Especialmente na infância, as infecções não dão trégua: é uma sequência interminável de viroses. No inverno e nos dias em que a temperatura sofre variações constantes, os resfriados, gripes, laringites, etc. se tornam cada vez mais frequentes. As infecções de olhos e de pele parecem fazer parte do calendário, bem como as diarreias e outras complicações gastrointestinais. Boa parte destas indisposições pode ser prevenida com o simples ato de lavar as mãos.
Lavar as mãos com água corrente e sabão previne contra espinhas, erupções na pele, doenças da pele, dor de garganta, infecções no ouvido, hepatite B, meningite, gripe, resfriado, infecções estomacais e respiratórias e diarreia. Doenças como diarreia sofrem redução de 40% e as infecções respiratórias de 25%, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Isto ocorre porque vivemos envolvidos por uma multidão incontável de microrganismos. Alguns são benéficos, outros são neutros, mas parte deles provoca infecções, ao entrar em contato com a corrente sanguínea ou simplesmente ao colonizar a nossa pele. Lavar as mãos evita que eles permaneçam em contato conosco e multipliquem-se a ponto de causar danos.
A mão suja, ao tocar a boca, nariz ou orelhas, transmite os germes para estas “portas de entrada” do organismo. E não é preciso que ela esteja manchada ou repleta de grãos de terra ou areia: a maior parte da sujeira é invisível a olhos nus.
Na falta de uma pia nas proximidades, o álcool em gel (desde que a concentração do produto seja superior a 70%) realiza a mesma assepsia proporcionada pela água e sabão e vem com um bônus: evita o ressecamento da pele. Se houver sujidade aparente, no entanto, é melhor procurar um toalete: nos restos de sujeira fixados na pele, muitas colônias de microrganismos continuam se multiplicando e em poucos minutos haverá milhões deles.
Os sabonetes com ação bactericida, também chamados antissépticos, oferecem outra vantagem: eles têm ação residual. Isto significa que o combate aos germes permanece ativo por algum tempo após a lavagem das mãos.
É claro, que lavar as mãos não é uma panaceia, um remédio que traz a cura para todos os males. Existem muitas outras formas de contágio, mas a higiene pessoal reduz diversos problemas causados por muitos vírus e bactérias que vivem no mesmo ambiente que nós (o que inclui o ar).
Fundamental, mas pouco frequente
Mesmo com tantos benefícios, no entanto, esta não é uma prática comum. Pesquisa na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) detectou que, mesmo entre profissionais de saúde, a lavagem frequente das mãos é rara: apenas um terço dos hospitais apresenta adesão acima de 70% (percentual considerado ideal). Em 130 casas de saúde, a adesão ficou entre 40% e 70%.
De acordo com a mesma pesquisa, a maioria dos hospitais é equipada com estrutura para a limpeza das mãos (como pias com sabonete e toalhas descartáveis) e 99% deles recebe fornecimento contínuo de água tratada. O álcool em gel está disponível em pouco mais da metade das casas de saúde.
O levantamento encontrou um motivo: 68% não preveem em seus orçamentos nenhuma verba para treinamento e monitoramento da higienização dos profissionais. Falta, portanto, qualificação para que a prática se universalize, ao menos entre os que cuidam de pacientes acamados.
Mudança de hábitos
Médicos são unânimes em afirmar que boa parte dos germes que trazem prejuízo à nossa saúde é levada para casa por nós mesmos. Hábitos simples, como não tirar os sapatos ao chegar da escola ou do trabalho e não lavar as mãos antes das refeições (o que inclui os pequenos lanches) é um convite para os microrganismos.
A lavagem também é obrigatória antes de preparar alimentos, segurar bebês no colo, tratar de ferimentos, auxiliar doentes, manusear lentes de contato e depois de tocar em dinheiro, usar telefones públicos (ou emprestados), assoar, espirrar ou tossir, manipular alimentos in natura, trocar fraldas, recolher fezes de animais, mexer no lixo, praticar esportes, sair de um local lotado e usar o banheiro.
Lavar as mãos, durante milênios, foi um hábito mantido apenas para retirar a sujeira. Apenas no século XIX foi descoberto todo um universo de seres infinitamente pequenos, com o surgimento do microscópio. Décadas depois, descobriu-se que parte deles era nociva à nossa saúde e bem-estar. Os germes estão presentes nas mãos e, ao manipular e comer os alimentos, eles são ingeridos e podem provocar muitos males: garganta e aparelho digestório são as primeiras “vítimas”.
Pisar em um tapete (ou mesmo no piso frio) com um sapato sujo, vindo da rua, permite uma sobrevida de algumas horas para muitos deles, mesmo que o ambiente não seja adequado. Se for, as colônias de vírus, fungos e bactérias irão se multiplicar com facilidade.
Como se vê, a higiene é fundamental. Portanto, além de incluir este hábito saudável, convém seguir outras regras: por exemplo, nunca comer em ambientes de higiene duvidosa (nem alimentos de origem não sabida) e, sempre que possível, evitar aglomerações, especialmente nos dias frios (no transporte público, as pessoas costumam fechar todas as janelas para se manter aquecidas).
Todos já sabem, mas não custa nada repetir: ao lavar as mãos, é preciso ter um cuidado especial com as palmas, os dedos em todos os seus lados, a parte interna das unhas e os punhos. Depois da higiene, chega a vez de enxaguar até que toda espuma seja retirada (para proteger também o meio ambiente, vale a pena abrir a torneira só para umidificar as mãos e na hora do enxágue; economizar água ajuda a manter a saúde do planeta). Em seguida, é necessário secar muito bem, com toalha limpa ou papel-toalha descartável. A permanência da umidade também contribui para o desenvolvimento de algumas colônias de fungos, bactérias e vírus.
Pode parecer uma ação simples, quase desnecessária, para é tão importante que a Organização das Nações Unidas estabeleceu o dia Cinco de Maio como “Dia Mundial da Higienização das Mãos”. A ONU estimula escolas e centros de convivência a desenvolver atividades com crianças e jovens nesta data, para conscientizá-los da importância do gesto.