O treinamento de sobrevivência na selva é comum nas Forças Armadas. Fazia parte da formação militar dos exércitos europeus durante a colonização asiática e africana e popularizou-se bastante durante a Guerra do Vietnã, quando os soldados americanos tiveram que encontrar meios de sobreviver num ambiente tropical, para eles, hostil e desconhecido. Não deu certo: os EUA retiraram-se do país depois de quase duas décadas de combate.
A sobrevivência na selva consiste em técnicas para encontrar água, fazer fogo sem recursos artificiais e obter alimento diretamente da natureza. Faz parte também da capacitação de aeronautas, que, em caso de queda de aviões em regiões inóspitas, precisam defender os passageiros e a própria tripulação. Mais recentemente, tornou-se também uma opção turística. Muitas operadoras de viagem oferecem temporadas para quem quer vivenciar a maneira de viver dos nossos ancestrais.
Quem quer tentar esta experiência precisa atentar a alguns pontos-chave para o sucesso: água, alimento, abrigo, segurança e sinalização. Observar estas necessidades é útil também para quem se perde numa trilha, para aumentar as chances de sobrevivência e resgate. Autocontrole, persistência e coragem são características fundamentais.
Água
Quem está perdido na selva – voluntariamente ou não – precisa encontrar uma fonte de água doce. Os seres humanos podem aguentar vários dias sem alimento, mas poucas horas sem hidratação. Encontrar uma nascente ou um riacho é extremamente importante e, se isto não for possível, é preciso encontrar uma forma de acumular a água da chuva. Frutas e algumas espécies de cipós também são importantes fontes de água.
Cursos d’água também são importantes para organizar incursões. Parte do grupo perdido pode encontrar cidades e comunidades, sempre implantadas à beira de rios, garantindo o salvamento de todos. Em casos extremos, nos locais sem qualquer fonte de água, é fundamental mascar folhas macias ao nascer do sol: o orvalho da madrugada se acumula nas plantas, mas evapora-se rapidamente em regiões quentes.
O abrigo
Em primeiro lugar, é preciso construir um abrigo para se proteger de animais, especialmente os peçonhentos: serpentes, escorpiões, aranhas e lacraias. Tocos de árvores servem como fundamento e galhos trançados fazem o piso, que deve ficar a 50 centímetros do solo. O local ideal é numa clareira, de onde é possível avistar possíveis ataques de feras.
Para se resguardar da chuva e do sol, as folhas de palmeiras entrelaçadas são úteis para um bom telhado. Na falta delas, folhas grossas e largas podem ser utilizadas; as de bananeiras são ideais também para forrar o trançado, que é fundamental mesmo para quem está equipado com barracas ou sacos de dormir.
O fogo deve ser mantido perto da esteira elevada, aceso durante toda a noite, para afastar animais maiores. Não é uma tarefa fácil acendê-lo, mas com gravetos, um pouco de musgo, pedras pontiagudas e uma boa dose de paciência, é possível obter uma fogueira. Com um metro de diâmetro, a fogueira fica bastante visível e evita acidentes, como roupas incendiadas.
O estoque de lenha deve ser uma preocupação constante do grupo: o fogo serve para cozinhar, aquecer-se, secar roupas e também é visível por grupos de resgate (especialmente helicópteros). Outra forma de acender uma fogueira é partir um galho ao meio, faça um rego na face plana (interna) e esfregue um graveto nesta trilha até obter faíscas. Basta aproximar a brasa de uma mecha de cabelo, palha, tecido esgarçado, papel ou galhos.
A busca de alimentos
Roedores são os mais fáceis de serem caçados. Se aparecer uma serpente, paus e pedras podem ser usados para abatê-la, lembrando-se sempre de atingi-la na cabeça. É preciso evitar as que apresentam um orifício entre os olhos e as narinas – a fosseta lacrimal – características de quase todas as cobras peçonhentas, com exceção da coral, e também as que tem a cauda afinada abruptamente, outro sinal de que o animal é venenoso.
Insetos e vermes são boas fontes de proteínas. Formigas grandes, abelhas (sem o ferrão) e minhocas garantem uma boa nutrição. Na hora de escolher os vegetais, e preciso seguir algumas dicas: em primeiro lugar, se algum animal alimentar-se de determinado fruto, tubérculo ou folha, o produto é indicado também para o homem. Para quem está perdido na Amazônia, uma boa pedida são os palmitos: todos eles são comestíveis.
Vegetais vetados: os cogumelos, plantas com pelos, gosto amargo e caules que expelem seiva leitosa. Dificilmente estes produtos causarão a morte, especialmente quando consumidos em pequenas quantidades – razão por que a dieta deve ser bem variada –, mas podem causar intoxicações e diarreias.
Deslocamento e orientação
Quem está na margem de um rio deve segui-lo e quase certamente encontrará uma aldeia ou acampamento. Subir numa árvore alta também ajuda a ter uma noção mais detalhada da região. Quando o grupo perdido se desloca, deve marcar a trilha quebrando galhos de árvores ou amarrando tiras de tecido.
Localizar os pontos cardeais é fundamental para a orientação: basta esperar o Sol nascer para localizar o leste. Estendendo o braço para esta direção o norte fica à frente. Sabendo-se o ponto de partida da excursão, basta seguir a direção. Grupos perdidos em matas litorâneas devem seguir em direção ao leste, para atingir a costa.
Durante os deslocamentos, é preciso usar camisas de mangas compridas e colocar as barras das calças por dentro das meias (de preferência, deve-se dormir assim também), para reduzir as picadas de insetos. Se houver água disponível, banhos diários são importantes, para lavar picadas e arranhões, evitando infecções. Depois de tempestades, é preciso observar a situação das árvores: a queda de um galho na cabeça de um componente do grupo pode trazer problemas sérios.
Grupos perdidos devem procurar andar em silêncio, usar todos os sentidos para perceber o ambiente, moderar as necessidades de sede, fome, sono e descanso e manter as roupas secas. Esperar surpresas a qualquer momento é o melhor procedimento; é preciso seguir o lema dos escoteiros e ficar sempre alerta.