A troca de olhares, o coração acelerado, um frio na barriga. O rapaz se aproxima, talvez com uma estratégia bem batida (como “você vem sempre aqui?”, por exemplo), a conversa prossegue, o clima esquenta, surgem os primeiros beijos, as primeiras ficadas, em alguns dias o pedido de namoro e em poucos meses o de casamento. Tempos depois, o casal comemora bodas de prata e garante que foi amor à primeira vista. Mas será que isto realmente existe?
De acordo com estudos feitos por psicólogos e sociólogos, apenas 10% dos casais afirmam ter se apaixonado à primeira vista. Para a imensa maioria, portanto, a paixão veio com o conhecimento e a familiaridade permitidos pelo relacionamento e o amor surgiu aos poucos, a partir da descoberta de qualidades e de defeitos aceitáveis. Alguns casais chegam a afirmar que a primeira impressão foi negativa. Somente depois de alguns encontros em eventos sociais é que se “acendeu a chama”.
Os estudiosos avaliam que o amor à primeira vista é apenas um relacionamento que deu certo a partir do primeiro contato. O par avalia a beleza, o bom humor, a inteligência, e o namoro vai se tornando mais intenso com os novos encontros. O prazer sexual complementa o desejo de estarem juntos, novas descobertas indicam que foi encontrado o parceiro perfeito. Na verdade, não houve amor à primeira vista, mas uma forte atração, geralmente de ordem física. Com a convivência, surgem outros sentimentos e, para o casal que deu certo (e foi feliz para sempre), existe a certeza de que Cupido os flechou logo na primeira troca de olhares.
Mas um relacionamento é construído gradualmente e precisa contar também com as circunstâncias. Talvez, se este casal apaixonado “desde sempre”, tivesse perdido o telefone trocado no primeiro dia, o contato teria se perdido. São muitas as contingências: uma jovem enamorada pode chegar em casa e descobrir que a família está de mudança para outra cidade, o rapaz descobre que vai ser transferido no emprego. Então, o tal amor à primeira vista morre na praia, com exceção dos raros casos em que a relação sobrevive à distância e a coincidência faz com que os que perderam o telefone se encontrem em uma esquina qualquer da vida. Mas exceções apenas confirmam a regra.
Alguns estudos indicam que a paixão dura, em média, entre 18 e 30 meses. Depois disto, muitos namoros e casamentos esfriam, se outros sentimentos não tiverem sido construídos pelo casal. No entanto, se houver amor, as uniões podem sobreviver (os parceiros precisam estar atentos para descobrir formas de se apaixonar novamente – um casal com 50 anos de vida em comum se reapaixonaram várias vezes).
Amor à primeira vista: A palavra da ciência
Geneticistas da Austrália descobriram que alguns genes de nosso mapa cromossômico nos tornam mais suscetíveis a determinadas características, o que traria luz a algumas compatibilidades e escolhas, e explicaria um velho ditado, que diz: “a beleza está nos olhos de quem vê”. Na realidade, o estudo ainda está sendo feito com moscas; insetos com genes similares tendem a se aproximar.
O objetivo da pesquisa é estabelecer o controle da população das moscas, ativando ou desativando genes em suas sequências de DNA. Como o nosso genoma é mais complexo, a carga genética responderia pela formação de um número muito menor de casais.
No entanto, isto beira o determinismo biológico, defendido por alguns biólogos que afirmam sermos totalmente controlados pelos genes. Na verdade, os cromossomos são responsáveis por muitas características, inclusive a maior capacidade de perceber sabores e aromas, mas a vida é mais do que isto.
As experiências por que passamos, os grupos com quem convivemos, os critérios da família que nos educou, os estudos que recebemos, a religião, a cultura, a vivência profissional, tudo isto ajuda a moldar a nossa personalidade. Se o temperamento é herdado, a personalidade é construída aos poucos.
O que importa é que os casais se apaixonem à primeira vista, gradualmente, depois de terem se evitado por um longo período, “como o Diabo foge da cruz”. O importante é amar. O beatle John Lennon decretou há tempos: “all you need is love”.