A impressão em 3D está revolucionando diversos setores. Atualmente, ela é empregada para criar próteses e órteses, instrumentos musicais, brinquedos, chocolates e até casas. A pesquisa para estas impressões não é recente: ela surgiu em 1984, quando o engenheiro americano Chuck Hull fundou a empresa 3D Systems, sediada na Califórnia.
A possibilidade de imprimir objetos tridimensionais surgiu com o desenvolvimento da estereolitografia (manufatura e prototipagem rápida para a produção, com alta precisão, de peças de objetos e equipamentos). A máquina é composta por um laser ultravioleta e um conjunto de espelhos galvanométricos.
Um ano antes da fundação da 3D Systems, Hull já havia desenvolvido um processo de impressão à distância de peças, que ainda não tinha utilização industrial, já que uma peça levava até oito semanas para ser manufaturada. Com a nova tecnologia, as primeiras peças impressas de forma rápida foram utensílios de plástico.
Hull continuou desenvolvendo novas técnicas e a tecnologia 3D da sua empresa se mantém entre as primeiras do competitivo mercado da informação e comunicação. Para citar apenas um exemplo, com uma impressora 3D é possível confeccionar uma válvula cardíaca a partir da análise feita por uma equipe médica na sala ao lado à de cirurgia, ou observando o paciente a dezenas de quilômetros.
Coisas incríveis
As impressoras 3D ocupam muito espaço e ainda são caras demais para que se popularizem entre os internautas domésticos. Mesmo assim, a 3D Systems já desenvolveu um periférico pouco maior do que uma máquina de costura portátil – a Cubify – que permite criar diversos objetos em plástico, como brinquedos e miniaturas de personagens do cinema.
Casas a jato
Tudo começou com as pesquisas do engenheiro americano Andrey Rudenko, em Minnesota. Em 2012, o engenheiro desenvolveu o projeto de um minicastelo, cuja construção foi concluída em 2014. Era o início das especulações sobre o emprego das impressões em 3D em projetos arquitetônicos e urbanísticos.
O castelo, de 15 metros de altura (até o topo das torres) confirmou a viabilidade da construção de residências mais baratas. A ideia está servindo inicialmente para programas populares de habitação em diversos países.
Em 2014, engenheiros chineses da empresa Winsun construíram um prédio de cinco andares com auxílio de impressoras 3D. Pode parecer ficção científica, mas a Winsun conseguiu reduzir em até 60% o desperdício de material, além de eliminar boa parte dos custos de transportes (o material é impresso diretamente no canteiro de obras).
O tempo de construção foi reduzido em até 70%, em relação a uma construção convencional. O projeto apela ainda para a sustentabilidade: todo o material usado para construir paredes é aproveitado a partir da demolição de construções antigas.
A Winsun já imprimiu uma mansão de dois andares e sótão com mais de 1.100 metros quadrados de área construída (foi necessária uma impressora 3D de seis metros de altura para a execução do projeto). O imóvel foi vendido por US$ 161.000 (R$ 644.000). a empresa também já construiu dez casas populares, com custo final de US$ 5.000 (R$ 20.000).
Na Nova Zelândia, técnicos de computação e engenheiros produziram guitarras funcionais manufaturadas apenas com plástico. A ideia é que os instrumentos sejam utilizados por estudantes de música e também por fãs que desejaram ter réplicas das guitarras tocadas por seus músicos favoritos.
Casas flutuantes impressas em 3D estão atraindo o interesse de países com poucos terrenos disponíveis para construção. Arquitetos do Laboratório Belatchew desenvolveram a Swim City, um conjunto de residências estudantis.
Na Holanda, onde é comum morar em barcos (as chamadas casas de canal), estão sendo desenvolvidas tecnologias para serem impressas em 3D com bioplásticos (derivados de fontes renováveis, como biomassa, óleos vegetais, amido de milho ou de ervilha, etc.).
Tempos moderníssimos
O Strati é um modelo da montadora americana Local Motors. O automóvel, cujo corpo é montado com 50 peças, é impresso em apenas 44 horas (em uma linha de produção tradicional, são necessárias entre 20 mil e 25 mil peças).
O anúncio da montadora pode significar uma revolução para a indústria automobilística. Todo o chassi é feito com acrilonitrila butadieno estireno, o mesmo plástico usado nas peças de Lego. O carro, no entanto, não é totalmente impresso em 3D: motor, sistema de transmissão, lanternas, conjuntos de rodas, pneus e coluna de direção são “normais”.
Comida Express
No Brasil, os fornos de micro-ondas começaram a se popularizar no início dos anos 1980. Eles eram caros, raros e muita gente não acreditava que o novo eletrodoméstico pudesse fazer as mesmas tarefas de um fogão com a mesma qualidade. Além disto, circulavam boatos sobre os males dos raios de micro-ondas para a saúde humana.
Hoje, 90% dos lares brasileiros são equipados com um forno de micro-ondas. Mas, talvez, o popular “aquecedor rápido” esteja contando os dias para a aposentadoria (juntamente com os motoboys que entregam refeições em domicílio).
A empresa espanhola Natural Machines desenvolveu a Foodini, que imprime refeições em 3D. O equipamento é pequeno, mas os ingredientes irão demorar algumas décadas para serem instalados nas residências. O objetivo inicial da empresa é fornecer a Foodini para restaurantes, lanchonetes e empresas de catering.
Uma martelada no cravo…
A humanidade sempre seguiu à risca este antigo ditado “uma martelada no cravo, outra na ferradura” (a história se refere a ferreiros inexperientes, que só acertavam metade das marretadas na hora de ferrar os cavalos). Um “macaco nu” descobriu que era muito mais fácil, rápido e prático usar uma vara longa para colher frutas do que subir nas árvores.
Com as impressões em 3D, não poderia ser diferente. Já existe tecnologia para imprimir armamentos. As primeiras experiências surgiram somente em 2014, com a apresentação da Liberator, uma arma funcional. Os inventores chegaram a publicar um “passo a passo” para imprimir a pistola em casa, retirado da internet pelo governo americano.
A Liberator, no entanto, foi apenas o primeiro protótipo. Em pouco mais de um ano, novas pistolas pipocaram na rede mundial e, se os governos insistem na proibição, retirando os sites do ar, a Dark Web está repleta de novos projetos e manuais de impressão, para quem quiser achar.
Em poucos anos, imprimir armamentos será tão fácil quanto baixar um filme ou CD pirata. A impressão, distribuição e posse poderão ser criminalizadas, mas a realidade é apenas um instrumento: criminoso é o mau uso dela. Uma empresa americana desenvolveu uma AR-15 semiautomática, com capacidade para 600 tiros.