Eles vivem pulando em todos os cantos, são venenosos – mas muitos deles não conseguem inocular o veneno, usando a peçonha como instrumento de defesa (não me mordam, eu sou letal) – e pertencem à ordem Anura, da classe Amphibia. Mas, apesar de muita gente pensar que rã é o feminino de sapo (apenas uma classe gramatical, como cão e cadela, veado e corça), existem muitas diferenças entre sapos, rãs e pererecas. São espécies que cumprem funções específicas no equilíbrio ambiental, como o controle de insetos e aracnídeos.
Os anfíbios são animais cordados (como nós), que se caracterizam por apresentar duas fases distintas em sua vida. A fêmea põe os ovos, protegidos por um material gelatinoso, na água – pode ser numa lagoa, um riacho de pouca correnteza e até no “copinho” de uma bromélia que se desenvolveu no alto de uma árvore. O macho lança seu esperma próximo aos ovos, para fertilizá-los. Algumas espécies, no entanto, se acasalam diretamente, com o macho cobrindo a fêmea.
A palavra “anfíbio” vem do grego e significa “duas vidas”. Existem mais de seis mil espécies de anuros catalogados (as salamandras e cobras-cegas também fazem parte da ordem), mas especialistas afirmam que menos da metade já foram estudadas e muitos animais vêm sendo destruídos por causa das mudanças climáticas: pequenas alterações de temperatura são suficientes para inviabilizar a vida destes animais.
Na primeira etapa da vida, nascem os girinos, semelhantes a um espermatozoide: um grande núcleo dotado de um cílio, ou cauda, que permite a locomoção na água. Ao crescerem, adquirem características diversas, perdem o rabo, desenvolvem pulmões (apesar de a respiração continuar principalmente cutânea) e passam a viver em terra firme. Eles existem há 300 milhões de anos, colonizaram o mundo todo, com exceção da Antártica, e já foram os principais predadores do Reino Animal.
Estudos indicam que os anfíbios foram os primeiros animais a desenvolverem cordas vocais: o coaxar do entardecer e da noite foi o primeiro som emitido pela natureza: é a forma de o macho atrair a fêmea, que sempre escolhe o parceiro mais “barulhento”. Mas a lei de Gérson – o importante é levar vantagem em tudo – parece funcionar entre eles: machos oportunistas ficam ao lado de um sapo com coaxo alto, para tentar se dar bem e arranjar uma namorada.
Porem, na morfologia, hábitos, comportamento e classificação zoológica, sapos e rãs e pererecas são muito distintos e, por isto, foram postos em famílias diferentes na classificação do biólogo Lineu (Carl von Linné, o sueco que, no século XVIII, organizou os seres vivos em reinos, filos, classes, etc., até hoje utilizada pelos cientistas).
Os sapos
Eles pertencem à família Bufonidae. Em relação a seus primos, são bem maiores e corpulentos (o sapo-boi pode atingir até 25 cm de comprimento), o que lhes dá um falso aspecto de seres lentos. São animais de hábitos terrestres, pernas curtas (que limitam os saltos) e apresentam pele rugosa e seca, na comparação com rãs e pererecas. Em suas glândulas parotoides localizadas ao lado dos olhos, que se parecem com verrugas, é secretada uma substância leitosa rica em alcaloides, usada como defesa.
Diferente de uma serpente, os sapos não conseguem inocular a peçonha com uma picada. Os predadores, no entanto – especialmente aves e répteis –, sabem instintivamente que eles são uma boa “refeição” no mínimo indigesta (pode ser mortal) e evitam caçá-los. Alguns humanos, no entanto, usam os alcaloides como entorpecentes (certos grupos chegam a lamber os bichos, depois de manuseá-los e irritá-los).
As rãs
As rãs estão divididas em muitas famílias: Ranidae, Dendrobatidae, Leptodactylidae, Leiuperidae e Cycloramphidae são as principais. Vivem em ambientes úmidos e apresentam pele úmida e escorregadia. Locomovem-se com rapidez, sendo capazes de grandes saltos. Algumas são arborícolas, mas vivem sempre próximo a rios e lagos.
Algumas espécies apresentam as mesmas glândulas parotoides dos sapos, mas a maioria desenvolveu outra estratégia de sobrevivência: na natureza, o colorido forte é sinal de que o animal é peçonhento. Por isto, Dendrobates, Phyllobates, Mantellas e Epidedobates desenvolveram cores fortes (existem animais azuis, amarelos, laranja, etc.) para manter os caçadores a distância. Pelo mesmo motivo, tornaram-se animais de estimação, sendo criados em terrários.
Algumas rãs, como a touro-gigante (que atinge 30 cm, sem contar as patas), são usadas na culinária; elas possuem carne branca e magra. Outras espécies não passam de 1 cm. Por fim, algumas são extremamente peçonhentas: a Phyllobates terribilis, ou rã-de-ouro, é considerada o animal mais venenoso do mundo, guardadas as proporções: ela não passa dos 5 cm. Índios da Amazônia usam a peçonha destes animais na caça, em suas zarabatanas e flechas.
Alguns machos, quando expostos, a pesticidas, trocam de sexo. Isto vem provocando a extinção de espécies em muitos locais, especialmente na zona equatorial.
As pererecas
Com suas pernas longas e finas, num único salto, conseguem se deslocar por até dois metros. Os olhos esbugalhados e o porte pequeno são outras características das pererecas.