O Oceano Pacífico cobre uma área de 180 milhões de quilômetros quadrados – e a maior porção de água do planeta. De acordo com alguns observadores, 5% da área total concentram toneladas de lixo: são as ilhas de lixo plástico (o principal “componente”). A visualização deste arquipélago é difícil, já que ele é muito fino (alcança no máximo dez metros de profundidade) não é identificado pelos satélites; só é possível avistá-lo a partir de embarcações marítimas.
O tamanho ocupado pelas ilhas de lixo plástico, na verdade, é incerto: enquanto alguns observadores afirmam que ela é duas vezes que o Estado americano do Texas (o equivalente a 1,4 milhão de quilômetros quadrados), outros afirmam que a área degradada já ocupa 5% do Pacífico.
O lixo é proveniente dos poucos navios que passam por estas águas, mas principalmente das regiões litorâneas. As ilhas de lixo plástico ficam entre a costa sudoeste dos EUA e o Havaí. Na área, encontram-se correntes marítimas frias e quentes, que formam um redemoinho de padrão circular: o giro oceânico do Pacífico norte. Confluem para a região as correntes do Pacífico Norte, Kuroshio (ou do Japão) e da Califórnia (frias), e Equatorial norte (quente), que se chocam incessantemente, reunindo uma quantidade enorme de detritos.
Problemas à vista
Existem outras ilhas de lixo plástico no oceano, ainda que menores: sempre gerada por giros oceânicos: o do Atlântico Norte – que “hospeda” a segunda maior ilha de lixo, cuja existência já está comprovada cientificamente, entre o arquipélago das Bermudas (Caribe) e o dos Açores (África ocidental). Os estragos são mais visíveis no mar de Sargaços, uma região quase desabitada por animais, mas lotadas de algas que figuram no cardápio de peixes migratórios, como enguias e o peixe-voador.
As outras, de menores dimensões, ficam nos giros (ou vórtices) do Atlântico Sul, que vai do nordeste do Brasil, passando pelo oeste da Argentina, ao oeste e sudoeste da África, a do Índico, entre a África oriental e a Austrália, e a do Pacífico sul, entre a Nova Zelândia e o Chile. Nos polos, parece ocorrer o mesmo fenômeno. A formação destas ilhas de lixo plástico ainda não foi confirmada, mas exploradores e cientistas afirmam que, nestas regiões, em todos os locais em que foram deixados equipamentos de arrasto, constatou-se a presença de resíduos.
Todos eles são potenciais formadores do mesmo problema ecológico: a concentração cada vez maior de lixo produzido pelo homem. Na ilha de lixo do Atlântico norte, podem ser “pescados” isqueiros, copos e garrafas, embalagens, baldes, escovas de dente e tudo o que se possa pensar.
Sem contar o lixo produzido pelo homem, o giro oceânico do Pacífico naturalmente agrega resíduos marinhos, como restos de peixes e outros frutos do mar. Por isto, é uma região populosa, já que o alimento é farto. Diversas espécies de águas frias e tropicais migram periodicamente pelo local, especialmente antes do período de desova.
São poucas as rotas marítimas da região. Segundo o explorador francês Patrick Deixonne, ecologistas e cientistas são os únicos interessados em combater as ilhas de lixo do Pacífico, uma vez que as águas são pouco visitadas pela navegação turística e mercantil.
O grande problema destas ilhas não é apenas o aspecto desagradável gerado. O plástico é rapidamente quebrado em fragmentos pela ação do Sol. Porém, os polímeros da indústria plástica (polietileno, PVC, etc.) levam séculos para se degradar. As partículas milimétricas, que poluem o mar, parecem apetitosas para aves, crustáceos e peixes, que se contaminam com o lixo e vão, a partir daí, disseminar as contaminações através da cadeia alimentar.
Este risco é menor para os animais de maior porte, mas esta não é uma boa notícia: no médio prazo, boa parte destes espécimes estará com o estômago cheio de lixo, tornando-se presas mais fáceis. As espécies utilizadas na alimentação humana tendem a se tornar mais raras (há o risco de extinção) e, consequentemente, mais caras.
Além disto, o lixo em constante movimento circular “prende” alguns poluentes orgânicos persistentes, como DDT e dioxinas, ainda usados na produção industrial. São compostos de alta toxicidade, que podem provocar graves desastres ambientais.
Antes de se degradar, os pedaços de plástico já mostram seu potencial destrutivo. Eles boiam de forma semelhante à das águas-vivas e medusas, atraindo tartarugas-marinhas e golfinhos, que correm o risco de se asfixiar.
No litoral, a redução da população de peixes certamente gerará um “boom” na população de insetos, alguns deles nocivos à saúde humana e animal. Por enquanto, várias espécies de insetos já encontraram local adequado para botar seus ovos em pleno oceano. As larvas vão se banquetear com plâncton e ovas de peixes. Antes, os “berçários” se limitavam a escassos pedaços de madeira e conchas flutuantes.
Na costa brasileira, graças à ação dos catadores de material reciclável – o país é um dos campeões mundiais de reciclagem do lixo – a situação é menos grave e urgente. Na costa africana, no entanto, o problema é alarmante: praticamente não há reciclagem de plásticos, papel, alumínio, etc. Tanto no giro do Atlântico sul quanto no do Índico, a “sopa de plástico” já é facilmente observada.
As soluções
Ainda não há negociações internacionais para discutir o problema das ilhas de lixo plástico. Na pauta destas discussões, certamente surgirá o tema: “De quem é a responsabilidade (ou quem deve pagar a conta) pela poluição das águas costeiras? Dos produtores do plástico, da Organização das Nações Unidas ou dos países que não desenvolveram técnicas de despoluição?”.
A solução ainda está longe de ser encontrada. Mesmo os ambientalistas têm dificuldades em propor formas eficazes de limpar os giros oceânicos e acabar com as ilhas de plástico. A troca de hábitos, como substituir garrafas descartáveis por retornáveis, leva tempo para ser eficaz. Cientistas e ecologistas precisam encontrar uma forma de recolher todo este lixo. Do contrário, ficaremos com vários trechos do oceano transformados em lixos, ameaçando a vida, que, vale lembrar, nasceu no mar.