Com o aumento da longevidade, muitas pessoas começaram a se preocupar com as demências. Elas podem ser reversíveis, como no caso de deficiência da vitamina B12 ou hidrocefalia normotensiva (acúmulo de agua no cérebro), causada por um aneurisma, meningite, traumatismo ou cirurgia.
O cérebro é uma máquina que armazena todas as nossas experiências e memórias. Ele também é o comandante de todos os demais tecidos e sistemas do organismo. Composto por neurônios (que se estendem pela medula espinal) e por células de glia, uma espécie de auxiliares do funcionamento e da estrutura do sistema nervoso, o órgão é ao mesmo tempo delicado e resistente. Por estas razões, é preciso cuidar dele.
Todos nós devemos cuidar da nossa saúde integral: alimentação adequada, exercícios físicos, namoro, trabalho, estudos e muito mais. Tudo isto, no entanto, deixa o cérebro cansado. Em tudo o que fazemos, precisamos raciocinar, refletir, mensurar as consequências. Não precisamos acionar o cérebro para nenhuma destas ações, o funcionamento é automático.
A alimentação
Não é necessário ter um “manual da alimentação saudável” para garantir a boa nutrição, com exceção dos casos em que determinadas doenças exigem o acompanhamento de um endocrinologista. Basta que as refeições sejam bastante variadas: os pratos devem ser coloridos, para garantir a ingestão das vitaminas e sais minerais exigidos pelo organismo – e, por tabela, também o cérebro.
É importante também alternar o consumo de carnes vermelhas e brancas. Os peixes, por exemplo, são alimentos de fácil digestão e contribuem para melhorar a memória e a concentração.
O ômega 3, presente nos peixes de águas frias (como o salmão, o atum e a sardinha), é um ácido graxo – uma gordura “do bem” ou poli-insaturada – que ajuda bastante o funcionamento do cérebro. Ele age na formação da mielina, uma espécie de capa dos neurônios, melhorando o desempenho cognitivo, em função da agilização da comunicação entre as células cerebrais.
O ácido graxo é bom também para a visão (ele participa do recobrimento da retina) e o coração, pois ajuda a reduzir os triglicerídeos, o mau colesterol (LDL, ou lipoproteína de baixa densidade) e auxilia no controle da pressão arterial.
A retina tem a função principal de transformar o estímulo luminoso da visão em estímulo elétrico, o que permite ao cérebro receber as informações visuais – em outras palavras, os olhos veem, mas é o sistema nervoso que interpreta as informações recebidas pela visão. A degeneração da mácula, área da retina responsável pela percepção de detalhes, é prevenida com o consumo regular do ômega 3.
Ainda em relação à alimentação, é preciso estabelecer intervalos regulares entre as refeições e evitar o excesso de gorduras, açúcar e sal no dia a dia. As gorduras e doces desenvolvem uma dependência química do cérebro semelhante ao uso de drogas (lícitas e ilícitas).
Comer em excesso, com o tempo, passa a se associar à liberação de neurotransmissores relacionados ao prazer e bem-estar. É evidente que uma boa refeição é fator de satisfação. O problema começa quando a satisfação é obtida apenas com a ingestão de chocolates, bacon, embutidos, etc.
Por fim, é preciso tomar cuidado com a qualidade dos alimentos. Muitos produtos industrializados, quando mal manipulados, podem conter parasitas que afetam o funcionamento do cérebro e de vários outros órgãos.
A cisticercose ocorre quando os alimentos estão contaminados por ovos de “Cisticercus”; no estomago, os ácidos gástricos permitem a eclosão dos ovos e as larvas são distribuídas pela corrente sanguínea para vários órgãos. Mortas, as larvas dão origem a quistos, que determinam dores de cabeça e até convulsões. Os quistos degeneram e podem provocar inflamações, edemas e outros problemas neurológicos.
A esquistossomíase é uma infecção por vermes que pode inclusive provocar o aumento da pressão no cérebro. A teníase é uma infestação que também produz quistos que prejudicam o fluxo do líquido cefalorraquidiano. Em alguns casos, é indicada a remoção cirúrgica destes bloqueios.
Mexa-se!
Os exercícios físicos ajudam a cuidar do cérebro. Seja em um esporte radical, seja em uma simples caminhada, acontece a liberação de neurotransmissores associados ao bem-estar, como a dopamina e a serotonina. Além disto, exercitar-se reduz a tensão muscular, já que os batimentos cardíacos são acelerados e isto permite melhor irrigação para o cérebro: com menor pressão dos músculos, o sangue consegue chegar com mais facilidade ao cérebro e ao encéfalo.
Estudos recentes indicam que o órgão mais beneficiado pela prática regular de exercícios físicos é o cérebro. O bom condicionamento do coração e dos pulmões e o fortalecimento dos músculos podem ser considerados “efeitos colaterais”, quando comparados ao potencial de melhoria do bom humor e da inteligência.
Os exercícios previnem a ocorrência de um AVC (acidente vascular cerebral), já que o movimento corporal aumenta a capacidade cardiorrespiratória. É também um fator para aumentar a resistência dos vasos sanguíneos. A prática regular libera óxido nítrico, que aumenta o calibre dos vasos sanguíneos, garantindo maior volume de sangue em circulação.
O risco de desenvolver demências é reduzido com a prática de exercícios. Quando envelhecemos, a produção de insulina é gradualmente reduzida. Com isto, a glicose chega com mais dificuldade às células, que não desenvolvem suas tarefas com eficiência. O excesso de glicose não absorvida causa uma espécie de detrito no organismo, os chamados radicais livres, que facilitam o desenvolvimento do mal de Alzheimer, por exemplo.
Mais benefícios: os exercícios aumentam a produção de serotonina, neurotransmissor que melhora o humor, a concentração e a memória. Atividades aeróbicas (caminhar, correr, pedalar, nadar) garantem a produção de dopamina, outro neurotransmissor que fortalece as conexões entre os neurônios e estimula o desenvolvimento de novas células-tronco.
Estas células se transformam, por exemplo, em novos neurônios para o hipocampo (região do cérebro associada à memória). Um cérebro ativado pelos exercícios tem maior capacidade de neuroplasticidade (capacidade do sistema nervoso de mudar-se e adaptar-se a novas condições) e neurogênese (a formação de neurônios).
Mudança de hábitos
O cigarro é um dos principais adversários do cérebro, apesar de também aliviar o estresse. Quem fuma pode experimentar este alívio imediato, mas pode ter certeza de estar atraindo males para a saúde. A nicotina, especialmente, reduz a velocidade do fluxo de informações entre os neurônios – e isto pode ser traduzido em sensação de tranquilidade.
As bebidas alcoólicas não são um fator de risco, desde que consumidas em pequenas quantidades. No entanto, quem afirmar ter consumo social de álcool precisa avaliar seriamente se este consumo realmente está sob limite. Uma dose ao dia para as mulheres e duas para os homens pode até ser benéfica – ainda não há estudos conclusivos sobre o assunto.
O excesso de álcool, no entanto, traz danos definitivos para o cérebro. Vale lembrar que o alcoolismo é uma doença, mas também é um sintoma. Pessoas suscetíveis podem criar facilmente a dependência e, nestes casos, a melhor saída é a abstinência.
O sono é fundamental para a boa saúde. Com o avanço da idade, problemas de insônia e de redução das horas de repouso noturno são comuns, mas é preciso dispor de um descanso de ao menos sete horas diárias. “Gaste” energia durante o dia – com o trabalho ou um hobby – para ter certeza de uma boa noite de sono.
Um eterno aprendiz
Cultive o hábito de ler sempre. Hoje em dia, existem muitas opções: jornais, livros e revistas impressos ou online estão ao acesso de todos. O cérebro executa uma “ginástica” no ato de ler: de acordo com a Teoria da Evolução, o órgão foi concebido para lutar, caçar, comer e amar. As funções acrescentadas no decorrer dos últimos milênios ainda são “novidade” para o cérebro. No entanto, a evolução, como a palavra indica, não para nunca.
As crianças precisam ser estimuladas a ler desde pequenas. Existem até livros de pano para incentivar o hábito em bebês. Quanto mais cedo começarmos, melhor. Internet e TV não são intrinsecamente ruins, mas não podem substituir a leitura.
Procure aprender sempre. As opções são muitas: um novo idioma, o domínio de uma nova técnica de artesanato, o estudo de uma nova técnica e até mesmo o aprofundamento dos ensinos de uma religião são exercícios para o cérebro.
Não pare, nunca ache que a vida já ofereceu o suficiente. Seja teimoso, faça coisas diferentes. Podem ser atitudes simples, como usar a mão esquerda (para os destros) na escrita ou no banho. Aprender coisas novas é sempre um desafio para o cérebro.