Durante anos as autoridades brasileiras de saúde pública relataram uma epidemia de diabetes entre crianças e adultos. Porém, esta epidemia também vem atingindo os animais domésticos, principalmente os cães. Conheça um pouco sobre a Diabetes Canina.
Embora dados epidemiológicos brasileiros sejam escassos, podemos considerar que pelo menos um em cada 200 cães ou gatos sofrem com essa doença, e o número vem aumentando a cada ano, de acordo com dados coletados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia Veterinária (ABEV). Mas, enquanto a maioria dos casos humanos podem ser tratados apenas com dieta, a diabetes canina é uma condição de vida que requer um acompanhamento cuidadoso de açúcar no sangue e injeções diárias de insulina.
A “Diabetes mellitus” é uma das endocrinopatias mais comuns nos cães e pode ser fatal se não for diagnosticada e adequadamente tratada. Mellitus é um termo latino que significa “doce mel”, refletindo os níveis elevados de açúcar na urina e sangue. A deficiência de insulina que ocorre no diabetes mellitus é resultado da incapacidade das ilhotas pancreáticas em secretar insulina e/ou da ação deficiente da insulina nos tecidos.
O diabetes ocorre quando o corpo é incapaz de produzir insulina suficiente para metabolizar os alimentos em energia, ou quando as células do corpo não conseguem utilizar a insulina de forma adequada. A incapacidade do pâncreas de produzir insulina é conhecida em seres humanos como Diabetes tipo 1 (denominada de juvenil ou insulinodependente). Isto é análogo ao do tipo que afeta praticamente todos os cães.
Esta deficiência de insulina resulta em hiperglicemia (açúcar elevado no sangue) e glicosúria (açúcar elevada na urina). A glicose na urina faz com que o animal diabético passe a excretar grandes volumes de urina. Por sua vez, isto cria a desidratação e a necessidade de beber grandes quantidades de água. O diagnóstico é fácil de confirmar com simples testes de glicose no sangue e na urina.
Os cães também podem desenvolver diabetes gestacional durante a gravidez.
Raças como o Golden Retriever, Pastor Alemão, Mini Schnauzer, Keeshonden e Poodle têm a maior incidência, mas todas podem ser afetadas. Outras raças que também têm a incidência da doença: Pastor Húngaro – Puli, Cairn Terrier, Mini Pinschers, Samoieda, Terrier Australiano, Schnauzers, Fox Terrier, Bishon Frisé e Husky Siberiano.
Receber o diagnóstico de que seu cão tem diabetes pode ser um choque, porém a diabetes canina pode ser ou não complicada. Os casos mais graves requerem cuidados hospitalares, com certeza. Mas, felizmente, a maioria dos casos é simples e os cães podem ser tratados em casa.
Os sintomas e causas
Os sintomas clássicos da diabetes são a sede excessiva, aumento da micção e perda de peso, apesar do consumo de alimentos normal ou mesmo aumento no apetite.
Inicialmente, os cães que não metabolizam açúcar suficiente têm um aumento de apetite muito grande e um desejo de consumir mais alimentos. Mais tarde, com os efeitos da desnutrição, o apetite diminui.
A incidência em fêmeas, em relação à doença, supera os machos em 3-1.
A idade média de início da doença é de 6 a 9 anos e os sinais de diabetes precoce são micção freqüente, consumo exagerado de água- polidipsia, um grande apetite e perda inexplicável de peso.
Em casos mais avançados há perda de letargia, de apetite, vômitos, desidratação, fraqueza e coma. As cataratas são comuns em cães diabéticos também. Outras complicações potenciais da diabetes canina incluem diminuição da sensibilidade corneana, e ceratoconjuntivite seca (olho seco).
Em última análise, a diabetes é uma doença que afeta todos os órgãos. Cães diabéticos terão o aumento do fígado, são suscetíveis a infecções, e freqüentemente desenvolvem problemas neurológicos, se não tratados.
Várias entidades de saúde do animal estimam que 50% de casos de diabetes canina são provavelmente ligadas à lesão pancreática causada por doenças auto-imunes.
Esses distúrbios têm muitas causas possíveis, incluindo predisposição genética e fatores ambientais. Muitos veterinários especulam que essa larga incidência pode estar ligada à super estimulação do sistema imunitário de vacinações múltiplas, alimentos processados e outros. Devido aos cruzamentos de raças, os veterinários especulam também que o desenvolvimento de diabetes nos cães pode ter uma componente genética.
Embora não haja evidências claras de que a obesidade canina cause diabetes, esta pode contribuir muito para a resistência à insulina, tornando os cães obesos mais suscetíveis à doença. A obesidade é também um fator de risco para a pancreatite, o que pode levar à diabetes.
Complicações mais Graves
Doenças concomitantes que podem agravar a diabetes e torná-la mais difícil de ser controlada incluem hiperadrenocorticismo – HAC ou doença de Cushing, hipotireoidismo, insuficiência renal, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca, inflamação crônica, especialmente a pancreatite, a insuficiência pancreática exócrina (IPE), obesidade grave, hiperlipidemia e câncer.
Outras complicações graves são as infecções – especialmente infecções do trato urinário (ITU) – que são comuns entre os cães com diabetes, porque o açúcar na urina faz com que a bexiga se torne uma incubadora ideal para as bactérias. Em um estudo da Sociedade Veterinária Norte Americana (www.avma.org), metade dos cães diabéticos testados tinham as infecções urinárias ocultas, pois não foram detectadas pelo exame de urina. A possibilidade de infecções urinárias em cães diabéticos é tão grande que testes de urina devem ser feitos periodicamente, como forma preventiva.
Os cães com diabetes também são suscetíveis a infecções da boca e gengivas. Animais diabéticos devem ter seus dentes checados regularmente e limpos. O tártaro pode infectar o corpo e quando os níveis de açúcar no sangue estão em alta, infecções em órgãos importantes podem se enraizar. Os rins e o coração são particularmente vulneráveis. Portanto, escovar os dentes do cão diariamente ou pelo menos duas vezes por semana ajuda a prevenir e detectar sinais precoces da doença dental.
A doença hepática é outro problema comum, resultante da alteração do metabolismo das gorduras, causada pela diabetes. Em uma pesquisa com 221 cães com diabetes pela AVMA, mais de 70% tiveram elevação das enzimas hepáticas. Testes de ultra-som e biópsias ajudam a diferenciar entre doença hepática primária e complicações secundárias do diabetes.
Tratamento e Acompanhamento
O veterinário é o melhor conselheiro e o primeiro a ser procurado quando se trata da diagnose, medicação e tratamento. O controle dietético depende da aplicação de injeções diárias de insulina bem como de uma dieta apropriada. Esta combinação pode regular a maioria dos cães diabéticos, permitindo-lhes levar vidas ativas e saudáveis.
No diabético recém-diagnosticado, o tratamento com insulina é iniciado em casa. Após uma semana de tratamento o cão é trazido de volta para a clínica e é efetuada uma série de testes de açúcar no sangue tiradas ao longo de 12 a 24 horas, cujo resultado é obtido quando os picos de glicose no sangue atingem os seus pontos baixos. Pode-se solicitar do dono do animal uma monitoração dos níveis de glicose na urina através do recolhimento de amostras de urina, usando uma tira de teste – um pequeno pedaço de papel que indica os níveis de glicose na urina.
No entanto, a maioria dos cães não se importa com as injeções, que são feitas com agulhas muito finas.
Quando um cão é diagnosticado pela primeira vez, o monitoramento deve ser freqüente, de uma a duas semanas, até que o animal se torne estável e se sinta bem. Depois disso, o monitoramento poderá ser feito de cada três a seis meses com exame veterinário, exame de sangue, urina e cultura de urina.
Outro fator fundamental para o tratamento do cão com diabetes é a execução de atividade física, através de um programa de exercícios. Para aumentar a qualidade de vida, o cão deve ter uma programação diária de exercícios, quer seja uma corrida ao parque, acompanhamento em caminhadas, ou mesmo colocá-lo em uma escola de treinamento, respeitados os seus limites individuais.
Dieta
Os cães diabéticos serão mais saudáveis com dietas que tenham, moderadamente, um baixo teor em gordura.
As necessidades calóricas diárias são determinados pelo nível de peso e da atividade do cão. É importante manter o número de calorias constantes do dia a dia, porque as necessidades de insulina são calculadas com base nisso.
É igualmente importante manter um rigoroso controle das injeções de insulina. Para evitar o agravamento da hiperglicemia deve-se dividir a alimentação em partes iguais para que o animal possa fazer duas ou três refeições diárias. Organizar-se para aplicar as injeções de insulina logo após cada refeição é também recomendado.
Alguns cães podem necessitar de um lanche ou snack entre as refeições para manter os níveis baixos de glicose.
Um cachorro magro, que perdeu peso devido à diabetes, deve ser alimentado com uma dieta pobre em fibras (dietas com baixo teor de fibra têm maior densidade calórica) até que o peso seja recuperado, por exemplo.
A hiperglicemia é menos provável de ocorrer se o cão é alimentado com enlatados e alimentos secos que contenham altas concentrações de carboidratos. Ambos têm uma absorção lenta e ajudam a minimizar as flutuações no nível de açúcar no sangue após cada refeição.
A quantidade de proteína na dieta deve ser estimulada, especialmente para cães com sobrepeso e baixo peso, para cães com perda de massa muscular ou EPI.
Fibras e carboidratos são temas controversos no tratamento da diabetes. Apenas alguns poucos estudos nutricionais têm sido feito em cães com diabetes. Cães diferentes respondem de forma diferente para diferentes quantidades de fibras e carboidratos, e as necessidades alimentares variam dependendo se um cão está abaixo do peso ou sobrepeso, portanto, não há “melhor dieta” para esta doença.
Enfim:
– O fator mais importante é que o cão goste de sua comida e se alimente, de bom grado, em todas as refeições.
– A maioria dos cães diabéticos pode comer uma dieta normal com fibras moderadas. Eles não precisam de um alimento rico em fibras.
– É interessante complementar a alimentação com uma porção de proteína, mas não é um requisito absoluto.
– A dieta deve ser consistente, particularmente na quantidade de carboidratos, e os cães devem ser alimentados nas mesmas quantidades, no mesmo horário, todos os dias.
– Nem todo cão diabético requer uma dieta baixa em gordura, mas por causa de fortes ligações da doença com a pancreatite e outras desordens de gordura, uma dieta que contenha um teor moderado de gordura pode ser mais segura.
– Sempre tenha algum melado ou xarope de milho em mãos, para o caso do cão entrar em choque. Uma colherada na boca deve estabilizá-lo.
Outras guloseimas entre as refeições que são seguras para cães diabéticos incluem feijões verdes, ervilhas, palitos de cenoura, sardinha ou atum enlatado em água, pequenas quantidades de abóbora, fígado desidratado, salmão seco, ovos cozidos, queijo (cuidado com muita gordura), carne seca ou charque, pés de galinha e a maioria dos biscoitos ou guloseimas dos pets shops!
Enfim as pessoas precisam saber que o diabetes não tem que ser uma sentença de morte para qualquer animal, pois ela pode ser gerenciada.