Livros que mudaram o mundo

Desde a “Epopeia de Gilgamesh”, tido como o livro mais antigo do mundo (escrito pelos sumérios por volta do século VII a.C.), livros têm sido escritos para transmitir conhecimento, descobertas e inspiração. Alguns deles produziram um impacto tão forte que provocaram transformações: são livros que mudaram o mundo.

Escritos em papiros, paredes e até insculpidos em rochas, os livros acompanham a humanidade desde a invenção da escrita (talvez antes, na descrição das ações cotidianas, como caça e combate, registradas nas pinturas em cavernas). Com a invenção da escrita (no quarto milênio antes de Cristo, pelos sumérios), a tarefa tornou-se mais fácil e o homem passou a escrever sobre tudo: religião, costumes, política, arte, ciência.

O alfabeto (criado pelos fenícios) e, muito depois, a imprensa (a prensa de tipos móveis foi inventada no século XVI, na Europa) tornaram os livros ainda mais populares (antes da imprensa, cada exemplar precisava ser copiado manualmente, o que tornava o processo vagaroso e muito caro).

Os livros aqui relacionados não pretendem ser uma lista completa de todos os gêneros e assuntos abordados pelos filósofos, religiosos, cientistas e políticos nos últimos milênios. São uma mostra da criação literária humana e a lista pode ser ampliada com os livros mais importantes de cada um – que, se não mudaram o mundo, podem ter mudado a rota de uma vida.

Homero

É um personagem envolto em controvérsias. Sua própria existência não pode ser comprovada. O historiador grego Heródoto, no entanto, registrou que ele nasceu em Esmirna, na atual Turquia, por volta de 850 a.C. Seja como for, o escritor (ou grupo de escritores) foi eternizado com dois poemas épicos: “A Ilíada”, que narra as peripécias da Guerra de Troia (Ílion, em grego) e “A Odisseia”, que versa sobre os incidentes ocorridos com um dos heróis desta guerra, Ulisses (Odisseus, em grego) e seus homens no retorno à sua terra natal.

Os dois poemas estão recheados de intrigas entre deuses e homens, estratégias bélicas, conflitos psicológicos e interpessoais. É provável que eles tenham sido, por muito tempo, transmitidos oralmente, até que tenham sido registrados. Importa salientar, no entanto, que a data mais provável para o surgimento da “Ilíada” são os últimos anos do século IX a.C., o que confere ao poema o título de livro mais antigo do Ocidente.

Platão

Foi discípulo do filósofo grego Sócrates, que não deixou nada escrito sobre as suas ideias sobre política, cidadania e educação. Platão encarregou-se de eternizar o pensamento do mestre, registrando em forma de diálogos os principais ensinamentos socráticos.
“A República”, escrita no século IV a.C., transformou as práticas políticas gregas. O livro, em dez volumes, narra as experiências de um país imaginário, Calípolis (Cidade Bela). O tema central é a justiça e ainda hoje o texto pode ser classificado como atualidade.

A Bíblia

É o livro mais vendido do mundo, traduzido para mais de dois mil idiomas e dialetos. Narra a saga do povo judeu até sua instalação na Palestina, os feitos dos juízes e reis, os períodos de cativeiro na Mesopotâmia e as profecias reveladas por Deus. Acredita-se que tenha sido escrita entre 1400 e 450 a.C. (alguns estudiosos entendem que ela seja bem mais recente).

No Novo Testamento, seguido apenas pelas religiões cristãs, está registrada a trajetória de Jesus e de seus primeiros seguidores.

Além dos evangelhos, estão reunidas algumas cartas de apóstolos como São Paulo e São Pedro, dando instruções às primeiras comunidades.

Seja como mitologia, seja como texto sagrado, o que depende das convicções pessoais, a Bíblia (que significa apenas “livro”, em grego) é leitura obrigatória, inclusive porque vivemos em uma sociedade com bases judaico-cristãs.

Maomé e a revelação

O Corão foi trazido, no século VII, ao profeta Maomé pelo anjo Gabriel (o mesmo que revelou a Maria sobre a sua gravidez divina). Maomé era analfabeto e por isto pedia a jovens letrados de sua comitiva que transcrevessem as imagens sobre as disposições de Alá em relação aos homens.

O livro nunca foi compilado até a morte de Maomé, quando seus primeiros discípulos deram a forma de livro aos textos redigidos. A leitura é agradável e não se resume apenas aos muçulmanos; todos podem aproveitar para refletir sobre a vida espiritual.

Uma maçã que mudou o mundo

Diz a lenda que, sentado sobre uma macieira, sir Isaac Newton, golpeado por uma fruta madura, concebeu a teoria da gravitação universal (a regra que diz que a Terra e outros corpos celestes atraem objetos próximos).

Lendas à parte, em “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, publicado em 1687, Newton desenvolveu as principais leis da mecânica, com os princípios da inércia, da dinâmica e da ação e reação. Os “Princípios” são uma das obras mais influentes na história da ciência e ainda hoje são a básica da mecânica clássica.

Nasce o capitalismo

Em “A Riqueza das Nações”, Adam Smith analisa o funcionamento das sociedades mercantis, os problemas associados à divisão social do trabalho, ao valor das mercadorias, ao acúmulo de capital e à distribuição de renda. É um tratado sobre o capitalismo que permanece atual.
Lançado no mesmo ano da declaração de independência dos EUA (1776), muitos autores consideram o livro como uma defesa irrestrita ao liberalismo e ao individualismo. Smith é incensado e odiado pelos leitores justamente em função disto. Ler os cinco volumes de “A Riqueza” não é uma tarefa fácil, mas fundamental, especialmente para economistas e sociólogos.

Surgem as democracias

O inglês Thomas Paine influenciou a independência americana com seu “Senso Comum” e teve participação ativa na Revolução Francesa (1789) a ponto de, mesmo não falando francês, ter sido eleito para a Convenção Nacional, forma de regime liderada pelos jacobinos (representantes da pequena e média burguesia).

Paine escreveu “Os Direitos do Homem” (1791), um guia das ideias iluministas. As propostas formuladas por este agitador político permanecem na pauta contemporânea, já que ainda falta muito para que os direitos humanos se transformem em uma realidade universal.

Divergências de opinião

No século XIX, Karl Marx surgiu na cena política justamente para se contrapor ao liberalismo – e também às diversas formas de socialismo utópico em voga na Europa da época. Em 1848, ele e seu colega (e financiador) Friedrich Engels publicaram o “Manifesto Comunista”, com as bases do que os autores consideravam como o capítulo final da história, o encerramento das lutas de classe.

Marx produziu diversas outras obras de filosofia e economia. A mais importante talvez seja “O Capital” (em quatro volumes, o primeiro deles lançado em 1867), em que ele desenvolve sua crítica ao capitalismo e estabelece as bases de uma sociedade comunista. “Marxismo”, com o tempo, tornou-se uma doutrina política.

Um naturalista

O século XIX é um marco no pensamento. Outra obra fundamental é “A Origem das Espécies”, em que o naturalista inglês Charles Darwin desenvolve a sua teoria da evolução, segundo a qual os indivíduos mais aptos conseguem sobreviver e transmitem suas características para os descendentes.

Até hoje, religiosos fundamentalistas combatem as ideias de Darwin, mas suas teses embasam todos os conhecimentos sobre genéticos, que começaram a surgir depois da publicação da “Origem”, quando cientistas descobriram os cromossomos e delinearam a hereditariedade biológica.

A relação pode ser ampliada ao infinito. São milhões de livros publicados, especialmente nos últimos séculos. O conhecimento humano se ampliou bastante e as ideias não param de se multiplicar. Há também os romances, contos e crônicas, que cativam um sem número de leitores: cada um tem os seus preferidos e cada um pode ampliar esta lista. Em tempo: todos os livros aqui citados podem ser lidos em netbooks e tablets.