Quando se fala em memória, não está se tratando de apenas um conceito. Neurocientistas classificam a memória em declarativa e não declarativa. A memória declarativa relata um fato: diz o que aconteceu. São nomes e fatos do cotidiano ou de estudos. A não declarativa acumula informações sobre como o fato aconteceu, nos seus acontecimentos específicos (memória episódica) e gerais (memória semântica).
Existem vários tipos de memória declarativa. A memória imediata é a capacidade de reter um número de telefone, por exemplo. Dura apenas alguns segundos, o suficiente para completar uma chamada telefônica e em seguida a informação é esquecida.
Na memória de curto prazo, que chega a durar alguns minutos, alguns traços são lembrados posteriormente. É o caso da leitura superficial de uma notícia; alguns detalhes gerais são mantidos e facilmente recuperados, enquanto os específicos são apagados. Lembra-se de eventos ocorridos imediatamente, mas perdem-se os pormenores.
Por fim, existe a memória de longo prazo, que pode durar anos e é facilmente acessada. Um exemplo é evocar imediatamente o nome e profissão de uma pessoa a quem não se vê. Um exemplo de memória de longo prazo não declarativa é a capacidade de dirigir um automóvel ou pedalar. Esta memória é estável, dificilmente pode ser perdida.
O esquecimento
Somos bombardeados por milhares de eventos a cada minuto. Estímulos visuais, táteis, acústicos, olfativos e de sabor são disparados em nossa direção com um simples passeio pela rua. O sistema nervoso elimina a maior parte destes arquivos e arquiva no inconsciente alguns deles. Por exemplo, quando sonhamos com pessoas desconhecidas, é possível que sejam rostos de transeuntes com que cruzamos e algo chamou nossa atenção, como o corte de cabelo ou o vestuário.
Até bem pouco tempo, acreditava-se que a memória era naturalmente reduzida com o avanço da idade. Havia o mito de que os neurônios (células cerebrais) não tinham capacidade de regeneração. Mas não é isto o que ocorre.
A idade afeta a memória, assim como o estresse. Mas o problema não está nas células, mas na rotina. Fazer sempre o mesmo ritual diário, vestir-se sempre da mesma forma, ver sempre as mesmas pessoas, cumprir os mesmos horários, acomoda a memória. Sem obstáculos e dificuldades a superar, as sinapses (ligações neuroquímicas entre os neurônios) se acomodam e podem levar à morte de células nervosas, antes que o tecido tenha tempo de se regenerar.
A lembrança
Portanto, é importante oferecer desafios à mente. Palavras cruzadas, charadas, desafios de lógica, resolução de enigmas, sempre alternados, obriga os neurônios a “malhar”. As células são estimuladas a estabelecer novas conexões e procurar informações retidas no decorrer dos anos. O nível de dificuldade deve aumentar progressivamente, da mesma forma que ocorre com o condicionamento físico.
Procurar atividades novas também ajuda a fortalecer a memória. Aprender um idioma, praticar um exercício em que o corpo precisa descobrir novas formas de equilíbrio, preparar um tema qualquer como se estivesse preparando uma aula para ensinar alguém, funcionam como post-its que colocam no sistema nervoso. O cérebro, especialmente o hipotálamo e a amídala, precisam encontrar novas formas de reter informações.
Quem não tem problemas degenerativos certamente perceberá melhoras na memória em poucos dias. Mas não é só isto. Em tempos de conexão “full time”, existe uma dispersão muito grande das informações. Navegando na internet, começamos pesquisando política, interessamo-nos por uma notícia sobre esporte, surge uma fofoca sobre alguém famoso, e no final não nos lembramos de nada do que foi lido.
O foco é muito importante, inclusive nos estudos. É muito difícil reter o aprendizado se estudarmos 15 minutos de Física, 30 minutos de Química e 20 minutos de Matemática. A melhor opção é reservar um dia para cada disciplina, lançando quando possível pontes com outras áreas do conhecimento, como estudar sobre o Romantismo no Brasil e as condições políticas do país na época em que o estilo literário floresceu. Estas conexões contextualizam o aprendizado, fortalecendo a memória.
Quem é destro, deve usar a mão esquerda para ensaboar-se durante o banho. Quem é canhoto, deve usar a mão direita para escovar os dentes. Estas situações novas, mesmo que apresentem dificuldades para realizar as atividades, promovem a ativação de circuitos sensoriais que normalmente não são utilizados. O mesmo acontece com um banho de olhos fechados.
Mudar rotas, conversar com desconhecidos, fazer compras em locais diferentes, experimentar novos sabores e aromas, viajar para lugares novos, entre outros, funcionam do mesmo jeito. Assistir a filmes e peças de teatro com amigos e discutir o enredo e a performance dos atores traz informações novas e obrigam o cérebro a “trabalhar de um jeito diferente”.
Durante o sono, especialmente no estágio dos sonhos, o aprendizado é fixado e o cérebro “libera espaço” para novos conhecimentos. O sono age como o desfragmentador do disco rígido. Quem tem uma carga pesada de estudos – um vestibulando, por exemplo – precisa incluir alguns cochilos durante o dia. As informações serão assimiladas com mais facilidade.