A fotografia ajuda a revelar fatos históricos em detalhes comoventes, divertidos e inusitados.
A fotografia – etimologicamente, a palavra significa “escrita da luz” e indica o registro a partir da luz e do contraste – é uma invenção relativamente recente – a primeira foto foi oficialmente registrada em 1826. Mesmo assim, ela sempre se mostrou muito útil para revelar detalhes inusitados em momentos domésticos e familiares, na comprovação de avanços tecnológicos e na retratação da própria natureza humana.
O invento demorou muito tempo para ser concretizado e é o fruto do trabalho de muitas pessoas, desde a câmera escura descrita em 1604 pelo napolitano Giovanni Della Porta (contemporâneo de Leonardo da Vinci), até a primeira imagem registrada em uma placa de estanho, pelo francês Joseph Niépce, em 1826.
Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. As fotos históricas registradas a seguir revelam momentos importantes da trajetória humana, em detalhes divertidos, emocionantes e inusitados que não poderiam ser mais bem descritos.
01. O surgimento da insulina sintética
O hormônio feito em laboratório substitui a insulina que deveria ser produzida pelo pâncreas. No último século, a insulina sintética não apenas salvou milhões de vidas, mas garantiu a qualidade de vida dos diabéticos.
No dia 11.01.1922, o médico canadense Frederick Banting e sua equipe fizeram a primeira aplicação de insulina sintética em pacientes humanos. A descoberta rendeu aos cientistas o Prêmio Nobel de Medicina no ano seguinte e transformou o tratamento do diabetes. Estima-se que, atualmente, 400 milhões de pessoas sofram da doença.
No início do século 20, a doença era causa frequente de mortes, especialmente entre crianças e adolescentes afetados pela cetoacidose diabética, uma forma crítica de carência de insulina. A condição leva o organismo a produzir cetonas, tornando o sangue ácido.
Esta era a situação de Leonard Thompson, de 14 anos, o primeiro paciente a receber a insulina sintética, aplicada pelo próprio Banting. A primeira injeção causou uma série de efeitos colaterais, que levaram a equipe a suspender o tratamento – e voltar para o laboratório.
Banting insistiu e o bioquímico James Collip, um dos mais brilhantes da época, voltou aos experimentos. Apenas 12 dias depois, o paciente recebeu uma nova aplicação, desta vez com pleno êxito. A insulina sintética formulada por Collip foi lançada no mercado farmacêutico internacional em 1923.
02. Orgulho LGBT
Ao longo da história, a orientação sexual já foi proibida, tornou-se motivo para execuções e violência, mas também foi, em menor medida, tolerada e aceita. O Gay Pride, com paradas, protestos e manifestações pela igualdade de direitos, teve início no Green Village, bairro de Nova York (nordeste dos EUA), no final da década de 1960.
Em 28.06.1969, um grande número de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros se revoltou com a violência e discriminação ocorridas durante uma batida policial no Stonewall Inn, um histórico bar gay da Christopher Street e, atualmente, um dos principais pontos turísticos de Nova York.
Desde então, a visibilidade da comunidade LGBT aumentou tremendamente no mundo inteiro desde esta manifestação. Surgiram outras, mais organizadas, que lutam pelos direitos de homossexuais, bissexuais e transexuais. No Brasil, a primeira Parada do Orgulho LGBT ocorreu em São Paulo, em 1999.
As manifestações ocorrem principalmente durante junho, o mês do Orgulho LGBT. Milhões de pessoas saem às ruas para exigir direitos, ao lado de simpatizantes que apoiam a causa. Prova disso é esta dupla na foto, que foi às ruas em 1985.
Trata-se de mãe e filho. A mulher usa uma camiseta como a frase: “Meu filho é bi… e eu não pergunto por quê”. O rapaz estampa a frase: “Minha mãe é hetero (straight). Mas ela não me odeia”. Parece ser a síntese das manifestações.
De acordo com o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
Certamente, a mãe e o filho da foto captaram a mensagem que abre a relação dos direitos humanos, hoje incorporada à maioria das legislações nacionais. O texto das camisetas é simples e direto e até hoje elas estão entre as mais procuradas pelos participantes de protestos mundo afora.
03. Uma mulher centenária
Kane Tanaka é um dos seres humanos mais longevos do planeta. Nascida em 02.01.1903, ela foi considerada a mulher mais velha do mundo pelo Gerontology Research Group (órgão da Universidade da Califórnia) desde a morte de Chiyo Miyako, a mais velha do Japão (ela era natural de Yokohama), em 2018.
Kane permaneceu como a pessoa viva mais velha do mundo até a sua morte, em 19.04.2022. quando completou 107 anos, um de seus filhotes publicou um livro sobre a vida da anciã, que morava em uma casa de repouso, gostava muito de aritmética, escrevia poesias todos os dias e sabia de cor todas as falas de “Otelo, o Mouro de Veneza” (tragédia escrita por William Shakespeare em 1603.
Nos depoimentos para o livro, ela atribuiu a longevidade aos laços de família e à esperança, característica que deve ter sido notável nestes 199 anos, em que Kane Tanaka presenciou duas guerras mundiais.
04. Um exército negro na Europa
O 369º Regimento de Infantaria dos Estados Unidos, cujos membros ficaram conhecidos como Harlem Hellfighters (lutadores infernais do Harlem), foi um regimento que nasceu em Nova York (EUA) e lutou em solo europeu nas duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945).
O regimento era formado principalmente por cidadãos afro-americanos, mas recebeu componentes de Porto Rico, Cuba, Guiana, Libéria, Portugal, Canadá e Índias Ocidentais.
Os Hellfighters foram os primeiros combatentes americanos a servir nas Forças Expedicionárias dos EUA, mas apenas a partir de 1917: até então, os oficiais do exército não aceitavam o alistamento de “pessoas de cor”.
O primeiro contingente afro-americano desembarcou na França, sob o comando de William Hayward. Os homens foram apelidados de “Hommes de Bronze”, em função da bravura que demonstraram na luta nas trincheiras contra os alemães.
Não existe nenhuma documentação que ateste o fato, mas uma lenda da guerra afirma que quem apelidou o 369º Regimento de Hellfighters foram os próprios alemães. O contingente permaneceu nas trincheiras, na linha de frente, por 191 dias entre 1917 e 1918, ano do final do conflito, mais do que qualquer outro contingente americano.
Na foto, um soldado não identificado do 369º Regimento de Infantaria aparece com um cachorrinho no colo. Trata-se de um símbolo de resistência, em meio a tanta destruição e tantas vidas perdidas.
Apesar da bravura e das vitórias em batalhas, os negros americanos ainda tiveram de lutar muito contra a segregação racial, que só desapareceu formalmente com a aprovação, pelo Congresso Nacional, das leis dos direitos civis (em 1964) e do direito de voto (em 1967). Mesmo assim, a discriminação ainda é um fato cotidiano nos EUA.
05. Tratamento odontológico indolor?
Apesar dos avanços nas técnicas e nos equipamentos, a Odontologia ainda hoje é associada a dor e sofrimento, especialmente por parte das crianças, mas muitos adultos desenvolveram fobias relacionadas ao “motorzinho do dentista”.
A foto consegue representar exatamente o sentimento de pânico. Um garotinho, com um lenço amarrado no rosto (um procedimento muito usado até 50 ou 60 anos atrás para aliviar a dor) não teve dúvidas para relatar a verdade nua e crua.
Ao lado de uma porta onde se lê: “Dentista sem dor” (painless dentist, em inglês), a criança resolveu exercer o seu direito de protesto escrevendo, na parede de tijolos: “Mentiroso” (liar). A imagem foi registrada na década de 1920.
Na época, os tratamentos odontológicos eram caros e raros – na maior parte dos casos, restringiam-se à extração de dentes inviáveis. A anestesiologia progrediu bastante no último século, mas, em 1920, os dentistas apenas aplicavam anestésicos tópicos – e, algumas vezes, gás hilariante. O óxido nitroso (N2O) atua como sedativo para controlar a dor e a ansiedade.
06. Máscaras para todos
No final da década de 1910, surgiu uma pandemia que assustou os moradores do mundo inteiro, de forma semelhante à crise sanitária provocada pela Covid-19, que estamos vivenciando desde 2019.
Os recursos para conter a “gripe espanhola” eram mínimos. Os medicamentos eram ineficazes, a tecnologia de vacinas era ainda muito precária e as melhores estratégias para controlar as infecções eram ações cotidianas, como o uso de máscaras em ambientes fechados ou de grande fluxo de pessoas, e a higienização das mãos.
A pandemia matou 50 milhões de pessoas. Recebeu o nome de gripe espanhola por ter surgido na Europa e a Espanha, por não estar envolvida na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ter registrado e divulgado livremente os primeiros casos no país.
Nos EUA, o uso de máscaras se tornou obrigatório quando a pandemia atingiu a Califórnia, na costa oeste do país. A maioria da população acatou as orientações e submeteu-se às restrições (fechamento do comércio, de escolas, proibição do uso de equipamentos comunitários, etc.). a família que aparece na foto decidiu proteger até mesmo o gatinho – na época, não se sabia se os bichanos também podiam ser afetados.
Mas também houve quem contestasse as medidas de saúde pública. Surgiram manifestações contra o uso de máscaras nos meios de transporte e, quando foram reprimidas pelas autoridades policiais, os insatisfeitos voltaram a usar a proteção, mas estampavam cartazes que diziam: “Use máscara ou vá para a cadeia”.
07. Humanos e cachorros
A fotografia se tornou relativamente comum a partir da segunda metade do século 19. Mesmo assim, posar para uma foto e colocá-la em destaque na sala de casa permaneceu, durante um bom tempo, como um privilégio para os ricos.
Seja como for, humanos e cachorros são um caso de amor que se desenrola há milênios. Da mesma forma que os animais de estimação foram retratados em pinturas durante séculos, fotos ao lado dos melhores amigos se tornaram “febre” em países como Inglaterra e EUA.
Seria desnecessário, mas estas fotos demonstram que os humanos não conseguem viver sem os seus cachorros, que aparecem descontraídos ou tensos, mas sempre ao lado dos tutores. Fidelidade é a marca registrada da espécie.
08. Humaninhos e filhotes
Ainda no tema humanos e cachorros, esta imagem de 1955 antecipa um encontro inesquecível. O fotógrafo registrou o exato instante em que um pai se prepara para entregar um filhote para a criança, que revela toda a ansiedade nos olhos.
Não se sabe onde a imagem foi capturada, nem se se trata realmente de pai e filho (pode ser tio e sobrinho, avô e neto, etc.). A foto, de qualquer forma, é uma bela ilustração do relacionamento das crianças com os seus pets.
Certamente, para esta criança (que hoje em dia deve ter por volta de 70 anos), teve início naquele instante um novo capítulo na curta história da existência. A foto nos faz imaginar as brincadeiras e travessuras da nova dupla.
09. Mulheres e calças
A foto ilustra a chegada da atriz Marlene Dietrich a Paris, a capital da França, em 1933. Uma das maiores estrelas do cinema americano, Dietrich deve ter causado uma verdadeira comoção entre os parisienses, mas a imagem mostra que a atriz poderia ser considerada fora-da-lei no país.
A atriz não se envolveu em nenhum escândalo internacional, mas infringiu uma lei francesa: antiga, arcaica, superada e desnecessária, mas ainda em vigor na época: o veto do uso, pelas mulheres, de calças compridas.
Por mais absurdo que possa parecer, A Assembleia Nacional Constituinte, principal fruto da Revolução Francesa, um símbolo do liberalismo na história do Ocidente, proibiu as francesas de usarem calças compridas.
A legislação sobre o tema foi votada na última década do século 18 e só foi revogada em 2013. Durante mais de 200 anos, as mulheres “que quisessem se vestir como homens” precisavam de uma autorização da polícia. Do contrário, poderiam ser levadas em custódia. No início do século 20, uma emenda constitucional atenuou a proibição, mas as mulheres podiam usar calças apenas em duas situações: se estivessem andando de bicicleta ou montando um cavalo. A Idade Moderna europeia, que teve início com a Revolução Francesa, não foi tão moderna assim.
O gesto de Marlene Dietrich é um protesto franco: além de usar calças compridas, a foto revela sapatos masculinos, o traje é um terno completo, com direito a paletó, gravata e sobretudo e a atriz tem os cabelos curtos, “a la garçonne”, expressão francesa que pode ser traduzida “como se fosse um menino”. O corte estava na moda nos EUA, nos anos 1930.
10. A adolescente que caiu do céu
Juliane Diller, née Koepcke, era uma adolescente no Natal de 1971, que sobreviveu à queda de um avião. A jovem tinha 17 anos à época e literalmente caiu do céu. Ela era filha única de um casal de alemães radicados em Lima – Maria e Hans Wilhelm, biólogos que trabalhavam no Museu de História Natural da capital peruana.
O casal Koepcke trabalhava desde 1968 em Panguana, uma estação de pesquisa na floresta Amazônica no Peru, onde a adolescente cresceu como “uma criança da selva”, inclusive tendo aprendido técnicas de sobrevivência.
Em 1971, Juliane estava concluindo o ensino médio em Lima. A festa de formatura estava marcada para o dia 23.12, o que provocou um atraso no retorno a Panguana, que só ocorreu na véspera de Natal. A jovem viajou com a mãe pela LANSA, no voo 508.
A companhia aérea não gozava de boa reputação, mas era a única opção disponível. O avião foi atingido por um raio em pleno voo e começou a se desintegrar. Juliane caiu de uma altura de três mil metros, em local de difícil acesso na floresta tropical.
Juliane ficou presa à poltrona do avião. Especialistas creditam a sobrevivência ao fato de o assento ter amortecido a queda: a jovem sofreu apenas uma fratura na clavícula. Provavelmente, uma corrente ascendente também contribuiu para o “milagre”.
Durante 11 dias, ela permaneceu na Amazônia. Felizmente, ela sabia que as melhores chances eram seguir o curso de um rio, na esperança de encontrar um aldeamento. Exausta e cheia de picadas de insetos, Juliane finalmente encontrou uma vila.
Depois de se recuperar dos ferimentos, Juliane ainda contribuiu com as equipes de resgate, levando-as até o ponto de impacto, para a localização dos corpos das vítimas do acidente. Inexplicavelmente, 14 pessoas sobreviveram à queda do voo LANSA 508. A mãe de Juliane não teve a mesma sorte: o cadáver foi encontrado em 12.01 do ano seguinte.
Uma curiosidade: o cineasta alemão Werner Herzog havia reservado passagem para o mesmo voo, mas uma mudança de planos de última hora o salvou da queda. Anos depois, Herzog contou a história do voo no documentário “Wings of Hope”.
A família Koepcke retornou para a Alemanha. Juliane seguiu a carreira dos pais, graduando-se em Biologia pela Universidade de Kiel, em 1980, e doutorando-se em mastozoologia (ramo que estuda os mamíferos) pela Universidade Ludwig Maximilian, de Munique.
A sobrevivente retornou ao Peru, para estudar os morcegos da Amazônia. Em 1989, Juliane se casou com Erick Diller, entomologista especializado em vespas. Em 2000, após a morte do pai, a bióloga assumiu a direção de Panguana.
11. A realeza encontra o show business
Diana, princesa de Gales, foi um sopro de renovação na realeza inglesa. Nascida plebeia, ela se casou com o atual rei Charles 3º em 1981, aos 20 anos, e divorciou-se em 1996. Fonte de controvérsias, a princesa circulou por palácios e casebres, tendo se destacado pelas ações de filantropia na vasta Comunidade Britânica.
Em 1984, a princesa conheceu o elenco de “Blackadder”, seriado pseudo-histórico de TV estrelado pelo ator Rowan Atkinson (mais conhecido por aqui como Mr. Bean). A série teve quatro temporadas e, em cada uma delas, Atkinson deu vida a um membro fictício da nobreza do país, em quatro épocas diferentes.
O encontro entre a princesa e o plebeu ocorreu no final do Royal Variety Show, uma apresentação anual de caridade realizada em Londres, a capital do Reino Unido. As duas celebridades estavam sob os holofotes, com uma nuvem de fotógrafos e repórteres sempre em busca de novidades.
Na foto que registrou a apresentação, é quase possível ouvir Diana dizer simplesmente “You!”, ao avistar o ator festejado. Mas, na verdade, em todos os eventos dos quais participou enquanto esteve casada com Charles, a princesa sempre foi a estrela principal.
12. Um Obama pirata
O advogado Barack Obama foi o 44º presidente dos EUA, tendo ocupado a Casa Branca de 2009 a 2017. Ele se destacou como o primeiro afro-americano a ocupar a presidência do país. O atual presidente, Joe Biden, foi o vice-presidente, mas quem sucedeu Obama foi Donald Trump, que ficou famoso pela gestão desastrosa.
Muito antes disso, no entanto, Obama já era o centro das atenções. Nascido em Honolulu, capital do Havaí (o 50º Estado americano), o político teve um dia de glória no Halloween de 1971, quando tinha dez anos.
Ele participou da festa, ao lado da mãe Ann Dunham, vestido de pirata, com direito a chapéu com caveira e ossos cruzados, tapa-olho, argola de ouro na orelha e um bigode falso. A criança, à época conhecida como Barry, já tinha as suas preocupações: a festa do Halloween foi organizada para arrecadar fundos para cães doentes no arquipélago.
Quase 30 anos depois da foto, Barack Obama assumiu o cargo mais importante do planeta: o de presidente dos EUA. Aparentemente, este pequeno pirata realmente encontrou um baú repleto de ouro.
13. Um memorial para o melhor amigo
Hachiko foi um akita japonês que se tornou um exemplo de lealdade canina. Ele foi adotado, em dezembro de 1923, pelo professor universitário Hidesaburo Ueno. Durante anos, o cachorro fiel compareceu pontualmente, todos os dias, para esperar o amigo na Estação de Trens de Shibuya, em Tóquio.
Em 1925, Ueno sofreu um acidente vascular cerebral enquanto estava na universidade e morreu. Hachiko, no entanto, não desistiu de esperar pelo tutor. Durante dez anos, até a sua morte, ele voltou à estação, sempre no mesmo horário, na esperança de reencontrar o professor.
Uma estátua de Hachiko foi instalada na estação ferroviária, como símbolo de amizade e fidelidade. O memorial em Shibuya é um dos principais pontos turísticos de Tóquio. A história do akita foi registrada, em 2009, no filme “A Dog’s Story” (Sempre a seu lado, no Brasil), estrelado por Richard Gere. Muito antes, em 1987, “Hachiko Monogatari” fez sucesso nos cinemas do Japão.
14. Sapatos contra assédio sexual
Esta moda pegaria fácil hoje em dia. Em 1955, um sapateiro de Roma, a capital da Itália, resolveu confeccionar calçados sob medida para evitar os “perigos das ruas”. Batizados de sapatos de defesa, eles apresentavam ponteiras metálicas no salto e no bico.
O objetivo era reduzir a ação dos assediadores. Na época, a ideia foi muito mal recebida pela imprensa italiana – formada majoritariamente por jornalistas do sexo masculino. Artigos em jornais e revistas acusaram as mulheres de “exibirem a própria vaidade”, “afetarem boa aparência que encorajaria as perseguições” e “usarem esporas para evitar a interação com o sexo oposto”.
Muitas mulheres, por outro lado, adotaram a inovação e passaram a se sentir mais seguras quando transitavam desacompanhadas pela Cidade Eterna. Na época, as cantadas não solicitadas não eram consideradas contravenções.
O assédio sexual é um problema sério. No Brasil, um estudo realizado pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, em 2019, revelou dados alarmantes:
- 97% das 1.081 mulheres entrevistadas disseram já ter sido vítimas de assédio nos meios de transporte coletivo (inclusive táxis e carros por aplicativo);
- 71% afirmaram conhecer alguma mulher que já sofreu assédio sexual em espaços públicos;
- 46% não se sentem confiantes em usar meios de transporte.
Os flagrantes revelaram as mais diversas situações. As mais citadas pelas mulheres ouvidas são as seguintes:
- receber olhares insistentes;
- receber cantadas indesejadas;
- ouvir comentários com teor sexual;
- ser encoxada;
- passarem a mão pelo corpo;
- visualizar gestos obscenos.
15. Sem saudação para Hitler
Não existem fontes confiáveis sobre esta história, que tanto pode ser um fato, quanto um mito criado no Pós-Guerra. August Landmesser foi um operário do Estaleiro Blohm & Voss que ficou famoso por supostamente recusar-se a fazer a saudação nazista, em 1936, durante o lançamento de um navio de treinamento alemão.
Landmesser havia se filiado ao Partido Nazista em 1931, não por convicções políticas, mas na esperança de conseguir um emprego. Em 1935, o operário conheceu Irma Eckler, uma judia, por quem se apaixonou.
No ano seguinte, o casal registrou os proclamas de casamento em Hamburgo, mas não tiveram permissão legal: de acordo com as “Leis de Nurenberg”, a união entre uma judia e um ariano (a suposta raça superior alemã) era considerada um crime. A foto registra o descontentamento de Landmesser com o rumo que o governo estava tomando.
O casal se uniu informalmente e, em 1937, quando Irma estava grávida pela segunda vez, os dois tentaram cruzar a fronteira com a Dinamarca, mas foram presos. Eles alegaram que não sabiam da origem judaica e acabaram sendo absolvidos, em maio de 1938, por falta de provas.
Mas apenas dois meses depois, em julho, o casal foi preso novamente. Landmesser foi condenado a 30 meses de reclusão no Campo de Concentração de Börgermoor, por ter “desonrado a raça”.
Irma foi encaminhada a Fuhlsbüttel, onde nasceu a segunda filha do casal. Posteriormente, ela foi transferida para os campos de Oranienburg, Lichtenburg, Ravensbruck e finalmente para Bernburg, onde morreu provavelmente em 1942. Neste campo, 14 mil judeus perderam a vida.
Landmesser foi libertado em 1941 e incorporado ao exército nazista três anos depois. Ele foi declarado “desaparecido em missão” durante batalha na Croácia, em 1944.
Em 1949, foram expedidas as declarações de Irma e Landmesser. Dois anos depois, o casamento foi declarado legal pelo Senado de Hamburgo. As filhas obtiveram permissão para adotar o sobrenome do pai.
16. Um novo amigo no front
A Batalha do Bulge ficou conhecida como um dos mais sangrentos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Foi uma tentativa do exército nazista de retomar o controle da frente ocidental: em dezembro de 1944, os alemães ocuparam a floresta de Ardenas, na Bélgica, e tentaram avançar por Luxemburgo e também por território francês.
O conflito se estendeu até 25.01.1945. Estima-se que os aliados (especialmente ingleses e americanos) tenham sofrido quase 90 mil baixas, enquanto 85 mil soldados alemães perderam a vida. Os alemães não conseguiram controlar o front ocidental nesta última ofensiva nazista.
A foto registra um momento bem mais ameno. Apesar do frio congelante, o cachorro parece feliz por ter encontrado alguém para ajudá-lo no meio de tanta confusão. Os humanos deveriam imitar os cães e deixar as guerras de lado.
17. De volta a Marlene Dietrich
A atriz protagonizou uma cena que foi eternizada em foto publicada na revista “Life”, uma das principais publicações americanas. A imagem mostra Marlene Dietrich beijando um soldado que voltava da Europa, no final da Segunda Guerra Mundial.
O jovem, então com 23 anos, disse à imprensa: “Eu não sabia quem era ela. Só me disseram que era uma estrela de cinema e eu estava com muita vontade de beijar”. O soldado Carus Olcott, no entanto, só conheceu o desconhecimento 73 anos depois do beijo.
“Life” usou a seguinte legenda para a foto: “Enquanto soldados seguram as suas famosas pernas, Marlene Dietrich é beijada por um soldado que retorna para casa”. Os combatentes estavam a bordo do USS Monticello, um navio italiano adquirido pelos EUA antes do conflito. A embarcação voltava do oceano Pacífico, onde participou da invasão ao Japão.
Dietrich é uma atriz alemã que chegou ao estrelato em Hollywood. Ela ficou conhecida por suas posições políticas – e por sua língua sempre afiada. Antinazista convicta, a celebridade tornou-se cidadã americana em 1939, pouco antes do início do conflito mundial.
18. Mulheres no Irã
Quem observa imagens das iranianas cobertas dos pés à cabeça, ou recebe informações sobre a atual condição feminina no país certamente não é capaz de fazer nem mesmo uma pálida ideia de como era a vida no Irã até a eclosão da Revolução Islâmica, em 1979.
Naquele ano, o xá Reza Pahlevi foi deposto e, ascendeu ao alto comando político e religioso do país o líder xiita Ruhollah Khomeini, que governou o Irã até a sua morte, em 1989, em um regime teocrático sem representação popular.
Pahlevi, simpatizante do Ocidente, estava envolvido em graves escândalos de corrupção, mas ninguém poderia imaginar o que aconteceria ao país – especialmente às mulheres – nos anos seguintes à revolução.
Não havia segregação de gênero antes da revolução. As mulheres circulavam livremente, tinham direito a voto e, apesar de haver escolas femininas, elas podiam frequentar universidades, trabalhar, circular sem uma presença masculina ao lado. Em 1979, 46% do corpo discente da Universidade de Teerã era composto por mulheres.
No início do século 20, em 1936, o uso do véu islâmico foi oficialmente dispensado. Mas muito antes, nas principais cidades do Irã, o acessório era usado apenas em espaços públicos e frequentemente era substituído por um cachecol ou lenço.
Em 1941, ocorreu a Revolução Branca, na qual Pahlevi depôs o próprio pai, Reza Khan. Teve início a modernização. As mulheres conquistaram o direito de voto e, em 1963, obtiveram direitos políticos iguais aos dos homens.
A idade mínima para o casamento passou de 13 para 18 anos. As mulheres obtiveram o acesso ao divórcio (antes uma prerrogativa masculina) e a legislação aboliu a poligamia. O xá era autocrata, mas progressista. Muitas mulheres assumiram postos-chave, como ministras de Estado e juízas.
Pahlevi, no entanto, regeu o país de forma cada vez mais repressiva. Os adversários políticos foram mortos ou exilados. Em 1971, ele se declarou “shahanshah, o “rei dos reis”. Líder absoluto, ele atraiu a oposição de líderes religiosos, que depuseram o monarca em 1979.
Novos ares, no entanto, parecem estar soprando em direção ao país. Em 13.09.22, Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, foi presa pela polícia da moralidade iraniana, sob a acusação de não estar vestindo o véu islâmico corretamente. A lei islâmica exige que as mulheres usem pelo menos o hijab, que cobre a cabeça parcialmente.
Mahsa morreu pouco depois. As autoridades declararam que a jovem tinha sofrido um ataque cardíaco. A população não aceitou as explicações e os primeiros protestos ocorreram ainda no funeral da jovem, em Saqqez, no oeste do país: diversas mulheres arrancaram os véus em pleno cemitério.
Desde então, manifestações estão acontecendo continuamente em diversos locais do Irã, que incluem desde demandas por mais liberdade até a deposição do regime. Durante a Copa do Mundo FIFA (Catar, novembro/dezembro de 2022), houve protestos nos estádios e nas ruas.
Diversas mortes vêm acontecendo no Irã, em função das manifestações. Não existem números oficiais, mas a entidade Iran Human Rights, sediada na Noruega, diz que 201 pessoas, incluindo 23 crianças, foram executadas pelas forças de segurança.