O termo exato não pode ser ejaculação feminina, já que este é um ato privativo dos homens. Não se trata de machismo: a ejaculação é determinada pela expulsão do líquido seminal produzido pela vesícula seminal, próstata e, em menor proporção, pelos testículos, órgãos inexistentes no organismo das mulheres. No entanto, há muitos mitos e algumas verdades nesta condição.
O jato é necessário para projetar os espermatozoides no aparelho genital feminino. Por isto, é comum a todos os homens saudáveis. Especialistas em sexualidade, porém, identificaram a chamada ejaculação feminina. Ela é rara e é mais apropriadamente chamada de “squirting” (esguicho, em inglês) ou secreção vaginal.
Primeiras investigações
Alguns estudos que revolucionaram o entendimento da sexualidade humana, como o Relatório Kinsey (a pesquisa com homens foi publicada em 1948 e com mulheres, em 1953), produzido pelo entomólogo americano Alfred Kinsey, e o Relatório Masters e Johnson (resultado da pesquisa iniciada em 1957 coordenada pelo médico William Masters e a psicóloga Virginia Johnson, ambos americanos), erraram feio ao avaliar a ejaculação feminina.
Para estes pesquisadores, o fenômeno era determinado pela incontinência urinária, perda involuntária de urina com diversas causas, duas vezes mais comum entre as mulheres.
Antes disto, outros investigadores (ou curiosos) se aventuraram a explicar a ejaculação feminina. Cláudio Galeno, médico grego que viveu no século II da Era Cristã, acreditava que o líquido expelido era uma substância importante para a fecundação.
Bem mais tarde, o médico e professor de Anatomia da Universidade de Pádua (Itália) Realdo Colombo (1516-1559), famoso pelas suas contribuições para o entendimento da circulação sanguínea, ao descrever as funções do clitóris (chamado por ele de “Prazer de Vênus”), fez referências à lubrificação e à ejaculação feminina.
O anatomista holandês Reigner de Graaf (1641-1673) descreveu a membrana da uretra e declarou: “a substância pode ser chamada de próstata feminina”. Para ele, a função da ejaculação seria gerar um suco seroso que tornaria a mulher mais libidinosa – portanto, mais receptiva ao parceiro.
Para o Pai da Psicanálise, o médico austríaco Sigmund Freud, a ejaculação feminina seria um sintoma de histeria, somatizado no na forma de incontinência urinária (mais uma vez). Freud faz diversas referências à condição ao descrever o “caso Dora”, uma de suas pacientes mais famosas.
Muitos outros estudiosos, inclusive feministas, no entanto, simplesmente acreditam que a ejaculação feminina é um mito, sem nenhuma comprovação científica, nem elementos que fundamentem pesquisas mais aprofundadas.
Afinal, ejaculação feminina: mito ou verdade?
Os fatos históricos aqui citados servem ao menos para demonstrar que a ejaculação feminina não é um modismo recente. Muitos detratores do feminismo usaram e abusaram da polêmica para ignorar a igualdade de direitos entre homem e mulher.
Mas, como dizem os italianos, “se non è vero, è ben trovato” (se não é verdade, está bem contado). Afinal, se o tema é alvo de pesquisas há pelo menos dois mil anos, não pode ser apenas um mito: a ejaculação feminina deve ter algum fundo de verdade. E realmente tem.
Ela é experimentada por um número bastante restrito de mulheres e não é comum a todas as relações sexuais que culminam com orgasmo. Alguns levantamentos parciais indicam que entre 2% e 5% da população feminina, em algum momento da vida, uma ejaculação.
Com esta raridade, é natural que algumas mulheres já tenham ouvido falar, outras já experimentaram, mas a maioria não são exatamente o que é. Afinal, nem a comunidade médica conseguiu chegar a um consenso sobre a ejaculação feminina.
Uma das explicações mais aceitas é a ocorrência de uma lubrificação vaginal intensa no momento do orgasmo. O líquido não escorre por causa das contrações pélvicas mais ou menos pronunciadas que acompanham o clímax sexual. A lubrificação é a produção natural de um líquido na vulva e no canal vaginal. Sua função é reduzir a fricção durante uma relação. Ela começa a ocorrer logo nas primeiras fases da resposta aos estímulos sexuais.
Esta teoria explica também por que a ejaculação não é um fato corriqueiro. Ela é determinada por determinadas reações fisiológicas, diferentes em cada organismo. A produção independe da vontade e não é determinante do orgasmo, mas só ocorre simultaneamente a ele. O líquido, uma espécie de suor característico da vagina produzido pelas glândulas de Skene, é incolor e pode chegar com ou sem odor, independentemente das práticas de higiene da mulher.
Na verdade, a ejaculação feminina é mais bem definida como um derrame de secreções, mesmo que ela surja em forma de jatos fracos (mas geralmente ele só é observada como um líquido escorrendo entre as pernas no momento do orgasmo). Imagens de filmes pornográficos (especialmente ingleses e alemães) com jatos semelhantes a chafarizes certamente são mito.
Mas, embora os mecanismos empregados nesta condição sejam diferentes para homens e mulheres, não há nada de errado de usar o termo em sentido figurado, a menos que, em uma relação homoafetiva, a mulher comece a suspeitar de que pode engravidar a parceira. Isto, definitivamente, é impossível.
Para as mulheres que experimentam a ejaculação, é um bom momento de conhecer um pouco mais o corpo e as respostas que ele pode dar à excitação sexual. Vale repetir: porém: a imensa maioria nunca vivenciará esta situação, fato também perfeitamente natural.
Em outras palavras, até novos estudos, vamos parafrasear o filósofo seiscentista francês Blaise Pascal: “o orgasmo humano tem razões que a própria razão desconhece”.
Os parceiros de mulheres com a lubrificação excessiva – que não tem nada de patológica – não têm com que se preocupar. O líquido é totalmente inofensivo. Além disto, é um sinal de que a relação sexual foi bastante prazerosa.