Depois da água, café e chá, a cerveja chega ao Top Ten do ranking mundial de bebidas. Ela não mata a sede, é verdade (ao contrário, pode ser um fator de desidratação, pelo seu efeito diurético), mas é a bebida social por excelência: reúne grupos de amigos, está presente em pequenas festas familiares e em grandes eventos corporativos. Comemorar sem cerveja, para muitos, não é comemorar.
Ela é uma das bebidas mais antigas que o homem já produziu. Desde a coleta de trigo, malte e outros cereais, ainda antes do desenvolvimento da agricultura, o homem já produzia a cerveja (que devia ser intragável para os padrões atuais, já que não havia nenhum processo de filtragem, apenas de fermentação). Mesmo assim, a “loura gelada” continua cercada por muitos mitos.
Os mitos sobre a cerveja
Normal ou light? Há algumas décadas, a humanidade passou a dar mais atenção à saúde e ao bem-estar; com isto, surgiram as cervejas light, que prometem manter o shape em forma. No entanto, uma cerveja normal possui menos de 200 calorias, contra as cerca de 100 do produto light. A diferença é muito pequena. Portanto, não há nada condenável na cerveja convencional.
Quanto mais escura, mais forte. Isto não é necessariamente verdadeiro. Uma malzbier (cerveja de malte, em alemão) pode ter apenas 1% de teor alcoólico, mas, na maioria das marcas, fica entre 3% e 5%, percentuais semelhantes aos encontrados nas bebidas claras.
A diferença está no processo de fabricação: quando mais tempo de torragem do malte, mais escura fica a bebida. Para saber o teor alcoólico, basta ler as informações do rótulo.
A adição de caramelo e xarope de açúcar à bebida também interfere na sua coloração. Outro mito sobre a cerveja preta – termo odiado pelos bons bebedores – é que ela faz bem para as grávidas, aumentando a produção do leite.
Durante a gestação, o consumo de qualquer bebida alcoólica deve ser evitado: além de não ajudar em nada a amamentação. Toda mulher nutriz produz leite de qualidade e quantidade para o seu bebê (mesmo as desnutridas). Além disto, o álcool é transmitido para o feto pela placenta, e o bebê pode nascer já dependente.
Gelar e deixar voltar à temperatura ambiente “choca” a cerveja. Isto só acontece se o procedimento for feito várias vezes. No entanto, é comum notar alterações no gosto da bebida com este entra-e-sai da geladeira. A cerveja é afetada não apenas pela temperatura, mas pela luminosidade (por isto, as garrafas são marrons ou verdes), a qualidade do ar (quando as garrafas são deixadas abertas) e o tempo de exposição.
Ainda sobre a cor das garrafas: muitas marcas, para obter uma diferença no mercado, optaram pelo verde. Algumas delas, muito badaladas, levaram os consumidores que o verde preserva melhor a bebidas, o que é um grande mito, quando os europeus, depois da Segunda Guerra Mundial, deixaram de consumir as garrafas marrons devido à escassez do produto.
Em tempo: o marrom preserva melhor as qualidades da bebida (e o transparente é um desastre, se não for consumido em poucos meses após o envase).
Por outro lado, muitos consumidores acreditam que basta guardar o líquido restante das garrafas com um cabo metálico (de uma colher ou garfo, por exemplo) enfiado no gargalo para manter as propriedades da cerveja.
Besteira pura: a cerveja é uma bebida espumante (como os champanhes e frisantes) e o dióxido de carbono, responsável pelas bolhas (e pela espuma), escapa naturalmente a partir do momento em que a garrafa é aberta. Não existe nenhuma reação química que permita ao metal impedir o desprendimento do CO2.
Ainda quanto ao sistema de envase: muitos consumidores acreditam que as latas de cerveja pecam no quesito qualidade, perdendo algumas prioridades. Na verdade, as latinhas de alumínio oferecem maior preservação e são amigas do ambiente: são recicláveis, mais perecíveis do que o vidro (quando descartadas no lixo comum) e também são fonte de renda para muitas famílias brasileiras.
Cervejas importadas são melhores do que as produzidas no Brasil? Mais um mito. O processo de fabricação da cerveja apresenta baixo custo e fabricantes de renome internacional não colocariam seu nome para comercializar seus produtos no Brasil, na Europa ou na Ásia.
Muitos brasileiros que viajam ao exterior se surpreendem com o sabor, aroma e cremosidade da cerveja. Isto acontece principalmente na Europa, onde os bares se preocupam bastante com a temperatura da bebida, entre 0°C (para as pale lagers) e até 15°C (para as strong lagers, entre outras).
O tempo de fabricação interfere? Existe o mito de que só bebidas jovens são boas. Mas, em condições adequadas de estocagem, uma cerveja pode ganhar qualidade com o tempo. Não existe nenhuma relação entre tempo de fabricação e qualidade da bebida.
Os brasileiros chegam ao bar e querem uma cerveja estupidamente gelada. Isto interfere no gosto da bebida e, em alguns casos, apenas serve para disfarçar a má qualidade da bebida. Alguns produtos, como os “sem álcool”, precisam ser consumidos muito gelados. Vale lembrar que todo processo de fermentação gera álcool.
Cervejas mexicanas têm a urina dos operários de sua linha de produção. Ao que tudo indica, o boato foi disseminado pela Heineken, na década de 1980, para reduzir o entusiasmo dos americanos pelo produto fabricado ao sul do país. a popularidade da Corona, por exemplo, foi diminuindo intensamente, em um processo semelhante ao que ocorreu no Brasil entre algumas marcas de refrigerantes.
Cervejas devem ser amargas?
Esta é um pergunta feita pelos maus bebedores. Assim como o café e alguns tipos de chá, como o preto e o mate, a cerveja é uma bebida amarga. Malte e lúpulo, os componentes da maior parte dos produtos, tem sabor amargo.
Vale o mesmo para outras bebidas destiladas e fermentadas: a doce uva se transforma no travor do vinho, especialmente os tintos, mas a regra é a mesma para todas as demais uvas, que se traduzem em vinhos brancos, rosé e espumantes.
O sabor amargo pode não ser apreciado por todos os consumidores. Neste caso, sempre é possível trocar a cerveja por outras bebidas, especialmente as não alcoólicas. Nem mesmo os licores, por mais doces que sejam, apresentam um travor a cada gole.