A maior parte dos estímulos chega até nós através de nossos olhos, mas os demais sentidos – a audição, tato, paladar, olfato e sensações espaciais (a percepção de altura, profundidade e também experiências relacionadas a peso, volume, pressão, força, densidade, etc.) – desempenham um papel importante em nossa vida de relação e mesmo na nossa sobrevivência.
Além dos cinco sentidos, também apresentamos sensações subjetivas – nós e diversos outros animais – que interferem na interpretação das informações recebidas: raiva, tristeza, indignação ao ver um idoso sendo maltratado, etc. Cada indivíduo apresenta reações diferentes de acordo com os sentimentos e emoções que o envolvem.
Dos 11 milhões de informações captados a cada segundo, o ser humano só é capaz de processar 40 bits: apenas poucas palavras digitadas em um processador de texto. Todo o restante é depositado no nível subconsciente, onde é processado de forma positiva ou não.
Experiências compartilhadas
Os cinco sentidos não agem isoladamente na observação do que acontece à nossa volta. Eles se aliam para melhorar a nossa percepção. Por exemplo, ao visitar uma cachoeira, os olhos se deliciam com a vista, os aromas da natureza são absorvidos pelas narinas, talvez uma fruta estimule o paladar, o tato percebe as texturas, os ouvidos captam os ruídos da água caindo sobre as pedras.
Muito provavelmente, este conjunto de sensações, que também inclui a percepção da água fria e do Sol quente, gera diversas emoções e pensamentos. Esta integração permite entendermos e explorarmos o mundo em que estamos, ao mesmo tempo em que nos alerta dos perigos que podemos correr; no nosso exemplo, uma pedra escorregadia ou as raízes submersas de uma planta: não podemos vê-las, mas intuímos, pela presença de troncos e galhos, o provável risco: assim, vamos tateando, observando, apurando os ouvidos, para que a experiência seja prazerosa e segura.
Os cinco sentidos dos animais
Desde que começamos a construir aldeias, utensílios e armas para o nosso dia a dia, afastamo-nos continuamente da experimentação dos sentidos. Não precisamos mais, por exemplo, espreitar a caça, calcular a velocidade da presa, escolher os melhores instrumentos para abatê-la: basta ir ao açougue, comprar um quilo de carne e a refeição está garantida.
As formas de procriação também sofreram modificações drásticas. Não usamos mais feromônios para identificar possíveis parceiros sexuais – ao contrário, mascaramos os cheiros naturais do corpo com sabonetes e desodorantes. Com isto, o olfato foi de certa forma atrofiada.
Algumas habilidades que deixamos para trás: diversos animais aquáticos, semiaquáticos e também o ornitorrinco (único mamífero da lista) utilizam a eletrorrecepção para se localizar e para se comunicar com outros membros do bando. A eletrolocalização é útil para o deslocamento à noite e para os mergulhos em águas turvas, com pouca ou nenhuma visibilidade. Alguns peixes elétricos se comunicam pelas modulações elétricas que emitem, favorecendo a reprodução e diversas espécies de bagres empregam estas ondas para exibir comportamentos de luta.
Trombas
A toupeira-nariz-de-estrela, nativa da América do Norte, é cega, como várias outras espécies de toupeiras. Para se orientar, ela é dotada com 22 pequenas trombas, equipadas com mais de cem mil fibras nervosas. Este número representa seis vezes mais do que as terminações nervosas da mão humana, bastante conhecida por suas habilidades.
As trombas desta toupeirinha, que dificilmente atinge mais de 20 centímetros de comprimento do focinho à cauda, têm a capacidade de se mover tão rapidamente que o movimento não é captado pelos olhos humanos (algo semelhante ao bater de asas de um beija-flor, só identificado quando se usa o recurso da câmera lenta).
Os elefantes são especialmente suscetíveis às vibrações do solo e da atmosfera. Eles captam movimentos sísmicos com as patas e trombas e, de alguma forma, conseguem transmitir estas informações para outros membros do grupo. No tsunami que atingiu o oceano Índico em 2004, muitos animais se salvaram por terem conseguido escapar a tempo para regiões mais elevadas.
Narizes fenomenais
Boa parte das muitas espécies de cobras que colonizam o nosso planeta usa a língua para identificar suas presas. O órgão bifurcado, que sente aromas vindos de direções diferentes, é capaz de detectar cheiros de animais a dezenas de metros, através de dutos especiais localizados na boca. As cobras são surdas: elas identificam a aproximação de um predador através das vibrações, também percebidas pela língua sempre sibilante.
Muitos roedores também conseguem aspirar cheiros diferentes em cada narina. Esta habilidade tem sido usada em muitos países envolvidos em conflitos bélicos para encontrar minas e outros explosivos abandonados em campos de batalha.
O olfato é o ponto forte dos tubarões. Estudos indicam que 40% do cérebro destes grandes animais se ocupam apenas em captar odores.
Cientistas acreditam que este fator é responsável pelas rotas migratórias, especialmente entre os peixes de maior porte, que conseguem identificar cardumes a cinco quilômetros de distância. Para isto, percorrem trajetos imensos: o tubarão-branco nada todos os anos da costa da África do Sul até a Nova Zelândia.
Em alguns casos, o tato dá uma força para o olfato. Focas, morsas, leões e lobos-marinhos são famosos pelos imensos bigodes, fortes e resistentes. Um estudo publicado na revista “Experimental Biology” revelou que as focas conseguem não apenas identificar objetos debaixo d’água mesmo com os olhos e ouvidos tampados, mas também descobrir seu tamanho e forma. Como as focas são muito sociáveis em relação aos humanos, seu “voluntariado” permitiu a descoberta.
Olhos de águia
Não só dela, mas de todos os seus primos de rapina: gaviões, falcões, corujas, condores, harpias, etc. A águia-americana, por exemplo, que habita desde o Alasca (EUA) até o norte do México, tem uma visão estereoscópica oito vezes mais aguçada do que a visão humana.
Uma envergadura de até 2,30 m (de uma ponta da asa à outra) e uma velocidade que atinge 160 km/h na descendente faz da águia-americana uma excelente caçadora, especialmente de salmões, seu prato predileto. Outros sentidos humanos, no entanto, estão prejudicando a existência da ave: a caça indiscriminada e o abuso de agrotóxicos estão reduzindo em número espantoso o número de espécimes em seu hábitat.
Mas não são apenas as aves as campeãs da visão: cientistas estimam que as vieiras (um molusco bivalve, parente das ostras) consigam diferenciar entre o claro e o escuro, graças à presença de cem olhos que recobrem o seu manto. Cada olho é dotado com duas retinas, que captam informações diferentes.
Mais modestas, algumas aranhas saltadoras possuem oito olhos posicionados ao redor da cabeça, mirando direções distintas, com um alcance de quase 360°. Além disto, elas conseguem identificar a radiação ultravioleta, o que é muito útil para o acasalamento entre estas espécies.
Nada de ouvidos de mercador
Quando o assunto é audição, os lobos são mestres. Estes animais se organizam em grupos relativamente grandes – as alcateias – compostas por um macho e uma fêmea alfa, jovens, filhotes e outros animais adultos que ocupam posições inferiores: são os últimos a receber sua cota de alimento e quase nunca conseguem se reproduzir.
Para identificar os membros do grupo – o que pode significar oportunidade de caça ou advertência sobre uma agressão –, no entanto, os lobos desenvolveram um sofisticado método de comunicação através dos uivos: cada membro usa uma nota diferente para “falar” com os outros. A audição também é muito importante, para que uivos de até 200 metros de distância sejam captados e entendidos.
Cinco sentidos?
A classificação dos cinco sentidos – tato, olfato, visão, audição e paladar – é milenar: o primeiro a descrevê-los foi o filósofo grego Aristóteles. No entanto, a ciência do século IV a.C. era um tanto imprecisa: os estudiosos da época acreditavam, entre outras coisas, que o coração controla os pensamentos e que abelhas eram geradas nas carcaças apodrecidas de bois.
Hoje, existe um consenso na comunidade científica de que possuímos ao menos outros quatro sentidos: termocepção (percepção do calor ou frio), percepção de equilíbrio, nocicepção (percepção da dor) e propriocepção (a consciência do corpo; por exemplo, de olhos fechados, continuamos com a capacidade de saber onde estão nossos pés e mãos).
A sinestesia é a capacidade de associar cheiros a cores ou sensações táteis a aromas. Algumas pessoas identificam uma cor a um sabor, textura ou imagem. Pessoas sinestésicas são capazes de misturar mais de um plano sensorial, mas todos têm, em maior ou menor grau, esta capacidade, também relacionada ao uso de drogas alucinógenas.
Os cinco sentidos são atualmente chamados de “sentidos fundamentais”. Aristóteles não estava errado, apenas chegou a uma conclusão imprecisa e incompleta. Sem os conhecimentos de neurologia, seria impossível para o filósofo entender que os órgãos do sentido são apenas mensageiros do cérebro, este sim, o responsável por todas as sensações, emoções e sentimentos.