O Cao Dai foi criado em 1926 por Ngô Van Chieu, no sul do Vietnã. Hoje congrega oito milhões de fiéis no país, além de grupos por todo o sudeste da Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Cao Dai significa “morada alta”, mas o nome completo da religião pode ser traduzido como “a terceira grande anistia religiosa universal”.
O Cao Dai é um exemplo de sincretismo: seu organizador estudou as grandes religiões orientais, como o Budismo e o Taoísmo e, já adulto, converteu-se ao Espiritismo.
Em 1919, Chieu alegou ter recebido uma mensagem do Ser Supremo (Duc Cao Dai), durante uma sessão em que procurava ajuda espiritual para a saúde de sua mãe. A partir de então, recebeu diversas outras mensagens e tornou-se o profeta da nova religião, que foi oficialmente instituída em 7.10.1926, a mesma data em que o Japão invadiu a Indochina.
Um exército formado por membros do Cao Dai foi imediatamente formado para combater as forças nipônicas. A Indochina – formada pelo Vietnã, Laos e Camboja, permaneceu ocupada por franceses e japoneses até o final da Segunda Guerra Mundial, mas os seguidores de Chieu ocuparam posições de destaque na política.
Quando o país se tornou comunista, em 1975, com a vitória dos vietcongs sobre a coalizão liderada pelo exército americano, o Cao Dai sofreu intensa repressão, motivo que gerou uma diáspora pela Birmânia (atual Myanmar), Tailândia, Filipinas e ilhas da Oceania e foi responsável pela divulgação da religião.
As crenças
A religião acredita numa única divindade, identificada com o Deus das religiões nascidas no Oriente Médio – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Este ser supremo – o Cao Dai – não possui forma nem gênero e é representado por um olho dentro de um triângulo, símbolo que pode ser visto em todos os templos.
De acordo com o Cao Dai, Deus era o único ser por um período indeterminado, até que decidiu criar o universo. Para tanto, a divindade de fracionou, gerando plantas, animais e os homens. Por isto, a religião acredita que todos os seres vivem têm em si parte de Deus. A criação tem três períodos: no primeiro, iniciado em 2500 a.C., foram instituídas as religiões tradicionais chinesas, o Hinduísmo e o Judaísmo.
No período seguinte, que teve início mil anos depois, surgiram o Budismo, Confucionismo, Cristianismo e Islamismo. Porém, para o Cao Dai, todas estas religiões foram corrompidas e não conseguiram produzir uma crença universal, que unisse toda a humanidade. Este é o motivo por que Deus criou o Caodaísmo, cujo objetivo é unir as crenças e implantar a paz entre os homens.
Como se vê, o forte dos adeptos do Cao Dai não é a cronologia. Budismo e Confucionismo datam aproximadamente do século V a.C. e somente 500 anos depois (como é óbvio) surgiram as primeiras instituições cristãs.
O sincretismo da religião pode ser observado na fusão de crenças orientais (inclusive o Taoísmo, com a dualidade masculina e feminina, ativa e passiva, positiva e negativa, que formam o Tao). O Cao Dai admite a reencarnação e o carma (em sânscrito, “ação”, o conjunto de condutas passadas que determina os problemas atuais dos seres). Para o Cao Dai, uma pessoa que acumula atitudes negativas permanece no círculo vicioso das encarnações (da mesma forma como entendem os budistas); os que cultivam boas ações retornam em existências agradáveis e podem inclusive interromper o ciclo, libertando-se da morte e renascimento.
Práticas e ritos
Existem duas espécies de fiéis ao Cao Daí: os esotéricos e os exotéricos. Os segundos são os leigos, cujas atividades resumem-se a praticar o bem e evitar o mal. Os mandamentos a serem observados por estes adeptos são não matar, não roubar, não usar substâncias tóxicas, não trair o cônjuge e não usar palavras agressivas. Além disto, precisam observar uma dieta vegetariana durante dez dias por mês.
Os esotéricos são os sacerdotes da religião. São vegetarianos e praticam a meditação diariamente. Os rituais devem ser realizados também diariamente, em casa ou nos templos, que também funcionam como mosteiros. Recomenda-se que os fiéis ergam um altar no centro do edifício e façam orações quatro vezes por dia (às 6h, 12h, 18h e 24h). Em função de problemas domésticos e profissionais, as preces podem ser reduzidas a um único momento diário.
A organização hierárquica é muito semelhante à da Igreja Católica. O Cao Dai possui padres, bispos cardeais e um papa (o cargo está vago desde 1934, dois anos depois da morte de Chieu). As escrituras da religião foram transmitidas em sessões semelhantes às de psicografia espírita, mas as mensagens, recebidas em transe, são atribuídas à própria divindade. Mulheres podem ser ordenadas, mas não estão habilitadas a assumir a autoridade central do Cao Dai.