Desde quando os nossos ancestrais começaram a tentar entender o universo que existe à nossa volta – dos animais às estrelas, passando pela invenção da roda e da roldana, da domesticação do fogo e de outras criações que mudam continuamente a nossa vida, a ciência sempre ocupou papel de destaque. No entanto, algumas pesquisas e estudos tomam proporções impressionantes: são as esquisitices da ciência.
Para ficar em poucos exemplos, o entendimento do nosso sistema solar, a produção de antibióticos e o desenvolvimento das técnicas de transplantes de órgãos são algumas conquistas que transformaram inclusive o nosso modo de entender a vida. Mas, mesmo sem falar de teorias absurdas – como a da abiogênese, do século XIX, segundo a qual a vida poderia ser espontaneamente gerada a partir de elementos inorgânicos, ou não sabidos como orgânicos: ratos, por exemplo, poderiam nascer a partir de um pano úmido com farinha deixado em local escuro – há histórias que não fazem jus ao renome dos nossos principais cientistas.
Vacas magnéticas
Em 2008, um grupo de cientistas alemães divulgou um fato inédito: as vacas tendem a alinhar seus corpos em paralelo às linhas de indução do campo magnético da Terra. Em outras palavras, elas utilizariam os polos do planeta para se orientarem. Para simplificar ainda mais, os bovinos estão quase sempre com a cabeça voltada para o norte ou o sul.
Os dados foram recolhidos a partir de observações de imagens captadas pelo Google Earth. Do grupo de seres dotados com esta capacidade, estão moluscos, algumas bactérias, roedores e veados. Não foi revelado por que animais de características semelhantes, como renas, alces, bisões e búfalos, não apresentariam o mesmo “talento”.
A polêmica foi levantada quando um grupo da República Tcheca tentou refazer os experimentos e não obteve os mesmos resultados. Os sábios que criaram esta esquisitice da ciência se defenderam afirmando que muitas fotos foram desconsideradas, seja por não oferecem condições de identificar a espécie, seja pela proximidade com linhas de alta tensão, já que a corrente elétrica gera magnetismo e poderia desorientar as vacas.
O fato é curioso: até hoje, não surgiram comprovações ou refutações científicas sobre a capacidade de orientação. A principal questão, no entanto, é: que utilização prática tem esta pesquisa, que consumiu dinheiro e tempo de vários gênios? Ela não melhora as crias, nem a qualidade do leite e nossas vaquinhas são criadas em confinamento há centenas de anos, sem necessidade de procurar campos magnéticos para a orientação. Os animais migratórios, que chegam a viajar centenas ou milhares de quilômetros para se acasalar ou procurar comida, podem ser beneficiados com a bússola interna, mas o gado só precisa conhecer o pasto, local do cocho e da água.
Cheiro de bacon
Uma pesquisa de 2009, realizada na Inglaterra, quis identificar os aromas que mais agradam a homens e mulheres. Os três primeiros colocados foram pãezinhos recém-saídos do forno, lençóis limpos e grama aparada. Peixe frito, comida feita na hora, café e a brisa depois da chuva também ficaram bem cotados. As mulheres ainda citaram baunilha, cheiro de flores, chocolate, bebês e lavanda entre os seus aromas prediletos.
A lista dos homens é um tanto mais bizarra: inclui bacon (7ª posição) e gasolina (12ª). Os bebês ficaram em 18º. O experimento relaciona cheiros que podem gerar sentimentos de felicidade e atração, lembranças queridas, ou quer gostaríamos de esquecer.
Portanto, sempre de acordo com as esquisitices destes homens de ciência britânicos, na preferência dos homens, um café da manhã e a sensação de acelerar um carro são mais prazerosos do que a de segurar um filho nos braços.
Seria esta a comprovação de que a maternidade é natural e a paternidade, cultural, como pregam algumas correntes? Ou seria apenas uma falha na metodologia da pesquisa, que realizou questionários aleatórios e abertos – apenas quais são os cheiros preferidos – sem relacioná-los a atividades do dia a dia, como a casa, o emprego e o lazer?
Mas nem tudo o que esquisitice na ciência é “coisa de doido”. Diversos estudos realizados em várias partes do mundo chegaram a algumas conclusões bizarras, mas de utilidade para a saúde física e psicológica de homens e mulheres. Confira algumas.
Razões para não se casar
Namorar e casar são práticas humanas ancestrais. Quase todo mundo gosta de ter um parceiro, passear de mãos dadas na praia em um dia de sol, preparar uma surpresa sem nenhum motivo aparente. Mas o site de uma rede de farmácias inglesa descobriu alguns mitos entre as “alegrias do amor”. O primeiro deles é sobre aumento de peso: mulheres engordam em média três quilos no primeiro ano de relacionamento. A tendência masculina é para o emagrecimento. Homens que não querem emagrecer já têm um primeiro motivo para esfriar as pretensões conjugais.
Desta vez, foram pesquisadores da Universidade de Oxford (também na Inglaterra), com métodos experimentais mais científicos, que cravaram: o casamento afasta os amigos. O estudo da rede de farmácias tem caráter apenas de enquete.
Foram ouvidas 540 pessoas de ambos os sexos e a esmagadora maioria afirmou ter se afastado de dois grandes amigos em um ano. Este número parece pouco, mas não é. De acordo com os mesmos especialistas de Oxford, mantemos apenas cinco fortes relacionamentos de amizade: o casamento destrói 40% deles. Aparentemente, a culpa é da paixão, mas amizades destruídas por viagens românticas dificilmente são reatadas após 12 meses de afastamento.
O terceiro motivo: o casamento provoca doenças. Não é preciso ficar tão alarmado. Isto só acontece quando as brigas são muito constantes. Um estudo americano da Universidade de Ohio conheceu amostras de 37 casais e descobriu que as batalhas conjugais, especialmente quando duram muitos dias ou acontecem sempre pelos mesmos motivos (como o ciúme ou a desorganização do parceiro).
O estudo identificou também que ferimentos demoravam mais para cicatrizar entre os casais esquentados. Os voluntários tiveram um dispositivo a vácuo implantado no antebraço, que provocava pequenos machucados e mensurava o tempo de cicatrização.
A culpa pode estar na redução da ocitocina, hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise. Ela atua na melhora das defesas imunológicas e, entre outras funções, parece desenvolver sentimentos de empatia. Durante uma relação sexual, troca de carícias ou mesmo um beijo rápido de despedida (entre pessoas que se amam), a produção do hormônio é ampliada. Assim, quando dois bicudos desistem dos carinhos, podem estar prejudicando a própria saúde.
Mais cicatrização
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte está estudando e aplicando um tratamento que vai fazer muita gente torcer o nariz: o uso de larvas terapêuticas. São crias de moscas ainda imaturas. Desde 2013, a terapêutica já foi aplicada e cinco pacientes. Já haviam sido realizadas experiências com cobaias, aqui e em vários países.
O desbridamento biológico – é o nome da técnica – é bastante simples. São usadas larvas de uma varejeira comum em Natal. Depois de coletadas, criadas e esterilizadas em laboratório, os pequenos animais são apostos em feridas por 48 horas. O objetivo é eliminar apenas o tecido morto, preservando as células saudáveis. O tratamento é restrito às feridas resistentes e de difícil cicatrização.
O tratamento convencional, quando não há resposta do tratamento a medicamentos, consiste em raspar a região lesionada com um bisturi, mas no procedimento uma parte considerável de tecido vivo também é retirada. Ele é considerado invasivo e muito doloroso. Além disto, é mais caro que a terapêutica com as larvinhas.