“E foram felizes para sempre”. Assim terminam muitos contos de fadas, em que donzelas são salvas por príncipes montados em cavalos brancos, apaixonam-se à primeira vista, casam-se e passam a viver num mar de rosas. No entanto, como fadas não existem, a vida não é tão simples assim. Para fazer um casamento durar, são necessárias adaptações, concessões e renúncias, e nem sempre os parceiros estão dispostos a isto ou podem abrir mão de características que são a sua própria identidade.
Voltando ao príncipe encantado, ele também não existe. Portanto, nada de procurar o ser ideal e, quando encontrar o ser “quase” perfeito, nada de tentar moldar sua personalidade: “ele é ótimo, mas fala alto demais” ou “ela é fantástica, mas poderia ser mais elegante”. Este é o principal motivo do fim dos relacionamentos. Se “ele” é expansivo, fala alto, tem muitos amigos, gosta de festas, ou se “ela” é despojada, não liga para roupas de grife ou é um “bicho-grilo”, nada disto vai mudar.
Aliás, é preciso lembrar que estas condutas do cônjuge são justamente alguns dos “ingredientes” que ajudaram a acender a paixão.
Em 2012, o número de divórcios cresceu 45,6%: mais de 350 mil uniões foram desfeitas em um ano, isto sem contar os casamentos informais e as uniões civis que chegaram ao fim – eles representam um terço dos relacionamentos conjugais no Brasil. Em parte, isto pode ser explicado pela mudança da legislação; atualmente, um casal não precisa estar separado há pelo menos um ano para pedir o divórcio. Mas há algo errado: 20% deste universo reataram e voltaram a morar juntos. Isto pode significar que eles não se esforçaram o suficiente para manter a harmonia conjugal.
O primeiro passo é avaliar o namoro. Ele é apenas físico? Os parceiros competem por atenção ou visibilidade social? Um casamento não se sustenta com isto. Sexo é fundamental, mas companhia, cumplicidade, solidariedade, são fundamentais. Uma boa dica para a análise da relação é verificar se ela é inspiradora. Quando surgem novas ideias, especialmente as relacionadas a outras áreas, como os estudos e o trabalho, ou quando algo na vitrine de uma loja “é a cada dela (ou dele)”, são sinais de que vale a pena investir no parceiro.
Ter interesses e hobbies semelhantes ajuda no casamento. Um parceiro diurno que gosta de praticar esportes radicais não combina com outro que é urbano, sofisticado e passa as noites nas baladas. Mas isto pode ser superado, se houver outros pontos de contato. Um casal não é uma entidade única: marido e mulher podem ter interesses diferentes e dedicar-se a eles, desde que haja uma “zona de aproximação” prazerosa.
Diz um ditado popular que “o medo de perder tirar a vontade de ganhar”. Muitas pessoas não se doam, não mostram seus sentimentos, por medo de serem ridículas ou simplesmente por acharem que estão abrindo a guarda. Mas não é assim: quem ama se atira, mergulha de cabeça. Sempre existe a possibilidade de a piscina estar vazia, o que vai gerar muita dor; porém, adultos saudáveis são capazes de superar estas crises.
A intimidade é muito importante, e isto não fica limitado apenas à cama. É preciso reconhecer os desejos do parceiro, fazer aquele jantar especial, o fim de semana romântico, passear a pôr do sol. Para tanto, é preciso conhecer o companheiro – e gostar do que conhece. Trazer flores para casa num dia comum, no meio da semana, pode ser muito inspirador, mas não para quem é alérgico a perfumes ou plantas.
Nenhum relacionamento é perfeito, como já foi dito. Casais experimentam crises e insatisfações. É natural ficar irritado às vezes: até Romeu achava Julieta “chatinha” de vez em quando. Mas são justamente estes momentos que servem para as adaptações necessárias à harmonia. Apenas irritar-se porque ele deixa a toalha molhada no pé da cama, aperta o creme dental errado ou espalha roupas pela casa e não parar para discutir só leva à insatisfação – e talvez a uma úlcera gástrica.
Da mesma forma, arrancar os cabelos quando a fatura do cartão de crédito indica valores “absurdos” (para os homens) gastos em lojas de calçados não leva a nada. É preciso conversar sobre estas diferenças – homens são de Marte, mulheres são de Vênus. Mas isto não significa brigar, sair aos gritos, nem “discutir a relação”, o famoso DR. Nenhum dos parceiros deve monopolizar o casamento, que, por definição, é uma parceria. Estabelecer canais de comunicação e horários apropriados para conversar é fundamental para manter a saúde do relacionamento.
A paixão é o motivo que une um casal: aquele olho no olho no primeiro encontro, a vontade de estar junto com o parceiro, o sexo exagerado e bem feito, o telefonema de boa noite que vara a madrugada. Mas, como diz o poeta Vinícius de Morais, ela “não é imortal, posto que é chama”. Por isto, é preciso encontrar formas de se reapaixonar: uma flor, um vinho, uma conversa a dois no parque. Ser feliz é bom para a saúde e a qualidade de vida – pela vida toda.