Um estudo do Ministério da Saúde revelou que 54% dos homens brasileiros têm problemas com sobrepeso e obesidade. Entre as mulheres, o percentual é um pouco menor: 48% delas estão acima do peso ideal. Não é apenas uma questão de estética, com pneuzinhos na barriga e culotes exagerados: a gordura abdominal pode matar silenciosamente, com o passar do tempo.
Não adianta apelar para lipoaspirações: estes são apenas tratamentos plásticos. Resolvem (ou disfarçam) a famosa barriga de chope, eliminando a gordura subcutânea, imediatamente à frente dos músculos, mas não chega a interferir na gordura depositada entre os órgãos abdominais, como fígado, rins, baço, pâncreas, estômago e intestinos; é a chamada gordura visceral.
Em menor proporção, pessoas magras – inclusive abaixo do peso – podem ter problemas com a gordura abdominal. O principal motivo é o sedentarismo, seguido dos maus hábitos alimentares. E não adianta nada ser magrinho e não ter saúde.
Em qualquer caso, regimes milagrosos (para perder ou ganhar peso) nunca funcionam. Os resultados daquelas fantásticas dietas do tipo “perca três quilos em uma semana” são, no máximo, o ganho de um belo efeito sanfona. Alguns produtos disponíveis nas farmácias apenas aceleram a digestão. Em muitos casos, eles impedem a absorção de nutrientes importantes para o organismo e chegam a causar diarreias, com claros danos para os intestinos.
Com cardápios muito restritos, especialmente aqueles em que as pessoas só podem comer ovos, alface, sopas, etc., perde-se peso em uma semana para voltar a acumulá-los novamente na semana seguinte, com claros prejuízos à saúde. O equilíbrio – e a drástica redução dos riscos de doenças – só pode ser obtido com reeducação alimentar e a incorporação de exercícios físicos ao dia a dia. Não é preciso chegar a decisões radicais: caminhadas diárias são suficientes para eliminar o abdômen volumoso, fator que também contribui para aumentar a autoestima.
Os percentuais de gordura
Para homens entre 18 e 25 anos, o percentual de gordura em relação ao peso total deve ficar entre 4% e 10%. Os números vão se elevando com o avanço da idade (na faixa etária dos 55 aos 65 anos, são aceitáveis taxas entre 13% e 21%).
As mulheres podem conviver com uma proporção de gordura relativamente maior. O tecido adiposo, em níveis normais, protege os órgãos reprodutores e também os fetos, durante a gestação. Jovens de 18 a 25 anos podem apresentar entre 13% e 19%, enquanto as mais velhas (de 55 a 65 anos) podem ter entre 18% e 26% de gordura, sempre em relação ao peso total.
Acima destes níveis, começam a surgir os sinais de alerta para diversas doenças, com a formação de trombos (coágulos) nos vasos sanguíneos, que podem se depositar em diversos órgãos, como o fígado e o coração, ou interromper a circulação sanguínea em determinadas áreas. Quando parciais, os coágulos formam as varizes. Com o aumento da gravidade do quadro, surgem aneurismas e acidentes vasculares cerebrais ou derrames.
Estes números não são absolutos. Médicos e nutricionistas avaliam itens como as taxas da bioquímica sanguínea, pressão arterial, índice de massa corpórea (IMC), relação entre a cintura e o quadril, consumo de oxigênio, flexibilidade e resistência muscular localizada (testes de abdominal e de flexão dos braços) para determinar os riscos e prescrever novas formas de alimentação. Em alguns casos, pode ser necessária a adoção de medicamentos.
Os riscos da gordura abdominal
A comunidade médica é unânime em afirmar que a gordura abdominal é o fator que mais causa danos à saúde integral, com efeitos especialmente nocivos ao sistema cardiovascular. O excesso de gordura (principalmente a visceral) também favorece a instalação de tumores malignos nas mamas, útero, cólon, intestino grosso e rins.
Não é difícil descobrir se estamos ou não na zona de risco. Para algumas pessoas, a situação é evidente, com a barriga saliente sendo exibida em qualquer situação. Nestes casos, os perigos são iminentes, ou já estão instalados. Para os mais esbeltos, a simples medida da circunferência da cintura é suficiente para alertar contra possíveis doenças.
Especialistas recomendam que esta medida não ultrapasse os 88 cm nas mulheres e 102 cm nos homens. A cintura deve ser medida no umbigo, sem roupas. O corpo precisa estar relaxado e o abdômen deve ser medido durante a expiração (a expulsão do ar dos pulmões). Não vale tentar se iludir, contraindo os músculos abdominais ou prendendo a respiração: estamos falando de saúde, e com saúde não se brinca (ou não se deveria brincar).
O método não é o único parâmetro para mensurar os riscos da gordura abdominal. Os médicos podem solicitar exames complementares, de acordo com as informações fornecidas pelos pacientes e com a análise de seus hábitos. Mais uma vez, alimentação e prática de exercícios físicos resolvem rapidamente o problema, sem grandes sacrifícios.
A gordura no fígado
A esteatose hepática é um mal frequente em pessoas obesas ou com sobrepeso. O fígado é o órgão responsável por sintetizar as gorduras (que são importantes nutrientes para nosso organismo, já que são fontes de glicose, um dos “combustíveis” para as nossas células).
Quando a ingestão é excessiva, no entanto, o fígado não consegue metabolizá-las e o supérfluo fica depositado no órgão.
A gordura no fígado pode ser o ponto de partida para uma cirrose ou mesmo ou câncer. Mais uma vez, pessoas magras com maus hábitos alimentares podem desenvolver a esteatose hepática, apesar de a doença ser mais comum entre obesos, diabéticos e pessoas que abusam das bebidas alcoólicas.
Os sintomas mais frequentes são: inchaço na barriga, cansaço, dores de cabeça, enjoos, vômitos e cor amarelada nos olhos e na pele. Inicialmente, a gordura no fígado não é uma condição grave, mas é porta de entrada para enfermidades mais graves.
O AAA
Esta é uma situação bem mais grave. O aneurisma da aorta abdominal (AAA) é uma séria e silenciosa doença degenerativa. O portador corre sério risco de morte (que atinge os 90% dos casos), caso o mal não seja diagnosticado precocemente e devidamente controlado. A incidência é maior em pessoas a partir dos 60 anos, mas os percentuais não variam muito: 4% entre a população geral, 6% entre os que atingiram a terceira idade.
Com o AAA, a aorta abdominal tem o seu calibre aumentado em até 50% (a medida normal é de dois centímetros). A maioria dos pacientes só descobre o problema quando o vaso sanguíneo é rompido, provocando sérias hemorragias internas. Nestes casos, a única possibilidade de correção é uma cirurgia. Quase sempre, no entanto, não há tempo para o socorro médico.
O AAA é causado pela formação de placas de gorduras (ateromas, os mesmos responsáveis pela aterosclerose), que, nestes casos, se infiltram na aorta abdominal e forçam a ruptura, quadro grave, mas relativamente raro. Seja como for, a dificuldade de irrigação no abdômen prejudica o funcionamento dos órgãos e prejudica gravemente a qualidade de vida.
Dicas para reduzir a gordura abdominal
Este “probleminha” que pode matar pode ser evitado ou reduzido com a adoção de algumas medidas simples. A primeira delas é a inclusão de proteínas em todas as refeições do dia. Elas podem ser encontradas nas carnes brancas e vermelhas, laticínios, ovos, leguminosas (feijão, lentilha), oleaginosas (nozes, amêndoas, castanhas-do-pará), verduras de cor verde-escuro (espinafre, brócolis), grãos (quinoa, chia, centeio, cevada), cogumelos e arroz integral.
As gorduras boas também devem ser incorporadas ao cardápio. As insaturadas têm origem vegetal (azeite, óleo de milho e canola, abacate, linhaça) e em peixes de águas frias, como atum, sardinha e salmão, igualmente boas fontes de gorduras poli-insaturadas.
No quesito “combate à gordura abdominal”, no entanto, as gorduras monoinsaturadas levam grande vantagem e também ajudam a controlar os níveis de colesterol e triglicerídeos. Elas estão presentes no azeite, óleo de canola, abacate, amendoim e nozes. O consumo não pode ser excessivo, ou provocará aumento de peso.
Os carboidratos fibrosos fornecem vitaminas e sais minerais importantes para o metabolismo, que se torna mais acelerado, ampliando a queima de calorias. Leguminosas, frutas como mamão, abacaxi, ameixa, morango, damasco, laranja (com bagaço) e pera (com casca), folhas verde-escuro, rúcula, escarola, grãos integrais, tubérculos e abóbora são boas fontes.
Para combater a gordura abdominal, é preciso esquecer o consumo de embutidos, do fast food e de alimentos processados, ao menos até a superação do problema. Eles são mais práticos, rápidos no preparo, mas são também os principais responsáveis pela obesidade e os males consequentes. O consumo de açúcar também precisa ser reduzido.
Por fim, é necessário incluir exercícios físicos na rotina diária. Qualquer exercício aeróbico – andar, correr, nadar, pedalar – ajuda a queimar gorduras. A falta de tempo não é justificativa para não colocar o corpo em movimento: basta deixar o carro na garagem ao sair para fazer compras ou pagar contas, trocar o elevador pelas escadas, descer do transporte público alguns pontos antes de chegar ao destino. Se possível, é importante praticar algum esporte. São momentos que aumentam a sensação de bem-estar e melhoram a saúde integral. Alimentação balanceada e exercícios: seu corpo e sua mente agradecem.