O Krav Maga surgiu na década de 1940, ainda entre os israelenses, antes mesmo que o país conquistasse sua independência (que ocorreu em 1948). O termo significa “luta de contato” e envolve torções, defesa contra armas, agarramentos, golpes e diversas técnicas de luta.
Nasceu das brigas de rua, na antiga Tchecoslováquia – precisamente em Bratislava, capital da Eslováquia, durante o período antissemita que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. As habilidades do Krav Maga foram desenvolvidas por Imi Lichtenfeld, como uma forma de defender o bairro judeu da cidade contra os muitos ataques de grupos nazistas, estimulados pelo governo fortemente influenciado pela Alemanha de Hitler.
Lichtenfeld imigrou para Israel logo depois do conflito e passou a treinar combates corpo a corpo com as primeiras forças de defesa do país. Ele criou a IKMA – Israeli Krav Maga Association – e continuou criando técnicas para defesa civil e militar.
Atualmente, o Shabak (agência de segurança interna) e o Mossad (o serviço secreto, responsável pela atuação no exterior) utilizam as técnicas do Krav Maga em treinamentos, além de outras organizações de repressão, como o FBI (Federal Bureau of Investigation), o Corpo de Fuzileiros Navais e a Swat (Special Weapons and Tatics), ambos subordinados ao governo dos EUA, que empregam as técnicas desde 1981, quando mestres de Krav Maga foram demonstrar a luta em centros israelenses no país e atraíram a atenção das autoridades policiais americanas. Hoje, organizações militares do mundo inteiro incluem o Krav Maga na formação de seu pessoal.
O Krav Maga não é considerado um esporte, apenas um conjunto de técnicas de defesa e ataque preventivo em situações de risco. Desta forma, uma vez que não tem regras, não existem campeonatos nem competições oficiais, ao contrário, por exemplo, do jiu-jitsu e do MMA (Martial Mixed Arts). Mesmo assim, é reconhecido internacionalmente, e no Brasil, é representado pela Federação Sul-Americana de Krav Maga, que, entre outras atribuições, cadastra as academias que oferecem o treinamento.
No Brasil, o Krav Maga foi introduzido por Kobi Lichtenstein em 1980. Em 2010, a Federação realizou a maior aula da técnica, durante os eventos de comemoração dos cem anos de Lichtenfeld. Compareceram mais de 2.200 pessoas na praia de Copacabana e o recorde está registrado no Guiness Book of Records. Aqui, entre outras instituições, a Marinha e o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais, famoso pelo filme “Tropa de Elite”) empregam as técnicas no treinamento de seus quadros.
Os princípios da luta
O Krav Maga se difundiu pelo mundo como a mais poderosa forma de defesa pessoal. O objetivo é simples: abater o inimigo, sem considerações éticas: se ele atacou (inclusive com armas brancas ou de fogo), deve ser necessariamente abatido.
Como já foi dito, não há regras para a prática. Homens e mulheres recebem o mesmo treinamento. Não há uniformes, mas algumas organizações identificam o progresso dos praticantes com faixas semelhantes às utilizadas no judô (no Brasil: branca, amarela, laranja, verde, azul,marrom, preta – do primeiro ao quinto dan, vermelho-branca – do sexto ao nono dan – e vermelha – o décimo dan). O Krav Maga é empregado para atacar preventivamente em uma situação de perigo ou contra-atacar assim que houver oportunidade.
Os golpes são centrados em partes vulneráveis do corpo: olhos, mandíbula, garganta, joelhos, genitais, etc. É importante neutralizar o oponente o mais rápido possível, em um contra-ataque contínuo – nos combates militares, o Krav Maga é usado inclusive para abater o adversário, provocando a morte ou incapacitação física.
Durante a luta, é muito importante continuar avaliando os arredores, para identificar rotas de fuga, outras possíveis ameaças, objetos úteis para o ataque e defesa, etc.
O treinamento inclui atividades aeróbicas (andar, correr, pedalar, etc. – são exercícios que usam o oxigênio na produção de energia para os músculos) e anaeróbicas (musculação, sprints, saltos e outros movimentos rápidos e intensos). Os iniciantes vestem almofadas protetoras e outros equipamentos de proteção, abandonadas depois de um período de treinamento, já que o objetivo é justamente estar preparado para situações de emergência.
Os cenários são bastante empregados nas aulas de Krav Maga. Eles simulam situações de combate, patrulhamento e, para os civis, assaltos e brigas. Os cenários são importantes também para que os alunos aprendam a controlar as distrações (transeuntes, carros, etc.). Para os mais avançados, são adotadas situações restritivas ou incapacitantes. Tentativas de controle verbal das agressões também fazem parte do treinamento da luta.
A luta
A filosofia do Krav Maga é simples: todos têm o direito de defender sua própria vida, mesmo que isto implique a morte do agressor. O Krav Maga se baseia na defesa pessoal com qualquer elemento que esteja presente na cena do conflito e independe de sexo, idade ou condicionamento físico.
Nas lutas, é importante ser o mais rápido, manter o peso do corpo na área de contato com o oponente (como um joelho firmado sobre o pescoço – aproximadamente dois terços do peso corporal são empregados nestas formas de imobilização – força é igual à massa multiplicada pela aceleração; isto significa que é importante ser rápido e preciso nos golpes), atingir os pontos críticos (quem já levou um chute nos testículos sabe do que se trata), evitar receber golpes, usar os objetos que estejam por perto, alternar defesa e ataque, estabelecer objetivos (no caso de estar em desvantagem, deve-se fugir; no caso de ser mais forte e bem armado, deve-se bater) e, por fim, neutralizar definitivamente o agressor.
É preciso cuidar da ameaça imediata (como recuperar os movimentos de um braço imobilizado), voltar a atacar e manter a mente centrada: a vantagem é sempre do oponente, quando não se espera um ataque. Ao contrário das artes marciais, os chamados golpes baixos (nos olhos, genitais, etc.) são muito enfatizados no Krav Maga: o importante é manter-se a salvo. Além disto, as “retiradas estratégicas” – em outras palavras, as fugas em situações de desvantagem – são plenamente aceitáveis.
As técnicas do Krav Maga
O Krav Maga é um mix de Kung Fu, Muay Thai, Aikidô, Jiu-Jitsu, Wrestling (a briga de rua no Ocidente), Boxe, Karatê, Judô e Savate (o Boxe francês, em que braços e pernas são usados nos combates). Resistência, concentração e velocidade explosiva são exaustivamente treinadas durante as aulas.
As aulas usam situações do cotidiano, inclusive com as possibilidades de distração (como vitrines e belas paisagens). É muito importante que o aluno consiga focar a atenção nos perigos eventuais – como a ação de punguistas em uma região de comércio popular.
Nos treinamentos, as simulações são controladas e seguras. Mesmo assim, é comum o uso de sparrings em todas as situações de luta – em pé, caído no solo ou em clinch (abraçado ao oponente).
Nas academias, são treinados vários golpes, e cada ao praticante escolher os mais adequados para a sua realidade pessoal. São socos, cotoveladas, dedadas e até mordidas.
No entanto, o Krav Maga foca a importância, em primeiro lugar, ao diálogo. A luta surge como última solução (ao menos para os civis). Os praticantes devem evitar locais ermos ou perigosos e tomar cuidado com saques (para evitar as famosas saidinhas de banco). De acordo com Lichtenstein, em situações de risco, “não reagir é mais seguro do que arriscar a vida”. Entre nós, talvez o melhor seja deixar a técnica para as academias e esperar que a segurança pública – em um tempo qualquer – dê conta das ameaças.