Uma concussão cerebral acontece quando o cérebro é empurrado contra o crânio, depois que a cabeça é batida ou sacudida com força. Esse tipo de lesão é bastante comum em quem pratica esportes de contato, como futebol e hóquei, por exemplo. Mas embora seja comum, ter esse tipo de contusão repetidas vezes pode causar danos permanentes ao cérebro – como dificuldades para pensar e falhas na memória.
Mas até pouco tempo os cientistas não tinham ideia do que acontece exatamente no cérebro depois de uma concussão. Isso porque o cérebro de um ser vivo é difícil de ser estudado. Em algumas experiências realizadas com animais os especialistas chegaram a remover porções do cérebro deles para ver o que acontece depois de algumas concussões seguidas, mas a própria remoção do cérebro causa danos a ele, sendo assim fica difícil saber o que é dano do procedimento e o que é dano causado pela concussão.
Por isso, cientistas do National Institute of Neurological Disorders and Stroke, uma divisão do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, decidiram desenvolver um meio menos invasivo de ver o que acontece com o cérebro nesses casos. E, na verdade, é um método bastante simples que consiste em raspar pequenas áreas do crânio de um rato de laboratório até o ponto em que se torna possível ver o que acontece ali usando poderosas lentes de microscópio ao mesmo tempo em que o crânio permanece intacto. Então eles comprimiram levemente partes do crânio (no sentido inverso), imitando o impacto que o cérebro sofre quando é atingido por uma bola de futebol, por exemplo. Enquanto isso, as lentes são posicionadas onde o cérebro foi raspado, documentando em tempo real tudo o que aconteceu no interior do cérebro como resultado dessa traumatismo.
O resultado do experimento apareceu rapidamente: “Vimos um rápido acúmulo de espécies reativas de oxigênio no espaço existente entre o crânio e o cérebro após o abalo”, disse Dorian B. McGavern, pesquisador que supervisionou o estudo. Espécies reativas de oxigênio, também conhecidas como radicais livres, desempenham um papel importante em vários processos normais dos tecidos, incluindo a resposta inflamatória a qualquer ferimento, mas em excesso podem contribuir para a morte celular e danos nos tecidos.
No caso de concussão, o corpo faz uma verdadeira campanha para reparação dos danos através do envio de células imunitárias do sangue e do cérebro para reparar e preencher as membranas que se desgastaram. Mas o processo é muito lento, permitindo que o excesso de radicais livres passe através dessas membranas enfraquecidas e migrem para o tecido cerebral, onde causa a morte das células longe do local onde o impacto se originou.
Além de permitir aos cientistas visualizar exatamente o que acontece, o experimento também mostrou novas possibili dades de tratamento, como tentar reduzir o número de radicais livres agrupados perto do cérebro – o que poderia diminuir os danos posteriores. Para testar essa possibilidade, eles inseriram grandes quantidades de um poderoso antioxidante no espaço existente entre o crânio e o cérebro dos animais. Assim, se viu a absorção dos radicais livres pelo antioxidante e uma diminuição drástica dos traumas associados com o impacto no cérebro. Os ratos que receberam esse tratamento imediatamente após a concussão perderam 70% menos células cerebrais do que os ratinhos não tratados.
No entanto, essas descobertas ainda são preliminares e restritas apenas aos cérebros dos ratos de laboratório, não podendo ser testadas no cérebro humano. Mas os resultados são animadores e fizeram com que os pesquisadores programassem outra série de experimentos para entender melhor o que acontece durante uma concussão cerebral, além trazer a possibilidade da criação de adesivos antioxidantes para serem fixados no couro cabeludo, e que podem ser tão eficazes quanto o procedimento realizado com os ratos. Os novos resultados desses estudos devem ser apresentados já em 2014.