Mesmo com algumas baixas importantes, os grupos terroristas continuam contribuindo para prejudicar o frágil equilíbrio geopolítico do mundo. Eles agem por razões étnicas, políticas ou religiosas (às vezes, todas estas motivações) e têm como marca registrada a intolerância.
Existem grupos separatistas, outros pretende derrubar governos legitimamente eleitos (e não tão legítimos assim, como é o caso da Síria, Iraque, Paquistão e Afeganistão) que atuam em vários países do mundo e o modus operandi é sempre o mesmo: espalhar o terror entre as populações para obter vantagens políticas.
Em alguns casos, pode-se identificar o terrorismo praticado pelo próprio Estado. É o caso, por exemplo, da Venezuela, que se arrasta em uma crise econômica há mais de dez anos. Sempre que o governo quer afastar o interesse da população no desemprego, inflação descontrolada, etc. Atualmente, o país está em litígio, a quem afirma provocar invasões das fronteiras.
Líderes oposicionistas já foram presos e condenados. O opositor Leopoldo López foi condenado, em setembro de 2015, a 14 anos de reclusão, por ter incitado a violência durante protestos contra o governo que pipocaram em diversas cidades do país. López já estava preso preventivamente desde fevereiro de 2014.
O que é terrorismo?
Não existe uma definição formal para o terrorismo, que poderia ser internacionalizada a partir de uma ação da Organização das Nações Unidas (ONU). Mesmo assim, podem-se considerar como terroristas todos os grupos que utilizam estratégias violentas, coercitivas ou ameaçadoras para atingir as suas metas.
Desta forma, os terroristas lançam mão de sequestros, atentados a locais públicos e privados, ataques aéreos, homicídios, chacinas e outras formas de agressão. É o caso, por exemplo, da Al Qaeda e do Estado Islâmico.
Fundamentalismo
O Estado Islâmico do Levante é um grupo terrorista que defende a Jihad (guerra santa, de acordo com a tradição muçulmana). Em junho de 2014, o grupo autodeclarou a fundação de um califado em algumas regiões do Iraque e da Síria, não reconhecido pela comunidade internacional.
Os jihadistas se declaram herdeiros de um regime de governo que foi praticado desde a época do profeta Maomé até cerca de pouco mais de um século atrás. Califado significa “sucessão”, em árabe e o juramento de lealdade é devido por muçulmanos do mundo inteiro.
O Estado Islâmico foi fundado por sunitas insurgentes, incluindo a Al Qaeda. No momento, no entanto, os dois grupos competem pela hegemonia da Guerra Santa. O Estado Islâmico teve a sua importância ampliada com a guerra civil na Síria, que teve início em 2011.
Denúncias de exploração econômicas ocorridas desde o governo de Saddam Hussein (deposto e morto por tropas americanas em 2003, depois de quase 24 anos no poder). Ajudaram a dar impulso ao grupo. Os objetivos são ousados: o Estado Islâmico pretende expandir as suas fronteiras, ocupando países como Jordânia, Israel, Autoridade Nacional Palestina, Líbano, Chipre e a região sul da Turquia. Obviamente, eles defendem a extinção do Estado judaico.
Diversos países já relacionam o Estado Islâmico entre os grupos terroristas. Entre eles, os EUA, França, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Indonésia e Arábia Saudita, assim como organismos internacionais, como a ONU e a Comunidade Europeia.
O grupo obriga a conversão forçada de todos os habitantes da regiões controladas ao Islamismo, de acordo com a interpretação sunita. Além disto, o califado é regido pela Charia (o código de leis islâmico). Indivíduos que se recusam sofrem torturas e mutilações. O Estado Islâmico é especialmente violento com muçulmanos xiitas, assírios, cristãos armênios, drusos, shabaks (membros do serviço de inteligência israelense), yazidis (que cultivam tradições do Zoroastrismo) e mandeanos (adeptos de uma religião gnóstica pré-cristã).
Veja também: Qual a diferença entre xiitas e sunitas?
Em agosto de 2015, o Estado Islâmico destruiu templos históricos situados no sítio arqueológico de Palmira, na Síria. As ruínas romanas de quase dois mil anos faziam parte do patrimônio histórico da humanidade.
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) declarou oficialmente que o atentado terrorista foi um verdadeiro ataque de guerra e diversos organismos internacionais temem pela integridade de outros tesouros arqueológicos e históricos, já que, de acordo com a interpretação literal dos textos sagrados do Islã, os homens não podem fazer representações de nada que exista sob o céu.
Mais fundamentalismo
A Al Qaeda é um grupo terrorista internacional, com ações violentas em diversas regiões do mundo. São atribuídos à organização diversos atentados a alvos civis, empresariais e militares em muitos pontos da África, do Oriente Médio, da Europa e da América do Norte. A expressão significa “a base”.
Alguns atentados geraram reações drásticas. Em 11 de setembro de 2001 (“911”, na forma de datação adotada nos países de língua inglesa, o mesmo número do serviço de atendimento policial), a Al Qaeda lançou aviões contra os dois prédios do World Trade Center (as torres gêmeas de Nova York), contra o Pentágono e outro avião foi abatido antes que se chocasse com a Casa Branca, sede do governo americano.
Em 2015, o periódico francês “Charlie Hebdo” teve de pagar um alto custo em função das muitas charges polêmicas envolvendo o Islamismo e seus símbolos. Os agentes terroristas invadiram a sede do semanário, em Paris, e provocaram a morte de 12 pessoas (entre elas, cinco cartunistas e dois policiais). Outras cinco pessoas ficaram gravemente feridas.
A Al Qaeda já havia atacado o prédio em 2011. Uma bomba incendiária foi atirada contra a sede do “Charlie Hebdo”, mas não causou vítimas fatais. Os editores, no entanto, não se intimidaram e continuaram provocando textos e cartuns criticando o fundamentalismo muçulmano.
As origens da Al Qaeda podem ser encontradas a partir da invasão soviética no Afeganistão, ocorrida em 1979. Osama bin Laden, membro da família real saudita, arregimentou um grupo informal, que se notabilizou pela capacidade de levantar recursos e recrutamentos de tropas para a Jihad.
A Al Qaeda sempre fez oposição a Saddam Hussein, a quem acusavam de ter conduzido o Iraque ao laicismo, desrespeitando as leis islâmicas. Em 1989, com a retirada das forças soviéticas, diversos veteranos de guerra desejaram voltar a combater pelos ideais muçulmanos.
Outros inimigos do grupo terrorista são os americanos. A Al Qaeda proclama que os EUA e seus aliados são opressores do Islã. Entre os motivos, estão a defesa do Estado de Israel (em detrimento de sírios, palestinos e jordanianos), a derrubada do governo talibã do Afeganistão, a forte presença militar americana em Estados árabes (especialmente na Arábia Saudita) e a invasão do Iraque, ocorrida em 2003.
Desde 2011, o líder máximo da organização é Ayman al-Zawahiri. O grupo também organizou atentados à embaixada americana em Nairóbi (Quênia, em 1998), da embaixada americana em Dar Es Salaam (Tanzânia, também em 1998), o atentado contra o bombardeiro USS Cole, que estava atracado no Iêmen (em 2000) e diversos ataques ao metrô londrino (Inglaterra, em 2005).
Autonomia palestina
O Hamas (o termo significa “zelo” ou “entusiasmo”) é um grupo que luta pela implantação efetiva do Estado Palestino, atualmente restrito à faixa de Gaza (no Mediterrâneo) e alguns assentamentos na Cisjordânia, região ocupada pelos israelenses desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Em 2006, o Hamas saiu-se vencedor das eleições proporcionando, tendo conquistado 76 cadeiras no parlamento. O moderado Fatah só conseguiu eleger 43 representantes. Após a vitória eleitoral, surgiram violentos conflitos entre os dois grupos que pretendem orientar o povo palestino. Em 2007, depois da Batalha de Gaza, o Hamas expulsou os membros do Fatah presentes na faixa litorânea, mas, em contrapartida, perdeu vários postos-chave na Cisjordânia.
O Hamas é relacionado entre os grupos terroristas por diversos países, como os EUA, Comunidade Europeia, Japão, Inglaterra, Israel, Austrália e Canadá. O Brasil, ao lado da África do Sul e da Noruega, entende que o grupo não pode receber esta denominação, apesar das diversas incursões a territórios do sul de Israel. A bem da verdade, o Hamas sofre muito mais baixas e destruições, nestes confrontos, do que o inimigo declarado.
Forças revolucionárias
As FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –, também conhecidas como “Exército do Povo”, são uma organização terrorista de inspiração marxista-leninista, com o objetivo de implantar o socialismo no país.
A origem das FARC remonta a antigas disputas entre liberais e conservadores colombianos. O primeiro período ficou conhecido como “A Violência” e está retratado no livro “Cem Anos de Solidão”, escrito por Gabriel García Márquez, que narra sequestros, atentados e massacres.
Em 1948, liberais e comunistas se aliaram e deram início a um período de guerra civil que se estendeu por 16 anos. Após todo este tempo de confronto, os liberais passaram a temer que a experiência cubana, na qual o ditador Fulgêncio Batista foi deposto. Fidel Castro progressivamente implantou o regime comunista na ilha do Caribe.
A situação se inverteu: os liberais se tornaram aliados dos conservadores, alijando as forças de esquerda do poder. O Partido Comunista da Colômbia também não conseguiu manter boas relações com as FARC, cujas ações foram iniciadas como um movimento puro de guerrilha, mas já na década de 1980, o grupo começou a receber denúncias de se envolver no tráfico de entorpecentes (principalmente maconha e cocaína); isto provocou o rompimento formal entre o partido e os guerrilheiros.
Atualmente, as FARC mobilizam entre seis mil e oito mil combatentes (menos da metade do contingente estimado em 2001), presentes em 15% do território colombiano. Muitos deles ainda não atingiram a maioridade penal. De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, o exército controla a maior parte do refino e distribuição das drogas e os americanos estão entre os principais clientes.
Secessão no Índico
O grupo Tigres da Libertação Tâmil, fundado em 1976, luta pela separação nas regiões norte e leste do Sri Lanka, uma pequena ilha ao sul da Índia. Os motivos são religiosos: a imensa maioria dos habitantes destas área é hinduísta, enquanto o restante da população professa o Budismo.
Entre 1987 e 2009, o período mais crítico dos ataques terroristas, o grupo matou quase 1.000 pessoas. Os Tigres da Libertação Tâmil inovaram na arregimentação de novos recrutas: eles gozam da triste fama de terem inaugurado a fase das mulheres-bomba. Em 1991, o grupo reivindicou a autoria do atentado que tirou a vida de Rajiv Gandhi, primeiro-ministro da Índia.
Terrorismo no Primeiro Mundo
Os grupos terroristas não resumem as suas ações apenas aos países pobres, apesar de boa parte deles (são contabilizados 47, no total) estarem sediados na África, Ásia Central e Oriente Médio. O metrô de Tóquio, capital do Japão, sofreu cinco ataques coordenados em 1995.
Os membros da Aum Sinrikyo (uma organização religiosa) liberaram o letal gás sarin em diversos comboios. O saldo foi a morte de 12 pessoas, 50 pessoas feridas gravemente; seis mil outros passageiros sofreram feridas leves. Os ataques pretendiam atingir a estação de Nagatosho, na região dos prédios governamentais japoneses.
Os EUA também possuem a sua “herança maldita”, um resquício da época da escravidão: a Ku Klux Klan, nome comum a diversas organizações racistas que defendem a supremacia branca. Eles defendem os valores contidos na sigla WASP (white anglo-saxon protestant, ou protestantes brancos de origem anglo-saxã).
Em seu período de maior força, as ações da KKK se concentravam nos Estados sulistas dos EUA, como o Texas e Mississípi, que só aboliram a escravidão depois da derrota da Guerra de Secessão. O primeiro grupo foi constituído em 1865, no Tennessee, como um subproduto da guerra. O objetivo era impedir a integração dos negros recém-libertos.
Em 1872, depois de muitas torturas e homicídios, o grupo foi reconhecido como entidade terrorista e banido dos EUA. O banimento, na verdade, nunca ocorreu, apenas impulsionou a KKK para a clandestinidade.
Um segundo grupo surgiu em 1915 e defendia não apenas a supremacia branca, mas também pela submissão de católicos, judeus, alemães, italianos e asiáticos, que deveriam ser considerados cidadãos de segunda classe. Chegou a ter quatro milhões de membros (entre eles, vários políticos), especialmente durante a Grande Depressão, que destruiu a economia mundial. Neste período, o grupo se aproximou dos ideais fascistas.
A popularidade da Ku Klux Klan foi reduzida durante a Segunda Guerra Mundial, já que os EUA se aliaram com França, Inglaterra e URSS, contra os países de regimes totalitários (Alemanha, Itália e Japão). Depois do ataque japonês à Base Naval de Pearl Harbor (no Havaí), entretanto, os membros se alistaram em massa para combater o “perigo amarelo”.
Apesar das muitas tentativas de reorganização, a maioria em âmbito local, a KKK não obteve o mesmo sucesso conhecido no período pós-guerra. Houve uma tentativa de revitalização nos anos 1960, quando a população negra realizou diversas marchas e atos públicos para fortalecer o black power – o poder negro.
Nos anos 1970, surgiram os Klans Imperiais da América, os Cavaleiros da Ku Klux Klan e os Cavaleiros da Camélia Branca, mas não conseguiram reunir mais que poucos milhares de pessoas e nunca chegaram a ter uma organização centralizada.