É muito importante saber como prevenir, identificar e superar os chamados ataques do coração. Dados do SUS – Sistema Único de Saúde, vinculado ao Ministério da Saúde – atestam que entre 300 mil e 400 mil pessoas sofrem um enfarte – ou infarto – do miocárdio a cada ano, provocando mais de 60 mil mortes.
Apesar de a taxa de mortalidade estar caindo, trata-se de uma doença extremamente letal: isoladamente (sem outras intercorrências, como hipertensão arterial associada ao diabetes ou metástases, por exemplo), é a principal causa de óbitos no país. A maior parte dos casos fatais ocorre na primeira hora depois do acidente e a consequente demora em procurar socorro médico.
As causas do enfarte
São muitas as causas primárias do enfarte (ou infarto) do miocárdio. Entre elas, relacionamos os maus hábitos alimentares, tabagismo, consumo excessivo de álcool (mais de três doses diárias para homens e uma para mulheres, desde que não haja contraindicação médica), estresse, sedentarismo, histórico familiar (especialmente entre os pais e avós).
Com relação às bebidas alcoólicas, é muito comum na Europa a indicação de um cálice de vinho tinto diário. No entanto, as condições climáticas são muito diferentes das encontradas no Brasil e, portanto, o consumo de vinho, assim como o de nenhuma outra bebida, pode ser considerado indicação terapêutica.
A obesidade (inclusive o sobrepeso), especialmente associada a outros fatores, também é muito prejudicial ao coração: se a cintura abdominal, medida logo abaixo das costelas, for superior a 90 cm para homens e 80 cm para mulheres, o sinal amarelo está aceso (e não adianta recorrer a uma lipoaspiração: o problema está na gordura intra-abdominal, a que envolve órgãos como estômago, intestinos e fígado).
Todos estes fatores representam riscos de aumento da pressão arterial. O valor considerado ideal é de 120 mmHg por 180 mmHg, o popular 12×8. Quando estes números se elevam, significa que há uma pressão maior para que o sangue circule pelas veias, o que coloca o coração e todo o sistema sanguíneo em risco. Casos de hipertensão arterial são, em maioria, hereditários, mas todas as causas aqui relacionadas aumentam o problema.
Pessoas sem problemas hereditários – e que também cultivem bons hábitos de vida – dificilmente terão problemas com a saúde do coração, mas é preciso afastar-se das causas primárias. Este é o motivo por que os especialistas insistem tanto em recomendar exercícios físicos.
É preciso controlar também os acessos de raiva, os impactos das boas e más emoções e, sempre que possível, é necessário não se expor à poluição do ar.
Controlar, no entanto, não significa eliminar, mas encontrar maneiras adequadas de expressão. “Engolir sapos” pode conduzir a estados depressivos, que estão associados a doenças coronarianas.
Para os “apaixonados pela poltrona”, inicialmente bastam 30 minutos de caminhada três vezes por semana (que podem ser substituídos por braçadas em uma piscina ou pedaladas), a redução do consumo de gordura e o cultivo de hábitos que reduzam os efeitos do estresse: meditação, ioga, frequência a cultos de alguma religião e até um puro e simples bate-papo com amigos.
O estresse, aliás, é atualmente o principal motivo para o aumento de casos de enfarte. Há 30 anos, qualquer paciente com menos de 60 anos que entrasse na Emergência Médica com desconforto precordial (dor do lado esquerdo do tórax), dificuldades para respirar, formigamento no braço, indigestão e outros sinais era motivo de muita curiosidade: um enfarte estava acontecendo, e isto era uma situação rara.
As mulheres – que eram minoria entre os casos, porque o estrogênio, principal hormônio feminino, protege fortemente o músculo cardíaco – começaram a frequentar perigosamente as estatísticas, com um complicador: os sintomas são menos sensíveis. Entre os motivos, a maior participação no mercado formal de trabalho, especialmente nos cargos de chefia, e a inevitável dupla jornada.
Há 50 anos, nos casos de doenças cardiovasculares (hipertensão, AVC – acidente vascular cerebral –, além do enfarte), a proporção era de nove homens para uma mulher. Hoje, é de seis homens para quatro mulheres. Os casos assintomáticos também impressionam: entre mulheres de 45 anos, o risco de um enfarte sem dor no peito é 30% mais alto – o percentual só se torna equivalente entre os dois sexos a partir dos 75 anos.
A idade de risco para os problemas do coração foi sendo reduzida e hoje a maior incidência está entre os 40 e 50 anos. Mesmo assim, não é incomum que jovens com menos de 30 anos sofram enfartes. Os efeitos do enfarte do miocárdio são mais nocivos entre jovens e pessoas de meia idade do que entre os idosos, porque o organismo humano desenvolve, com o passar dos anos, a circulação colateral – mecanismo de defesa contra a formação das placas de gordura – a aterosclerose.
São pequenos vasos sanguíneos que se desenvolvem ao redor das artérias principais, formando canais que facilitam a circulação. Sem este mecanismo, as placas que se formam lentamente se encaminham para o coração, provocando um enfarte de consequências mais danosas. O funcionamento é idêntico ao do AVC, mas, neste caso, o problema surge do cérebro e no encéfalo.
Outro motivo para o enfarte precoce do miocárdio é a má alimentação: o consumo cada vez maior do chamado fast food, dos alimentos industrializados (sopas prontas, congelados, embutidos, refrigerante, sucos “de caixinha”, etc.) determina um consumo elevado de sal, substância fundamental para a saúde humana, mas, em níveis acima de 12 gramas diários, determina a retenção de líquidos no organismo. O sangue em maior volume nos vasos contribui para determinar ou ampliar os problemas de circulação.
Outro fator de risco é a prática de exercícios físicos sem orientação profissional e avaliação médica regular. A maioria dos enfartos, nestas condições, ocorre em função de problemas congênitos não diagnosticados, e não da aterosclerose. Em outubro de 2004, o zagueiro Serginho (30 anos), do São Caetano, sofreu um ataque fulminante em pleno campo de futebol.
O atleta sofria de espessamento do músculo cardíaco, a segunda principal causa das miocardiopatias. Em geral, a patologia só surge no final da adolescência e é quase sempre assintomática. Estudos realizados pela Universidade Laval, do Canadá, com corredores de longas distâncias, identificaram problemas como microlesões no coração, alterações no bombeamento cardíaco e da oxigenação sanguínea.
Os testes foram repetidos três meses depois e indicaram a regressão das alterações. Isto, no entanto, não isenta nenhum dos atletas a atingir uma sobrecarga que determine um enfarte fatal. Além disto, os médicos que desenvolveram os estudos afirmam que existem efeitos cumulativos, ao menos no curto prazo.
O que é um enfarte?
O enfarte é a consequência máxima da falta de oxigenação do miocárdio, o músculo cardíaco. Ele ocorre em função da formação das já comentadas placas de gordura – os ateromas – que se prendem às paredes dos vasos sanguíneos próximos ao coração.
Com o acúmulo destas placas e o consequente entupimento das artérias, o sangue rico em oxigênio que é levado por estes vasos fica impossibilitado ou tem dificuldade para circular pelos átrios e ventrículos, provocando a necrose (ou morte) do músculo.
Quando o órgão não é totalmente comprometido – condição em que a morte do paciente é praticamente certa – ocorre a chamada isquemia, que circunda a região necrosada, mas sem os mesmos efeitos nocivos. A isquemia provoca sofrimento para estas células adjacentes e é uma condição de urgência médica.
O diagnóstico é obtido a partir do eletrocardiograma (ECG), raios X do peito e vários exames de sangue, especialmente com marcadores para identificar as regiões atingidas. Se o paciente estiver consciente, a descrição dos sintomas é muito importante para as decisões dos médicos.
Tratamento do infarto
O tratamento imediato nos casos de suspeita de enfarte do miocárdio inclui oxigênio, nitroglicerina sublingual e ácido acetilsalicílico (AAS). O sulfato de morfina, que era muito empregado em pacientes infartados, foi abandonado, já que vários estudos apontam para um aumento do número de mortes entre indivíduos com doenças coronarianas. O oxigênio, no entanto, precisa ser muito bem dosado, aplicado apenas por paramédicos qualificados e pela equipe de saúde do hospital.
Aplicado em altas doses, o gás aumenta as áreas de necrose e isquemia.
A medicação nos dias seguintes depende da evolução do quadro. Dependendo da extensão da lesão, pode ser necessário submeter o paciente a uma intervenção cirúrgica. Por fim, nos casos em que o coração, após o enfarte, não apresenta condições de cumprir suas funções, há indicação de transplante.
Superando um enfarto
O ideal é que todas as condições determinantes dos fatores de risco aqui descritas sejam abandonadas e os bons hábitos, adquiridos desde a infância. No entanto, as situações do cotidiano, como jornadas de trabalho excessivas, muitas vezes impedem a adoção de uma alimentação balanceada ou a prática de exercícios. Entre crianças e jovens, é bastante difícil não se render às “tentações” da propaganda.
Pessoas hipertensas ou que sofreram um enfarte do miocárdio necessariamente precisam mudar seus hábitos. Abandonar o cigarro, reduzir o ritmo das atividades e principalmente submeter-se a avaliações médicas regulares, inclusive para que sejam definidas as melhores práticas esportivas e a melhor dieta a ser adotada.
Infartados que precisaram se submeter a procedimentos cirúrgicos que exigem revascularização – a reconstrução dos vasos atingidos – a avaliação de médicos e fisioterapeutas é imprescindível. Na maioria dos casos, é recomendado repouso nos dois primeiros meses após a cirurgia. Em seguida, dependendo das condições, é possível começar com pequenas caminhadas ou exercícios de reabilitação em clínicas de fisioterapia cardíaca.
Os exames médicos regulares são importantes em qualquer idade, sob quaisquer condições clínicas. Obviamente, um indivíduo saudável quase sempre tem a indicação para um check-up anual, enquanto, para os “candidatos” a desenvolver problemas do coração, as idas aos consultórios e laboratórios podem ser bem ser bem mais frequentes.