Apesar das muitas controvérsias entre os cientistas – alguns afirmam que a ação humana, especialmente com a produção industrial e a queima de combustíveis fósseis, está elevando a temperatura do planeta, enquanto outros defendem que a Terra passa por momentos de aumento do calor, mas tem capacidade de se regenerar – o certo é que a temperatura está mais alta e isto coloca em risco paisagens, espécies animais e vegetais. Com a elevação do nível do mar, por exemplo, muitos lugares do mundo podem desaparecer. Mas este não é o único problema a ser enfrentado.
O aumento das áreas de pastagem e lavouras, para fazer frente ao aumento do consumo de alimentos e o desenvolvimento urbano desordenado (que degrada, por exemplo, vastas regiões com a derrubada de matas e o descarte de esgoto não tratado) são outras questões que estão na pauta dos ambientalistas. Se o aquecimento global é apenas uma teoria, com defensores e detratores, o abuso do planeta e de seus recursos é um fato indiscutível; se isto não for revertido, perderemos várias paisagens.
Em menos de cem anos, sem a implantação de políticas sustentáveis, muitos lugares do mundo podem desaparecer ou sofrer alterações drásticas que causarão um efeito dominó: o desmatamento da Amazônia, por exemplo, pode provocar uma transformação na vegetação: em lugar da floresta fechada, surgiria uma mata de cerrado cercada por savanas. Isto provocaria a desertificação do sertão do Nordeste e mudaria a paisagem do litoral nordestino e até do mar do Caribe.
Os problemas podem ocorrer no mundo inteiro. Vejamos.
O mar Morto
Na verdade, é um lago salgado alimentado pelo rio Jordão, o mesmo que, de acordo com a Bíblia, era usado por João Batista para converter os judeus. Praticamente não há vida no mar Morto, mas suas águas são conhecidas pelas propriedades terapêuticas e cosméticas e pela forte concentração salina: banhistas simplesmente não conseguem mergulhar, ficam sempre boiando.
Nas últimas quatro décadas, o volume de água decresceu em 30% e o nível do mar Morto caiu incríveis 25 metros. Os “vilões” da história são os países banhados pelo rio Jordão (Israel e Jordânia), que usam suas águas para uso humano e industrial. Estima-se que, em menos de 50 anos, este mar histórico seque totalmente.
Glaciares canadenses
A geleira de Athabasca é um dos seis braços principais do campo de gelo Colúmbia, no norte do Canadá. Ela se estende por seis mil metros de comprimento, cobre uma área de seis quilômetros quadrados e tem espessura entre 90 e 300 metros. É um dos pontos turísticos do país e recebe milhares de turistas anualmente (é o glaciar mais visitado da América do Norte), o que garante o aquecimento da economia regional.
Nos últimos 125 anos, no entanto, Athabasca recuou 1.500 metros, perdendo metade do seu volume. Atualmente, o ritmo de derretimento é de três metros por ano, bastante pronunciado. O fato prejudica especialmente a fauna local.
As estepes da Mongólia
É um complexo que engloba o deserto de Góbi. Por lá, cavalgaram os guerreiros de Gêngis Khan (o “flagelo dos deuses”, cognome dado quando o líder chegou à Europa) e diversos outros mongóis que fizeram o horror para os chineses. Cercadas por montanhas e muito gelos, as estepes são responsáveis por a Mongólia ser o país menos povoado do planeta.
O aquecimento global põe em risco o gelo das estepes, com os consequentes prejuízos para fauna e flora. No entanto, a exploração mineral e a atividade pastoril desenfreada (são as principais riquezas econômicas do país) também trazem danos. Nos últimos dez anos, o número de espécies de plantas forrageiras decaiu em 33%. A população de caprinos decresceu em 35%.
O paraíso de Darwin
Em uma viagem de circunavegação do planeta, o naturalista inglês Charles Darwin desenvolveu sua teoria da evolução das espécies ao aportar nas ilhas Galápagos (Equador) e verificar que os iguanas tinham hábitos terrestres, arborícolas, marinhos e fluviais – elas se adaptaram às diversas condições do meio ambiente.
No entanto, se as espécies nativas seguiram a evolução (o que demandou alguns milhares de anos), estão sucumbindo ao turismo sem controle (são mais de 150 mil visitantes por ano). Trabalhadores locais introduziram bodes e porcos, ratos vieram “de carona” nos porões dos navios, formigas lava-pés chegaram às ilhas em aviões (só há um aeroporto em Galápagos). Os “estrangeiros” destruíram boa parte da flora local. As formigas e ratos desenvolveram predileção por filhotes de tartarugas marinhas. Uma mosca parasita chegou ao arquipélago e está colocando em risco a população de pintassilgos e mosquitos, além de se transformar em vetor de doenças.
Em 2007, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) classificou Galápagos como patrimônio na humanidade em perigo. Cientistas afirmam que o arquipélago tem menos de dez anos para se recuperar. Entre as medidas sugeridas, está a limitação do número de turistas, que dificilmente será adotada.
“Insônia do mundo”
Enquanto pecuaristas brasileiros e venezuelanos desmatam “apenas alguns metros” para aumentar as pastagens e traficantes de drogas abrem clareiras para servir como aeroportos improvisados, a Amazônia sofre também com o biopirataria: “cientistas” entram na região para estudar relevo, clima, fauna e flora, mas o objetivo real é contrabandear espécies: o brasileiríssimo cupuaçu foi patenteado pela Asahi Foods, uma empresa japonesa.
Na porção equatoriana da floresta, lar dos Huaorani (uma das tribos indígenas mais isoladas), o problema são os muitos recursos minerais. A região é rica em petróleo, o que atraiu o interesse de várias empresas. Resultado: prejuízo para os índios e para as muitas formas de vida.
As rãs
Os zoólogos estão longe de classificar todas as espécies animais e vegetais que colonizam o planeta, mas um fato está mais do que provado: as florestas quentes e úmidas da América Central e do Sul são o berço de um sem número de anfíbios. Algumas rãs, cecílias e salamandras chegam a usar o “copinho” de bromélias para pôr seus ovos (os filhotes nascem no alto das árvores, nadam nestas piscinas e só tocam o solo quando são adultos).
O aquecimento global, no entanto, coloca em risco a existência destes animais (responsáveis, entre outras coisas, pelo controle da população de insetos, inclusive os que são vetores da malária e da dengue). Estima-se que quase 200 espécies de anfíbios foram extintos em função do aquecimento e outras duas mil estão em situação de ameaça (um grau abaixo do perigo de extinção, de acordo com a classificação internacional).
O responsável é um fungo adaptado a altas temperaturas, que preenche os poros das rãs e impede a umidificação da pele e a respiração (que e cutânea), ampliando exponencialmente as mortes. Os anfíbios também são importantes na polinização das plantas e sua extinção pode provocar alterações drásticas nas florestas.
As ilhas
Todas as regiões costeiras estão ameaçadas pelo avanço do nível do mar. No Brasil, calcula-se que a temperatura das águas tenha subido 0,75°C. Parece pouco, mas é o suficiente para causar problemas graves em Saquarema (RJ). Praias como o Arpoador também enfrentam problemas.
As regiões mais prejudicadas, no entanto, são as pequenas ilhas, como as ilhas planas dos oceanos Índico e Pacífico. Ilhas Seychelles, Ilhas Maldivas, Samoa, Fiji, Kiribati, Nova Caledônia, Niue, Pitcairn, Ilhas Salomão, Taiti, Tokelau, Tuvalu, Vanuatu, Tonga, Ilhas Wallis e Futuna estão na lista de lugares que podem desaparecer em menos de cem anos. Todas são regiões com menos de 50 metros acima do nível do mar e estão reunidas na Associação dos Pequenos Países Insulares, que exige, entre outras medidas, o cumprimento do Protocolo de Kyoto, um dos primeiros acordos para a defesa do meio ambiente planetário.
Os complexos de corais também correm risco. A Grande Barreira de Corais da Austrália e as colônias destes animais no mar do Caribe se ressentem do aumento da temperatura. Na costa sul da Bahia, parte dos corais já perdeu a cor, o que significa que eles são apenas esqueletos de animais mortos.