FIV e FELV são duas viroses relativamente comuns, com algumas características semelhantes. O diagnóstico precoce é importante para garantir a saúde e a qualidade de nossos gatos, mas igualmente importante é o esclarecimento dos proprietários de felinos a respeito da transmissão, epidemiologia e tratamento do animal infectado.
Na verdade, os dois termos são abreviaturas dos vírus, mas, no Brasil, são utilizados para designar tanto os agentes patogênicos, como do conjunto de enfermidades que eles provocam. FIV é a sigla em inglês para Feline Immunodeficiency Virus e FELV, para Feline Leukemia Virus.
AELV, ou leucemia felina, é transmitida por retrovírus gama de vários subtipos. A FIV é causada por um lentivírus que transmite a AIDS felina (síndrome da imunodeficiência felina). Nenhuma das duas enfermidades é transmissível a humanos, nem a outros animais domésticos.
Não há estudos determinantes da transmissão para outros felídeos, como jaguatiricas e gatos-do-mato. FIV, HIV e SIV apresentam estruturas semelhantes, mas afetam exclusivamente espécies ou gêneros diferentes (respectivamente gatos, humanos e símios).
A transmissão da FIV e FELV
Tanto a FIV como a FELV são transmitidas por contato direto – como lambidas, arranhões e mordidas – e também pela placenta ou amamentação (transmissão vertical da mãe para os filhotes) e por transfusões de sangue não analisado. A FIV é transmitida pela saliva, pelo sêmen ou por secreções vaginais. A FELV, pela saliva, secreções nasais e lacrimais, fezes e urina de animais infectados.
A probabilidade de transmissão destas duas enfermidades é consideravelmente maior em locais onde haja grande quantidade de gatos, em que seja possível o contato direto e frequente entre os bichanos. Outros ambientes de grande fluxo de animais, como clínicas veterinárias e pet shops, também favorecem a instalação das infecções.
A boa notícia é que os dois vírus são bastante frágeis fora do organismo do hospedeiro. No meio ambiente, são facilmente neutralizados por detergentes e desinfetantes domésticos e mesmo pelo calor. Desta forma, a presença de um gato infectado quase nunca significa que todos os gatos da mesma casa estejam com FIV ou FELV.
No Brasil, existe vacina apenas contra o FELV (é a quíntupla, pouco recomendada pelos veterinários, que também protege contra panleucopenia, calicivirose, rinotraqueíte e clamidiose). A falta de demanda nas clínicas, no entanto, desencoraja a importação, tornando a vacina cara – e rara em muitas localidades do país.
A evolução da FIV e FELV
FIV e FELV favorecem a instalação de doenças oportunistas, especialmente as transmitidas por fungos, bactérias e outros vírus. Com isto, decai drasticamente a expectativa de vida dos gatos. Além disto, a qualidade também fica comprometida. Com a queda da imunidade orgânica, as enfermidades se acumulam e, por isto, o diagnóstico e o tratamento são fundamentais.
A imunodeficiência permite o desenvolvimento de neoplasias (tumores malignos, especialmente os linfomas) e diversas infecções secundárias, como distúrbios gastrointestinais e urinários, anemias profundas, reações alérgicas (inclusive com a perda de pelos), micoses, problemas na boca, nas orelhas e nos ouvidos.
A FIV evolui lentamente (ela é provocada por um lentivírus, classificação dos vírus com longo período de incubação) e provoca ainda problemas neurológicos. Filhotes e gatos jovens são mais suscetíveis à infecção por FIV.
O diagnóstico da FIV e FEV
O ideal é não esperar o surgimento dos sintomas. Gatos devem ser submetidos regularmente a exames com o veterinário (por exemplo, durante a renovação das vacinas). Há exames laboratoriais que apresentam grande percentual de acertos. No caso de dúvida, os animais podem ser submetidos a uma contraprova um ou dois meses depois do primeiro teste.
Gatos recém-nascidos devem ser avaliados ainda antes da primeira vacinação. Os animais adotados (em especial os vindos da rua, que não devem ser introduzidos no novo ambiente, principalmente quando ele é partilhado por outros gatos), os que transitam livremente fora de casa e os doadores de sangue também devem ser testados.
O diagnóstico precoce é útil não apenas para dar melhores condições de vida e saúde aos gatos infectados por FIV ou FELV, mas é também uma medida profilática, impedindo a disseminação das doenças entre as populações. Descontrolado, este contágio poderia determinar inclusive uma epidemia, com graves danos não apenas para os pets, como para seus proprietários.
Nem FIV nem FELV têm cura. Vale lembrar que os donos de gatos que vivem isolados (em apartamentos, por exemplo), não precisam ter tantos cuidados como os devidos aos animais que saem para a rua ou moram em dois domicílios.
A castração precoce (ainda enquanto filhotes) reduz os riscos das duas doenças. Sem necessidade de procurar parceiros, os gatos escapam menos vezes e também quase não se envolvem em disputas por território. Vale lembrar que a castração tardia exerce efeitos quase nulos sobre os hábitos e o temperamento de um animal adulto.
O prognóstico para FIV e FEV
Em primeiro lugar, é preciso afirmar que nem todo animal soropositivo para qualquer um dos vírus está normalmente doente. A principal característica da FIV e da FELV é provocar a queda de imunidade, predispondo o organismo a contrair uma série de doenças; são elas que prejudicam a saúde dos gatos. Podem chegar a provocar a morte.
Em alguns casos, de acordo com a idade e constituição orgânica, alguns gatos conseguem superar as infecções oportunistas e manter a agilidade e curiosidade por longo tempo (é a chamada patologia regressiva, observada em 30% dos gatos expostos ao vírus).
Mesmo que o gato continuando portando o vírus da imunodeficiência, como já foi dito, o período de incubação do FIV é bastante lento; em animais mais velhos, as infecções podem nem chegar a se manifestar. As condições gerais de saúde também podem retardar as doenças.
Quando as enfermidades surgem, no entanto, o tratamento aconselhado é apenas de suporte. Alguns antirretrovirais usados para combate da AIDS humana demonstraram resultados satisfatórios, mas os medicamentos são muito caros.
Os donos de gatos infectados devem se preocupar em proporcionar boa alimentação, cuidados com a higiene e acompanhamento veterinário. Os primeiros sintomas da FIV são febre (o animal fica com o focinho ressecado e a frequência cardiorrespiratória se acelera; a forma mais adequada, no entanto, é tomar a temperatura com um termômetro, por via anal), inchaço dos gânglios linfáticos e aumento da suscetibilidade a infecções intestinais e cutâneas.
Estudos indicam que a expectativa de vida para portadores de FELV é menor. Portanto, é sempre bom ficar atento a alguns sinais: espirros constantes, mucosas da boca, nariz e orelhas esbranquiçadas, falta de apetite e apatia merecem um passeio até a clínica.