É só abrir qualquer lista do tipo “10 melhores empregos do mundo” que lá estão eles, sempre os mesmos: degustador de cerveja, chocolate, repórter de turismo, testador de videogames, etc. etc. E os comentários dos artigos também são os sempre os mesmos: “cara, esses tiraram a sorte grande”, “quem dera eu ter um emprego desses” ou ainda “daria TUDO pra trabalhar num lance desses, meu sonho”. Mas será que esses trabalhos são tão bacanas quanto as matérias pintam?
Obviamente trabalho é trabalho, impossível ser 100% gostoso, legal o tempo todo. Mas alguns empregos dos sonhos podem esconder por trás de um falso glamour e moleza algumas coisas chatinhas – e outras ruins de verdade, como doenças sérias. Conheça os contras de alguns desses empregos.
Degustador de cerveja – Esse é o considerado emprego supremo e encabeça todas as listas do gênero. Parece tão bom que tem gente que nem acredita que esse trabalho exista de verdade. Mas existe sim. Entre outras funções, um degustador de cervejas trabalha avaliando cor, espuma, textura, sabor etc. da bebida. E para isso, é preciso beber, claro. E várias vezes durante o expediente. E é aí que começa o que pode ser um problema. Nos últimos anos, apareceram pelo menos dois casos de processo contra grandes cervejarias brasileiras por parte de degustadores e suas famílias. Nos dois casos, os degustadores trabalharam por mais de 20 anos provando bebida, o que gerou quadro de alcoolismo e outros males, como cirrose hepática. Um dos trabalhadores, nesse tempo de serviço, teria degustado mais de 5 mil litros de cerveja. E ainda levava trabalho pra casa, já que a empresa oferecia como “agrado” uma garrafa por dia de expediente… O outro morreu um ano após ser desligado da empresa sem justa causa.
Talvez por esse motivo, cervejarias europeias vem adotando um novo sistema de contratação, no qual são fechados contratos de tempo menor com o degustador, de aproximadamente 6 meses, e eles tem buscado jovens experientes no consumo recreacional de cerveja. Espertos, né?
Degustador de doces ou fast food – Outro emprego que figura entre os favoritos dos sonhadores de grandes empregos. Mas uma coisa que muita gente não sabe é que nos dois casos – doces e fast food – muitas vezes é preciso experimentar o produto em suas diversas fases de produção. Ou seja, significa que é preciso provar o amargo antes do doce. No caso do chocolate, isso significa experimentar também massa de cacau, que é tão amarga que não dá pra engolir. O degustador precisa identificar se há no produto notas de queimado ou fumaça que interfiram no sabor final. E a prova de parte doce também tem seu revés: provar tantos chocolates pode causar ganho excessivo de peso e aumentar o risco de contrair outras doenças ligadas ao abuso de doces. Uma degustadora contou em entrevista à revista Exame que só no primeiro mês de trabalho engordou 5 quilos.
Mesmo problema aparece para quem gerencia redes de fast food e tem que provar grandes quantidades de hambúrgueres, batatas fritas, sorvete e outros alimentos do tipo. Em um processo que ficou famoso no Brasil nos últimos anos, um ex-gerente de uma famosa empresa de fast food ganhou uma grande indenização por ter engordado mais de 30 quilos nos 10 anos em que exerceu a função. Além do excesso de peso, o funcionário – que era submetido a uma dura rotina de trabalho -, contraiu colesterol alto, hipertensão e entrou em depressão.
Repórter de turismo freelancer – Ah, viajar o mundo, conhecer diferentes hotéis, comer nos melhores restaurantes… e ainda ser pago por isso! Quem não quer?
Parece mesmo ótimo, a gente já ficou tentada, mas quem trabalha na área diz que é bacana, mas também tem seu lado ruim. Primeiro porque não se trata de uma viagem de passeio, e você não consegue esquecer isso nem um segundo. Se você vai escrever sobre uma cidade turística, por exemplo, provavelmente vai precisar dormir em um hotel por noite para experimentar várias opções (imagine isso em uma viagem de quinze dias!), comer sem repetir o restaurante uma única vez para avaliar quais são os melhores, anotar todos os preços, condições, serviços… já não parece tão divertido, né?
E quem escolhe trabalhar na área também não pode ser muito apegado à rotina, casa, familiares ou ao futebol das quartas, já que vai passar muito tempo fora. E na maior parte do tempo, sozinho…
Quality assurance de games – Ou em bom português, testador de videogames. Parece brincadeira, mas não é não. E o trabalho não é mole, não é só jogar a esmo tentando passar todas as fases. É preciso jogar com olhar super clínico, estando atento e identificando todos os possíveis erros de um jogo.
Além disso, é preciso seguir um roteiro, preencher documentos e tabelas, identificando todas as possíveis falhas e pensar em soluções e melhorias. Sem contar, é claro, que você não vai jogar só os jogos que considera bacana, vai ter que testar também os da Barbie.
Consultor de estilo – Quem é ligado em moda e adora gastar com roupas pensa nesse de primeira. Mas passar o dia no shopping gastando está longe de ser a realidade diária de quem trabalha com consultoria de estilo. Isso porque o processo envolve horas de pesquisa no computador, horas de “bateção” de perna conhecendo lojas, marcas, preços e estilistas somadas a horas de pesquisa sobre o estilo do cliente. Sem falar que você nunca sabe como vai ser o dia de amanhã: você pode atender um cliente às 5 da matina ou então não ter ninguém pra prestar consultoria e ficar só na parte do computador e gastação de sola, sem ter alguém te pagando por isso. É mole?
Blogueiro freelancer – Desmistificar a própria profissão, quem diria? Essa nem a gente esperava… Escrever para internet – ainda mais quando se ama internet e você presenciou o nascimento dessa amiguinha e ela sempre fez parte da sua vida – é uma coisa muito legal mesmo. De verdade. E quando o povo descobre que você trabalha com isso, nossa, chovem pedidos de indicação, macetes pra começar, todo mundo se empolga! Mas além de muito legal é um trabalho que também tem seu lado de… trabalho. É diferente de passar o dia sussa no Facebook. São horas de pesquisa de material, leitura de artigos, revistas digitais (em diferentes idiomas), criação de pautas… às vezes você fica um tempão pensando em um assunto incrível para escrever e seu chefe diz: legal mas não, agora vamos focar na epidemia da dengue!
E tem os prazos de entrega (muitas vezes curtíssimos), os textos longos (não é só escrever qualquer coisinha e boa), expediente sem hora para começar ou terminar, computador que dá pau bem na hora em que você tá terminando aquele texto colosso, várias horas digitando e outras tantas colocando os dedinhos de molho em água morna. E a remuneração não é alta, então você tem que amar o que faz. Como em quase tudo na vida.
Aí você se pergunta: mas pô, não existe um único emprego que seja a moleza que aparenta? Calma lá, que a gente ainda não falou de política…