A doença do movimento é comum entre crianças de dois a 12 anos, mais frequente entre as mulheres e bastante rara em idosos. Trata-se de uma disfunção neurológica, em que a atenção do indivíduo afetado se fixa no movimento aparente de casas e árvores, por exemplo, num trajeto em qualquer veículo.
Este sistema encontra dificuldade em reconhecer o movimento, já que a pessoa está parada, mas o veículo (ou as imagens) está se movendo continuamente. O cérebro não consegue processar com eficiência as duas informações conflitantes – pausa e movimento. Se a marcha for irregular – como o de um carro em um tráfego pesado –, os sintomas tendem a piorar sensivelmente. Na verdade, a cinetose é uma resposta normal do cérebro para uma situação do ambiente considerada anormal.
Também chamado ouvido interno, o labirinto, nos seres humanos, é formado por três canais semicirculares que se unem na região central do aparelho (o chamado vestíbulo), que está ligado à cóclea, sede do sentido da audição. O nome labirinto é dado em função de uma complexa estrutura óssea na qual se encontram vários tubos membranosos cheios de endolinfa.
O movimento deste líquido, determinado pelos movimentos da cabeça, estimula o envio de impulsos nervosos para o cérebro ou diretamente para centros que controlam o movimento dos olhos e músculos responsáveis pelo equilíbrio. Qualquer inflamação nestes órgãos provoca tonturas e vertigens, doença popularmente chamada de labirintite, cujos sintomas são idênticos aos da cinetose, mas se instalam repentinamente, sem causa aparente.
Um fato interessante: mesmo quem sofre bastante com a cinetose, ao dirigir um veículo, quase nunca sente náuseas nem enjoos. Isto se explica porque a atenção está focada na via, no trajeto e nos veículos em volta (que também estão em movimento, em velocidade semelhante).
O corpo humano possui três sistemas de equilíbrio: o visual, o vestibular e o proprioceptivo (receptores de estímulos nos músculos e nas articulações). Qualquer alteração em um destes sistemas provoca desequilíbrio; o enjoo é a consequência direta.
Os sintomas da doença do movimento
A doença do movimento é muito comum em crianças a partir dos dois anos. As crises podem ser desencadeadas até mesmo pelo uso de esteiras ou bicicletas ergométricas e muitos pacientes relatam o mal-estar quando viajam sentados de costas para o movimento, em ônibus e metrô. Nos adultos, está relacionada à instalação de enxaquecas. Além das náuseas, a cinetose por ser acompanhada por dores de cabeça, perda de equilíbrio (inclusive com quedas), sudorese, fadiga, perda da noção de profundidade, raciocínio lento, dificuldades de concentração e memória, palidez e visão turva ou borrada.
Todos os sintomas são determinados pela movimentação, que causa um estímulo excessivo ao labirinto, mas alguns efeitos podem surgir horas depois da exposição. Seja como for, uma longa viagem de carro, por exemplo, tende a ampliar o mal-estar se não for interrompida com pequenos intervalos. Isto não é possível, no entanto, em uma viagem de avião ou navio – e, neste último caso, mais da metade da população adulta apresenta problemas em viagens marítimas.
Quem sofre da doença do movimento tem dificuldades em ler, fazer uma chamada telefônica, usar um tablet ou assistir a um filme quando o carro está em movimento. As sensações ruins podem permanecer durante horas após o estímulo, prejudicando a qualidade de vida e a capacidade produtiva do indivíduo.
Os pais devem também acomodar as crianças perto das janelas do automóvel (sempre abertas) e procurar chamar a atenção das crianças para pontos distantes na paisagem, sempre à frente da rua ou estrada, para que a atenção não se fixe nos objetos próximos que parecem estar “andando”. Videogames, laptops, DVDs e mesmo a leitura são contraindicados.
Para os adultos, é importante evitar o consumo de alimentos pesados, doces (especialmente os industrializados) refrigerantes e bebidas alcoólicas antes de embarcar e, durante a viagem, evitar o fumo. Uma refeição leve ou uma fruta, no entanto, é indicada: o processo de digestão “ocupa” parte das atividades do sistema nervoso e ameniza os sinais da cinetose.
Nos parques de diversão, tobogãs e os brinquedos que deixam as pessoas de ponta-cabeça ou fazem movimentos bruscos devem ser evitados (mas se for uma queda muito rápida, em geral não há tempo hábil para que a informação do movimento seja processada pelo cérebro). Já nas viagens de avião, quem sofre da doença do movimento deve procurar assentos no corredor, já que até a passagem das nuvens provoca o mal-estar.
O tratamento da doença do movimento
A maioria das crianças apresenta episódios da doença do movimento até a chegada da puberdade, por volta dos 12 anos. A partir desta idade, os sintomas regridem espontaneamente. Assim, se as crises da cinetose não forem muito severas, não é necessário nenhum tratamento; basta o acompanhamento pediátrico regular e a paciência dos pais nos passeios de carro.
Em adolescentes e adultos, o principal tratamento é a terapia de reabilitação vestibular, realizada por um fonoaudiólogo depois do diagnóstico médico. Um fisioterapeuta especializado também pode colaborar. No entanto, em função dos sinais da doença, que podem estar relacionados a diversas outras enfermidades, em muitos casos o diagnóstico é tardio e muitas pessoas simplesmente não procuram tratamento, resignando-se às limitações provocadas pela doença do movimento.
A cinetose pode surgir com a adoção de novos hábitos, como um novo videogame ou a frequência a salas de cinema com projeção em três dimensões, por exemplo.
Assim, um adulto de 20 anos que nunca tenha apresentado qualquer sintoma pode começar a sofrer do mal. Nestes casos, o paciente pode renunciar a estes pequenos prazeres ou procurar apoio médico.
Casos mais graves podem receber também medicação, aliada à terapia. A atropina, por seus efeitos anticolinérgicos, é bastante receitada. A droga age inibindo o neurotransmissor acetilcolina, responsável por diversas atividades do sistema nervoso central. Deve-se evitar a automedicação, porque são muitos os efeitos colaterais provocados pelo medicamento; entre eles, dilatação das pupilas, redução do ritmo cardíaco, insônia, prisão de ventre, fotossensibilidade e até mesmo tonturas, um dos sinais que se pretende combater. Antieméticos (que combatem os enjoos) complementam o tratamento médico.
A terapia de reabilitação vestibular consiste na realização de uma série de exercícios que envolvem todo o corpo – especialmente olhos e movimentos da cabeça. Eles precisam ser feitos diariamente – no consultório do fonoaudiólogo em casa, de acordo com as orientações.
Com a regularidade dos exercícios, o organismo aprende respostas para equilibrar o labirinto, o que minimiza ou elimina as tonturas e demais sintomas. O princípio é o mesmo do que ocorre com um operário que trabalha nas alturas; em princípio, é comum sentir tonturas, mas, com a prática e o passar do tempo, o corpo se adapta e o mal-estar desaparece.