Insetos na dieta

Apesar de tanajuras fritas (a tanajura é uma espécie de formiga gigante que sai da colônia duas vezes por ano, para acasalar) serem um tira-gosto comum em algumas regiões do Brasil, o consumo de certos animais não é bem visto no Ocidente. No Antigo Testamento, entre as muitas proibições, está a abstenção de comer insetos (com exceção dos gafanhotos) e isto provavelmente influenciou bastante os hábitos da cultura judaico-cristã. No entanto, incluir insetos na dieta é uma forma simples e barata de consumir proteína animal.

Tanajura com Farofa
Tanajura com Farofa

Muitas proibições de Moisés foram caindo através dos tempos e provavelmente o “nariz torcido” para a inclusão de insetos na dieta é apenas uma questão de costumes. No entanto, não há motivo para isto: desde que os animais sejam criados em condições adequadas, com a necessária fiscalização, eles podem contribuir para a resolução de um problema cada vez mais premente no mundo: o aumento exponencial da população (já somos mais de sete bilhões na nave Terra) e a necessidade de alimentar todo este contingente com qualidade.

Ainda entre os brasileiros, a ingestão da larva de um besouro que põe seus ovos dentro de frutas, a larva do coquinho, faz parte de brincadeiras de zonas rurais e também é indicada como alimento em treinamentos militares de sobrevivência na selva.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (na sigla em inglês, FAO) recomendou em 2008 a inclusão de insetos na dieta, fato reiterado em maio de 2013. No Brasil, nenhum órgão oficial faz menção ao assunto. O Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, não cita insetos e o Ministério do Desenvolvimento Social entende que seu consumo não faz parte da cultura brasileira. Além disto, a segurança alimentar brasileira se baseia na agropecuária e na pesca.

Mesmo assim, os insetos têm suas vantagens. Larvas de besouros, formigas, baratas e gafanhotos apresentam maior teor de proteínas do que a carne bovina (50%, em média, contra 24% dos nossos bifes). Formigas trituradas fornecem cálcio, ferro, entre outros nutrientes, com baixo nível de calorias. Grilos e gafanhotos são consumidos em diversas partes do mundo e, se mais pessoas incluírem estes animais saltitantes na dieta, as lavouras agradecerão, porque terão menos inimigos, que costumam devastar grandes áreas em poucos instantes. Quem já provou diz que eles não têm gosto, e isto ajuda a sentir os temperos utilizados no prato.

Mais de mil espécies de insetos se transformam em ingredientes culinários, especialmente na Ásia e África. Moscas desenvolvidas em um queijo (várias espécies depositam seus ovos em substâncias fermentadas) têm gosto de queijo. Outros insetos, como as marias-fedidas e outros percevejos, apresentam propriedades analgésicas, mas talvez seja melhor deixá-los para a pesquisa farmacêutica.

marias-fedidas
marias-fedidas

Seja como for, no Brasil, já existem livros de receitas com insetos, além de criadores e alguns raros restaurantes que oferecem os pratos. Os órgãos públicos precisam promulgar leis sobre o assunto e estabelecer formas de fiscalizar estes locais, para não prejudicar a saúde da população, especialmente dos mais corajosos e curiosos.
A proteção ambiental também faz parte dos defensores do consumo de insetos. A população mundial está crescendo e o consumo de carne, bem mais. Atualmente, os seres humanos consomem 50 quilos per capita, total que deve subir para 80 quilos em 20 anos. O problema é que a flatulência de bois, porcos, carneiros, galinhas e assemelhados é um dos principais fatores para o aumento da emissão de metano, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento global.

Além disto, com os atuais padrões de consumo alimentar, será preciso abrir novas áreas de cultivo e de pasto, e isto significa desmatamento, a menos que a pesquisa agropecuária encontre novas técnicas para produzir mais em menos espaço. O futuro dirá o que estará no prato dos nossos netos.