Lilith é uma deusa (ou demônio) da Mesopotâmia. Seu símbolo era a Lua, porque, assim como o satélite, apresentava fases benéficas e nocivas. No Antigo Testamento, ela é citada uma única vez, no Livro de Isaías: “as feras do deserto encontrarão com hienas, o sátiro encontrará seu companheiro e Lilith achará lugar de repouso”.
No entanto, a tradição hebraica insiste em relatá-la como a primeira mulher de Adão, criada com o mesmo material, ao contrário de Eva, que teria sido feita de uma costela do futuro marido.
A criação do mito
No folclore medieval judeu, surgiu um Alfabeto de Ben-Sira, escrito entre os anos 600 e 1000; nele, o mito de Lilith ganha contornos mais expressivos. Lilith recusava-se a ficar sempre por baixo nas relações sexuais e, por isto, abandonou o companheiro. Deus, então, teria criado Eva, e Adão teria dito (conforme está no Livro da Gênese): “Esta, sim, é carne da minha carne, osso dos meus ossos”, numa referência à costela.
Muitos entendem que Eva representa a mulher submissa, enquanto Lilith teria sido a primeira feminista da história. No manuscrito, Ben-Sira conta a Nabucodonosor (rei da Babilônia do século VI a.C., considerado o mais poderoso monarca da Mesopotâmia): “Não é bom que o homem esteja só. E criou para ele uma companheira, do mesmo barro de que fez Adão. Trazida à vida, o casal começou imediatamente a discutir. Lilith disse: Por que deitar-me sempre sobre teu corpo? Por que abrir-me debaixo de ti? Por que ser dominada? Fui feita do mesmo pó, sou igual a ti”.
Adão teria respondido que não iria se deitar por baixo, por ser ele o superior, e ela a inferior. Quando Lilith ouviu isto, proclamou o nome de Deus (o Decálogo proíbe usar o nome de Deus em vão) e fugiu voando. Deus enviou três anjos para fazê-la voltar, mas ela recusou, mesmo sob a ameaça de ser afogada. Pela teimosia, Deus condenou-a a perder cem filhos por dia, motivo por que a superstição judaica orienta que o berço dos recém-nascidos seja protegido da influência de Lilith com amuletos desses três anjos.
A tentação
Lilith foi expulsa do Éden e casou-se com Samael (um dos sete anjos que estão diante de Deus, segundo a Cabala, que teria vindo à Terra para conhecer os hábitos humanos). A lenda diz que Lilith seduziu Adão e Samael copulou com Eva, gerando Caim. Esta versão contraria o texto da Gênese, quando este afirma que uma serpente tentou Eva, oferecendo a ela o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, que estava no centro do Éden e Deus havia interditado o acesso do casal. Eva teria comido o fruto e oferecido ao seu marido: este seria o pecado original, motivo que determinou, entre outros castigos, a mortalidade humana (“és pó e a pó tornarás”), a necessidade de trabalho (“comerás o fruto do suor do teu rosto”) e até as dores do parto (“em dor parirás teus filhos”).
O duplo adultério seria o motivo da expulsão do primeiro casal do Jardim do Éden. Desde então, Lilith persegue os adúlteros, crianças e recém-casados, porque nunca aceitou a união de Adão e Eva.
A Lilith atual
Vários grupos modernos de magia veem em Lilith a representação da busca pela autoafirmação. Ela é a mulher que fascina os homens por sua independência e seus poderes de sedução: os homens a temem, mas são atraídos por ela.