Depressão: sintomas e tratamentos

A depressão é um distúrbio patológico em que o paciente não consegue trabalhar bem as suas afeições e relacionamentos. O fenômeno, quando se torna crônico, é caracterizado pela baixa autoestima, pessimismo, tristeza, que podem se apresentar combinadas e ocorrem com frequência, a ponto de prejudicar a vida de relação do paciente. Não tem cura, mas tem tratamento.

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Agressividade, irritabilidade e ansiedade são outros sintomas da depressão. O depressivo não consegue desenvolver atividades corriqueiras, como trabalhar ou cuidar dos filhos, e também não consegue entender que as pessoas à sua volta não permitam que ele passe o dia todo de pijama ou camisola. Discussões nestes momentos são comuns e improdutivas.

É importante salientar que o simples fato de sentir-se triste não caracteriza um fato depressivo. É um sentimento normal, como reação em diversas situações da vida. Ninguém se alegra ao receber a notícia da morte de um amigo – aliás, o luto, que pode perdurar por seis meses ou mais, faz parte da aceitação da perda. O problema tem início quando o paciente não consegue encontrar recursos internos para a superação, fazendo-o sentir que a dor nunca mais vai passar.

As causas da depressão

A depressão é uma doença com raízes no metabolismo humano e reflexos no lado emocional. Estudos indicam que o cérebro do depressivo apresenta alterações, especialmente na produção e liberação de neurotransmissores como serotonina (cuja baixa está relacionada à ansiedade, obesidade, enxaqueca, alterações do sono e do apetite), noradrenalina (relacionada a alterações de humor, do sono, do apetite e da frequência cardíaca) e, em menor proporção, da dopamina, um precursor da adrenalina e noradrenalina, responsáveis, entre outras ações, pelos mecanismos de defesa e fuga.

É comum associar fatos desagradáveis extremos como causas preponderantes da depressão. Parto (mesmo bem-sucedido), menopausa, problemas financeiros e de relacionamento, desemprego e luto estariam na raiz do problema. Os fatores sociais e psicológicos certamente contribuem na evolução do quadro, mas há uma predisposição (provavelmente genética). As causas secundárias funcionam como um despertar da doença.

O estresse é um somatório de respostas físicas e psíquicas a determinados estímulos externos, tais como pressão familiar e sobrecarga no trabalho. As respostas não são ruins em si – uma pessoa insatisfeita pode simplesmente procurar outra oportunidade profissional. O problema começa quando o estresse prejudica a vida conjugal, familiar e a carreira, além de acarretar problemas psicossomáticos. Ele também está relacionado à depressão, provocando a ampliação das crises de tristeza.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 19% da população mundial apresentem quadros de depressão. A doença é mais prevalente em mulheres. No Brasil, 17 milhões de pessoas são afetadas pela doença, mas o número pode estar subestimado, em função do preconceito existente contra os transtornos mentais, do pequeno número de diagnósticos concretos e da própria falta de tratamento por boa parte dos depressivos.

Sintomas clássicos da depressão

Em geral, o paciente pode não se considerar depressivo, confundindo sentimentos de desânimo, tristeza e indiferença como reações naturais. Estes sentimentos, no entanto, podem indicar um quadro de depressão quando estão associados a outros sintomas, como as variações de humor, que podem afetar a produtividade no trabalho e as alterações de apetite e sono, que prejudicam a realização das atividades cotidianas.

A OMS e a Associação Americana de Psiquiatria consideram com critério de diagnóstico os seguintes sinais:

· tristeza e pensamentos negativos recorrentes;

· perda de interesse por atividades antes prazerosas, como brincar com os filhos ou sair com amigos, por exemplo. Este fato se relaciona inclusive ao desempenho sexual: o paciente pode continuar mantendo relações com (a) parceiro (a), mas sem apresentar a mesma conotação de prazer, em função da baixa da libido;

· transtornos no sono – o paciente passa a sofrer de insônia ou a dormir mais ou menos do que o normal, apresentando sonolência excessiva durante o dia;

· aumento ou perda de apetite, o que pode acarretar sobrepeso e obesidade, por um lado, ou anorexia, por outro. Em geral, pacientes deprimidos passam a consumir uma quantidade de açúcares ou carboidratos, mas ainda não estão claros para os pesquisadores os motivos desta alteração;

· mudanças na capacidade de concentração, de raciocínio e na tomada de decisões. O paciente perde rendimento no trabalho e nos estudos, chegando a não conseguir concluir uma tarefa;

· redução da energia para atividades físicas corriqueiras. Os portadores de depressão frequentemente se queixam de cansaço para se vestir ou tomar banho; em casos graves, os indivíduos podem levar o dobro do tempo para amarrar os cadarços dos sapatos. Muitos pacientes simplesmente renunciam à higiene e à boa aparência pessoal;

· pensamentos recorrentes sobre falta de sentido da vida, inutilidade, fracasso, doença e morte. Eles surgem quando a doença está bem instalada. Os pacientes podem pensar em suicídio ou visualizar imagens em que tiram a própria vida.

A depressão é a principal causa de morte ou incapacidade entre adolescentes de 12 e 19 anos: suicídios, abuso de drogas lícitas, overdoses de drogas e acidentes de carros são as circunstâncias que mais matam os jovens no mundo todo e podem estar relacionadas a um quadro depressivo.

Para caracterizar a depressão, de acordo com instituições internacionais, o paciente precisa apresentar sinais claros de ao menos cinco destas condições. Em alguns casos, no entanto, apesar um critério, quando muito frequente e incapacitante, é suficiente para se obter o diagnóstico.

Os tratamentos para a depressão

Uma vez diagnosticada a depressão, o tratamento inicial é medicamentoso. Existem mais de 30 drogas antidepressivas disponíveis no mercado e o psiquiatra determinará a opção ideal para o paciente. Ao contrário do que muitos imaginam, estes medicamentos não agem como determinadas drogas (como o ecstasy), tornando a pessoa eufórica por algumas horas ou dias, nem causam dependência, quando bem administradas.

O auxílio dos familiares é decisivo nesta primeira fase: os pensamentos negativos tendem a voltar com certa frequência e o abandono dos medicamentos só piora os sintomas, fazendo o paciente acreditar que é um “caso perdido”, “sem volta”.

O uso de antidepressivos pode ser necessário por muitos anos e mesmo pela vida toda. A psicoterapia é útil para que o paciente aprenda a trabalhar e a dominar as suas emoções, seus conflitos e o estresse do dia a dia. Nenhuma técnica psicoterapêutica isolada é capaz de curar a depressão e pode inclusive piorar os sintomas.

Um estudo realizado em 2013, na Suíça, publicado pela revista PLOS Medicine, revisou os resultados obtidos com mais de 15 mil adultos deprimidos. Sete tipos de psicoterapias foram estudados, inclusive a terapia comportamental cognitiva, a psicodinâmica e a terapia interativa. Estes três tratamentos (baseados principalmente em diálogos entre o terapeuta e o paciente), aliados aos medicamentos, apresentaram resultados muito mais consistentes do que os obtidos com técnicas tradicionais, como a psicanálise e a psicoterapia analítica.

Das três opções mais bem-sucedidas, nenhuma se destacou. O estudo sugere que a psicoterapia seja aliada ao tratamento medicamentoso e que o médico auxilie o indivíduo deprimido a escolher o tipo mais adequado, que ofereça mais apoio e empatia, de acordo com o perfil do paciente.

Mudanças de hábitos também contribuem para combater a depressão. Exercícios físicos regulares melhoram a liberação de serotonina e aumentam a sensação de bem-estar. A agenda deve ser cumprida regularmente: se a carga estiver excessiva, é preciso reduzi-la. A sobrecarga de tarefas facilita o retorno dos sintomas.

Para controlar as alterações de apetite, é necessário adotar refeições leves e balanceadas e aumentar o número delas, passando a se alimentar de três em três horas (os lanches da manhã e da tarde podem se resumir a um iogurte, fruta ou barra de cereais). Jejuns prolongados alteram a bioquímica orgânica, especialmente entre os que abusam dos doces como mecanismo de compensação, fato que causa alterações bruscas nos níveis de glicemia, também relacionados à depressão.

O paciente deprimido precisa reaprender a valorizar as pequenas coisas da vida. Parentes e amigos podem ajudar, proporcionando uma simples caminhada ou passeios para um mirante, por exemplo, para ver o pôr-do-sol.

Pessoas negativas, que só conseguem enxergar a vida em tons de cinza, devem ser evitadas. O deprimido deve encontrar formas de se divertir, como cultivar uma planta ou criar um animalzinho. O noticiário negativo da TV também não contribui para tornar a vida mais prazerosa. Estas medidas são uma mudança de encontrar prazer, mesmo que seja apenas em um bate-papo com amigos.