É um problema bastante comum. 50% da população adulta, no mundo, sofre com a halitose, o nome técnico do mau hálito (no Brasil, o percentual deve ser maior, em função das más condições de saúde bucal da população). Um fato curioso é que a grande maioria não percebe o mau odor e quase sempre precisam de um amigo para avisar: “Ei, você está com mau hálito”, já que a maioria dos colegas (e mesmo alguns amigos e parentes) se limita a fazer piadas pelas costas sobre o “bafo de onça”.
Um lembrete para os amigos: nunca tratem desta questão em público (ou, ao menos, quando outra pessoa pode escutar a conversa). Levem a pessoa em questão para um ambiente isolado e falem francamente. Isto pode não funcionar com algumas pessoas muito suscetíveis:
neste caso, o processo precisa ser indireto: oferecer chicletes e balas, dizer que balas de canela são excelentes para eliminar o mau hálito, etc. Ninguém quer perder uma amizade, apenas torná-la mais agradável.
Esta incapacidade de percepção ocorre porque o cérebro se familiariza com o mau hálito. Maus odores são sinais de “algo errado nas vizinhanças” e a evolução nos fez prestar muita atenção para eles. O hálito, entretanto, é algo muito pessoal. Como o odor está sempre (ou quase sempre) presente, o cérebro deixa de emitir alarmes.
O mau hálito não é apenas um inconveniente nas rodinhas de amigos. De acordo com a intensidade, o problema pode prejudicar a vida amorosa e até comprometer um bom profissional em uma entrevista de emprego. Felizmente, algumas mudanças na rotina e nas higienizações bucais quase sempre acabam com a halitose.
Em muitos casos, o mau hálito é decorrente das más condições de higiene bucal: escovação deficiente e não uso do enxaguante e do fio dental. A negligência (ou a falta de acesso) no tratamento odontológico regular também causa a halitose. Más condições de saúde (em especial problemas do sistema digestório), alguns alimentos (como o atum e os tacos) e condimentos com que são preparados (alho, cebola, etc.) acentuam o problema.
O tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas também provocam mau hálito. Quando estes hábitos se tornam crônicos, o odor se torna ainda pior. Outro problema é “pular” refeições, especialmente o café da manhã: a fome está presente, o organismo se prepara para digeri-lo e os sucos da digestão começam a demonstrar “que estão por lá”.
Em muitos casos, a própria reação da saliva a certos alimentos considerados neutros é a origem do mau hálito. A maioria das bactérias que provocam mau hálito coloniza a boca, bochechas, gengivas e língua. São os chamados compostos sulfurados voláteis. A “residência preferencial” destes microrganismos é a parte posterior da boca – a mais próxima dos interlocutores.
Outras causas do mau hálito
As cáries e a formação de tártaro, o uso de próteses móveis (dentaduras e pontes), problemas na boca, garganta e nariz (infecções nos seios paranasais e maxilares, tonsilites, etc.) e enfermidades sistêmicas, como o diabetes, infecções pulmonares, insuficiência renal ou hepática e outras disfunções podem também responder pelo mau hálito.
A condição quase sempre é neutralizada com o uso de creme dental antibacteriano com flúor, fio dental, enxaguante bucal e escovador de língua. A escova de dentes deve ser trocada a cada três meses, ou sempre que as cerdas apresentarem desgaste.
Caso o mau hálito seja determinado por problemas internos, apenas um médico poderá identificar a origem.
O autodiagnóstico do mau hálito
Nem sempre é necessário esperar o toque de um amigo. É possível atentar para alguns detalhes, a começar pela língua. De acordo com dentistas, uma língua saudável é rosada e brilhante. A aparência esbranquiçada e escamosa indica a presença do companheiro indesejado, o mau hálito.
Tentar cheirar o próprio hálito com a mão em concha não tem nenhum efeito prático. Se uma pessoa a 30 centímetros de distância consegue senti-lo, é porque ele forma um jato à frente da nossa boca e mesmo assim não o sentimos. Uma dica é lamber as costas da mão, deixar secar por alguns segundos e então sentir o cheiro. Mas esta técnica não funciona sempre.
O mau hálito não está relacionado à má higienização dentária, mas da boca. As bactérias, conforme já foi dito, se concentram na língua (que se move de acordo com a emissão de nossas palavras; transforma-se em um “chicote” lançando substâncias sulfurosas para todos os lados).
Corrigindo o problema
Além da escovação da língua, é necessário mantê-la hidratada, bebendo muita água durante o dia. Com a boca ressecada, as colônias se multiplicam, já que elas são anaeróbias e não suportam oxigênio, elemento que compõe a água. Mascar chicletes também garante a umidade da boca, mas é preciso escolher marcas se açúcar, para que não ocorram problemas ainda mais graves.
O mau hálito é uma condição pessoal. Enquanto algumas pessoas exalam odores terríveis depois de comer um prato temperado com cebola, com outras o problema é o curry ou os peixes. Bebidas ácidas, como cerveja, refrigerantes e café, também potencializam o problema.
Doces e chocolates também são um perigo, pois o açúcar facilita a reprodução das bactérias.
Mas, se existe o que atrapalha, também existe o que ajuda. O chá verde é um poderoso antibactericida, excelente para neutralizar os odores. O mesmo ocorre com a canela, que é rica em diversos óleos essenciais que matam parte das bactérias orais.
Algumas frutas e legumes (maçã, batata frita, aipo, etc.) apresentam dois benefícios: a textura firme ajuda a afastar as bactérias e a mastigação mais prolongada mata os microrganismos. Frutas ricas em vitamina C (laranja, limão, tangerina, etc.) eliminam rapidamente estes germes.
Se o problema não estiver na boca, ele pode indicar um problema mais sério. Isto acontece em apenas 5% dos casos, de acordo com os especialistas, mas é um ótimo indicativo para consultar um médico. Mesmo com o diagnóstico de uma doença sistêmica, o tratamento e os resultados sempre são mais rápidos e concretos no início da enfermidade.