Como nasce um mito? Conte uma história rica em detalhes e que, apesar de absurda, seja verossímil o suficiente pra cair na boca do povo – um pouco já está bom. Espalhe em uma cidade pequena e pronto, está feito.
Pelo menos era assim que se fazia antigamente, e dessa forma foram criadas algumas das histórias mais clássicas e assustadoras, passadas de geração em geração. Com o surgimento da imprensa popular ficou ainda mais fácil. Só publicar a história em destaque – e de preferência na primeira página – que é o suficiente pra galera sair espalhando como se fosse verdadeira e sem questionar muito. Afinal, saiu no jornal, né? (que hoje virou o: falaram naquele blog, saiu na internet, deu naquele portal famoso etc.).
E desse jeitinho foi criado o Vampiro de Osasco. No dia 13 de agosto de 1973, o jornal Notícias Populares, de São Paulo, publicou o depoimento de um homem que dizia ter encontrado seu cachorro morto e sem uma única gota de sangue no corpo. Vários moradores da região corroboraram o testemunho do dono do animal, o que foi o suficiente para que aparecessem outras pessoas relatando casos aparecidos.
Três dias depois, o jornal anunciou que o vampiro havia atacado de novo, matando quatro cachorros de uma única vez. E, segundo a publicação, todos foram encontrados da mesma forma: sem uma única gota de sangue no corpo – o que seria um indicativo de que o assassino bebia o sangue dos animais.
Pronto. Ninguém mais saía na rua à noite, nenhuma criança brincava fora de casa, o pânico era geral. Não satisfeitos, os editores do jornal ainda dedicaram outras tantas edições ao caso, sempre com relatos de supostas vítimas e especulando sobre a aparência do vampiro – que seria uma mistura de vampiro e lobisomem.
Passado o frisson causado pelo “sucesso” bizarro da notícia, os editores se deram conta de que havia sido gerado um pânico enorme nas pessoas e a coisa tinha saído do controle. E agora? O que fazer com o vampiro de Osasco? Como fazer as pessoas acreditarem que Osasco era uma cidade segura outra vez? Foi então que surgiram as mais loucas ideias para convencer (admitir a burrada pra quê, né?) a população de que o assassino havia sido capturado.
A primeira foi usar a jaguatirica do zoológico da cidade como bode expiatório. O delegado de Osasco fez um anúncio dizendo que o vampiro, na verdade, era uma jaguatirica que estava solta na cidade, e que as pessoas podiam ficar despreocupadas, pois ela havia sido capturada. Fizeram inclusive um filme que mostrava o bicho morto sendo retirado de um camburão da polícia e morto a tiros.
Ninguém acreditou, claro. E o pânico se espalhou ainda mais depois de uma denúncia de tentativa de estupro feita por uma moça da cidade – e colocada na conta do vampiro de Osasco.
Sem saída, o jeito foi o jornal apelar para José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que já havia figurado nas páginas do Notícias Populares depois de supostamente conseguir vencer os maus espíritos de uma casa mal assombrada, na mesma cidade.
Pois deu na primeira página do jornal: “Zé do Caixão desafia Vampiro de Osasco”. Montaram toda uma falsa investigação, fizeram fotos promocionais no cemitério, o escambau. Imaginem que deram umas voltas com o “unhudo” da cartola preta pela cidade e saíram anunciando que uma procissão liderada por ele havia afugentado o vampiro.
Ponto pro Zé! Coincidência ou não, a ideia deu certo e o povo acalmou. É, o poder da imprensa e de um bom espetáculo não podem ser subestimados…