Autoridades e especialistas em segurança sempre dizem que “não existe crime perfeito”. No entanto, muitos homicídios misteriosos ficaram sem solução na história. Sem falar dos crimes cometidos contra pessoas anônimas, que ocorrem todos os dias – homicídios, sequestros, violência doméstica e contra crianças, etc. – muitas figuras proeminentes nunca tiveram seus casos solucionados.
No quesito “crimes comuns”, no Brasil, 90% dos casos não são resolvidos. A cada ano, são registrados mais de 50 mil homicídios (sem contar os desaparecimentos misteriosos em que as vítimas nunca são encontradas), mas menos de 8% dos criminosos vão a júri popular, uma situação bem diferente do que a verificada nos livros de Sherlock Holmes (escritos por Arthur Conan Doyle) e Miss Marple e Hercule Poirot (por Agatha Christie).
Em Los Angeles
Em 1928, Walter Collins tinha oito anos e morava em Los Angeles (EUA). O garoto desapareceu e teve início uma maratona policial para encontrar seu paradeiro. Cinco meses depois, um menino de Illinois, Estado do centro-leste americano distante mais de 5.500 quilômetros da Califórnia, apresentou-se à polícia como sendo Walter.
A mãe, Christina Collins, no entanto, denunciou o suposto desaparecido como uma farsa. A polícia californiana, querendo resolver o caso rapidamente – ou empurrá-lo para baixo do tapete – denunciou a mãe de William como desequilibrada mental e a mulher, além de perder o filho, teve de passar alguns dias em uma instituição psiquiátrica, até que o impostor mirim confessou a farsa.
Pouco depois, as investigações foram no serial killer Gordon Northcott, preso pelos crimes conhecimentos como “homicídios do galinheiro de Wineville”, onde o maníaco morava e também onde foram encontrados os corpos de três dos 20 meninos desaparecidos na região.
Northcott confessou todos os crimes, mas voltou atrás no caso de William, que, apesar de muitas reviravoltas no caso (inclusive o encontro de um dos garotos desaparecidos), nunca foi encontrado. A história inspirou o filme “A Troca”, de 2008, dirigido por Clint Eastwood e protagonizado por Angelina Jolie.
Morre uma estrela
Em 1947, Elizabeth Short, uma candidata ao estrelato em Hollywood (Los Angeles, EUA), conhecida como Dália Negra (ela sempre se vestia de preto e enfeitava os cabelos com uma dália), foi encontrada brutalmente assassinada em um terreno baldio do Parque Leimert, com o corpo mutilado.
Anos antes, quando chegou à capital do cinema, a Dália Negra foi presa por oferecer bebida alcoólica a um menor de idade. Graças à impressão digital constante deste registro policial, foi possível identificar o cadáver, que estava totalmente desfigurado.
Short desembarcou na Califórnia com apenas 22 anos, com o firme propósito de se tornar uma estrela. Sem grandes talentos para a arte cinematográfica, no entanto, conseguiu apenas pequenos papéis em filmes de baixa qualidade, que não obtiveram repercussão.
Em 1947, uma mulher que passeava com o filho encontrou o cadáver. A imprensa, que passou a tratar a vítima como Dália Negra, em alusão ao filme noir “A Dália Azul”, de George Marshall, teve papel essencial para prejudicar as investigações: os repórteres chegaram à cena do crime antes da polícia e, no afã de conseguirem um “furo” jornalístico, destruíram muitas evidências.
Um homem chegou a encaminhar para a mídia diversos objetos pessoais de Elizabeth Short e cartas no melhor estilo dos filmes de suspense: com letras recortadas de jornais e revistas, para que a caligrafia não pudesse ser reconhecida.
O sensacionalismo foi o principal fator para o insucesso dos investigadores. Mais de 50 homens e mulheres foram à delegacia para confessar o homicídio da Dália Negra. A polícia concluiu, no entanto, que eles estavam apenas em busca de “15 minutos de fama”, já que nenhum dos suspeitos pôde descrever o local do ataque e a situação do cadáver.
Se Elizabeth Short não conseguiu fama e fortuna como atriz, sua história inspirou diversos filmes e seriados americanos. Entre eles, “The Black Dahlia”, dirigido por Brian de Palma. O caso, nunca solucionado, também é citado em um dos episódios de “Uma História de Horror Americana”.
Casos famosos
O australiano Heath Ledger conheceu fama e fortuna protagonizando filmes como “Ten Things I Hate about You”, “The Patriot” e “A Knight’s Tale”. Em 2005, sua interpretação no filme “The Brokeback Mountain” rendeu boas críticas da imprensa especializada e as premiações do New York Film Critics Circle Awards e no Australian Film Institute Awards, além de indicações para o Oscar e o Globo de Ouro.
Em 2008, durante a produção de “The Dark Knight”, o ator foi encontrado morto em seu apartamento, por uma massagista. A polícia tratou o caso inicialmente como suicídio e, em seguida, overdose de medicamentos. A necropsia realmente encontrou traços de vários medicamentos, mas será possível que um astro em plena ascensão cometeria um erro tão crasso?
A atriz Brittany Murphy, famosa por “As Patricinhas de Beverly Hills”, morreu em 2009, aos 32 anos, enquanto estava no banho. Os legistas atestaram que a causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória, determinada por um quadro de pneumonia e anemia.
Na época, houve boatos de overdose por medicamentos ou drogas ilícitas. Os rumores ganharam força quando o marido da atriz, Simon Monjack, morreu cinco meses depois, também supostamente vitimado por pneumonia e anemia. Em favor do casal, a mãe de Murphy declarou que as doenças foram provocadas por um bolor que estava proliferando no apartamento.
Crime passional?
Em 1954, o médico neurocirurgião americano Sam Sheppard foi acusado de assassinar a mulher Marilyn, grávida de três meses, dentro da própria casa, enquanto o filho do casal dormia no quarto contíguo. O cirurgião alegou inocência, afirmando que a casa havia sido invadida por criminosos que o teriam atacado, deixando-o inconsciente.
A promotoria, no entanto, alegou que Sheppard estava furioso com a segunda gravidez e queria se desfazer de um casamento infeliz e a mulher não aceitava a separação. O médico foi julgado, condenado à prisão perpétua em 1956.
Dez anos depois, em um apelo à Suprema Corte, ele alegou que a publicidade do caso na mídia – alguns jornais chegavam a pedir a prisão nos seus editoriais havia influenciado a decisão dos jurados. Sheppard foi novamente levado a julgamento e, desta vez, absolvido.
O médico morreu em 1970, de cirrose e depressão. No ano 2000, seu filho moveu uma ação contra o Estado para comprovar a inocência do pai.
Afinal, um antigo funcionário que limpava as janelas da residência dos Sheppards, Richard Eberling, havia sido encontrado na posse de algumas joias e Marilyn ainda na década de 1950.
Além disto, uma enfermeira que atendeu Eberling em seu leito de morte testemunhou que o faxineiro havia confessado o crime. Mesmo assim, um júri de Cleveland afirmou não ter provas para reformar o veredito de condenação.
Um caso brasileiro
Em 1988, na noite de Natal, o casal Maria Cecília e Jorge Bouchabki foi encontrado morto no interior da sua residência no Jardim América, um dos bairros mais elegantes de São Paulo. A imprensa passou a tratar o assunto como “o caso da Rua Cuba”.
Investigadores e peritos que atenderam à ocorrência não conseguiram encontrar qualquer sinal de arrombamento na casa e, por isto, as suspeitas recaíram sobre o filho primogênito do casal, Jorge Delmanto Bouchabki, então com 19 anos.
A família do rapaz, porém, tem vários nomes entre os principais criminalistas da capital paulista e empregou todos os instrumentos legais para defender Jorginho. As evidências, no entanto, eram fortes: o quarto do casal foi encontrado trancado por dentro, mas o filho negou ter uma cópia da chave; na noite dos homicídios misteriosos, só estavam na casa o casal, Jorginho e a irmã, então com 11 anos (os empregados haviam sido dispensados para cearem com seus parentes); a perícia constatou que o assassino tinha bastante familiaridade com a residência.
Além disto, Jorginho tinha muitas desavenças com os pais, (o pai o havia agredido poucos meses antes com uma prancha de surfe e a mãe, na véspera do crime, com um taco de sinuca); o filho mentiu, dizendo que havia passado no vestibular, um dia antes do crime; o suposto criminoso chegou à casa da namorada por volta das 7h do Dia de Natal, surpreendendo-a não apenas pelo horário, mas também por parecer bastante agitado; a arma nunca foi encontrada.
Jorginho nunca confessou o crime. Jorge, uma das vítimas, mantinha negócios na fronteira entre Roraima e a Bolívia, uma das portas de entrada para o narcotráfico. A polícia tentou encontrar indícios de negócios ilícitos da vítima com narcotraficantes. Nada foi identificado, porém. Jorginho continua sendo o principal suspeito – e continua em liberdade. O caso foi arquivado em 1991.
O caixa da campanha
Paulo César Farias, o PC, foi tesoureiro da campanha que levou Fernando Collor de Mello à Presidência da República, nas eleições de 1989.
O assessor presidencial, relacionado a diversos escândalos de desvio de dinheiro público, tornou-se uma das pessoas mais emblemáticas do imbróglio que culminou com o impeachment de Collor, em 1992, pouco menos de dois anos de o presidente ter subido triunfante e rampa do Palácio do Planalto. PC teria movimentado um bilhão de reais (valores da época) em ações de suborno de políticos e empresários.
PC tornou-se uma espécie de eminência parda no desastroso governo Collor. Desta forma, ele se transformou em um arquivo vivo dos desmandos políticos, especialmente os da equipe financeira. O tesoureiro chegou a ser condenado em 1993, por sonegação fiscal e falsidade ideológica. Passou dois anos preso.
Em 1996, PC Farias foi encontrado morto junto com a namorada Susana Marcolino, em Maceió (AL). O caso foi considerado inicialmente como crime passional: Susana teria assassinado PC, suicidando-se em seguida.
Os promotores não se conformaram com a versão oficial e prosseguiram com as investigações. Com novas provas, foram denunciados quatro seguranças de PC pelos homicídios (eles ainda trabalham para as empresas da família Farias). A defesa recorreu até a última instância, mas a acusação foi mantida.
Em 2013, os guarda-costas Adeildo dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar dos Santos e José Geraldo da Silva finalmente foram a júri popular, que decidiu pela absolvição dos réus.
Férias em família
Em maio de 2007, uma menina inglesa passava as férias com os pais em um resort na praia da Luz, no Algarve, em Portugal, quando desapareceu misteriosamente. Madeleine McCann, que tinha apenas três anos, foi levada enquanto dormia com os irmãos em um dos quartos do hotel. Os pais Kate e Gerry tinham saído para jantar fora. O caso do sequestro, que pode envolver abuso sexual e homicídio, é repleto de reviravoltas e até hoje não tem solução.
Os pais declararam à polícia que estavam muito arrependidos por terem deixado as crianças sem a guarda de um adulto, mas negaram qualquer participação no sumiço da menina. O caso ganhou espaço na imprensa, muitas pessoas tentaram extorquir Kate e Gerry em troca de informações sobre o paradeiro de Madeleine (algumas foram presas), mas nenhum depoimento permitiu o avanço das investigações policiais.
No primeiro ano do desaparecimento, informações desencontradas acrescentaram mais mistério. É provável que a polícia portuguesa tenha ventilado para a imprensa que a garotinha estava morte, uma vez que os peritos encontraram vestígios de sangue no quarto.
Avaliações posteriores, no entanto, detectaram que o sangue pertencia a um homem, provável turista que se hospedou nas mesmas acomodações anteriormente à viagem da família. As equipes de inteligência prosseguiram, afirmando ter identificado traços do DNA de Madeleine em um carro alugado pelo casal 25 dias depois do desaparecimento. Novamente, os indícios não se confirmaram.
Kate e Gerry chegou a ser indiciado formalmente pelo crime, mas um juiz português analisou os laudos e determinou a insuficiência de provas. Nos dias seguintes, um oficial de polícia foi afastado das investigações por ter criticado a posição do magistrado. Os pais voltaram para a Inglaterra com os gêmeos Sean e Amelie seis meses depois, sem notícias da filha desaparecida.