual
Em 1987, a redução da água finalmente dividiu o lago em dois: o Grande e o Pequeno Aral (respectivamente ao sul e ao norte). Foi aberto um canal para conectar os dois lagos, mas 12 anos depois, com a queda ainda mais acentuada, a ligação foi perdida e o Grande Aral se partiu mais uma vez. Em 1998, o mar era apenas o oitavo lago do mundo, tendo perdido quase 40 mil quilômetros quadrados de área: 60% da extensão e 80% do volume de água. A salinidade havia subido 3,5 vezes.
O governo do Cazaquistão tem tomado algumas providências. Em 2005, foi construída uma barragem e, em 2008, o nível do lago norte do mar de Aral já havia subido 12 metros em relação à pior situação, cinco anos antes. O teor de salinidade também caiu e a quantidade de peixes voltou a viabilizar a pesca comercial. Mesmo assim, o mar perdeu três metros em sua profundidade desde os anos 1990. No lago sul, entretanto, a situação é muito ruim e as perspectivas são ainda piores: é um dos piores desastres ambientais do planeta.
É possível reverter o quadro, melhorando a eficiência dos canais de irrigação, implantando estações de dessalinização, promovendo educação ambiental para os agricultores, construindo novas barragens e desviando água dos glaciares da Sibéria e dos rios Volga, Ob e Irtich para alimentar o mar de Aral. As providências, porém, na seguem o ritmo frenético do desastre ambiental provocado fundamentalmente por falta de planejamento econômico.