Curiosidades sobre o sangue

São cinco litros (ou 7% do peso total), que percorrem quase 100 mil quilômetros de “vias”: as artérias, onde a cor é vermelho vivo, e as veias, de cor vermelho escuro (no total, são dez bilhões de vasos capilares no corpo todo). O sangue é fundamental para o metabolismo humano: ele leva as células de defesa para onde for necessário e carrega oxigênio (através das hemácias) para todas as células do corpo, onde o elemento “queima” a glicose (na chamada respiração celular) e produz a energia necessária para as atividades orgânicas. O “precioso líquido” deixa o coração através da aorta, a maior artéria do corpo, com cinco centímetros de diâmetro.

No retorno ao coração, o sangue transporta dióxido de carbono (e por isto fica mais escuro) e oxigênio residual até os pulmões, onde novas trocas gasosas serão feitas: na expiração, o CO2 é eliminado e, na inspiração, mais oxigênio é absorvido para circular novamente pelas artérias.

Sangue venoso, ao contrário do que se pensa – e do que está escrito em muitos livros de biologia –, não é necessariamente o que circula pelas veias, mas todo sangue rico em CO2. Quando o sangue está do lado direito do coração (para onde seguem as veias), ele também é venoso.

Em apenas um minuto, todo o volume do sangue circula pelo corpo, até voltar ao coração. A “viagem” fica mais rápida quando praticamos esportes ou submetemo-nos a qualquer esforço físico. Do total de sangue, 20% se ocupam apenas no cérebro e cerebelo. A carótida é a artéria responsável por transportar o sangue para a cabeça.

Quem vive ao nível do mar possui cinco milhões de glóbulos vermelhos (hemácias), as células responsáveis pelo transporte de oxigênio. Em regiões mais elevadas, os habitantes podem ter até dois milhões a mais destas células, já que o ar é mais rarefeito e há necessidade de mais “trabalhadoras” para captar o gás necessário.

O organismo destrói perto de dez por cento das hemácias diariamente. Após 120 dias trabalhando, em função do desgaste metabólico e de alterações degenerativas, estas células, também chamadas de eritrócitos, são destruídas. O contato constante com o oxigênio prejudica a hemoglobina – proteína rica em ferro que permite o transporte de O2. Os responsáveis por acabar com as células envelhecidas são a medula óssea, o baço e o fígado. Neste último órgão, quando ocorre uma destruição anormal, instala-se uma anemia, uma das principais doenças do sangue.

Na corrente sanguínea, circulam também o plasma (mais de metade do volume total) e as plaquetas. São entre 250 mil e 500 mil células que só trabalham em caso de acidente. Quando um vaso se rompe – em função de uma hemorragia interna ou de uma lesão perfurante (um corte) – elas entram em ação e constroem uma barreira. Fora das veias e artérias, o sangue coagula em apenas seis minutos.

A linfa

O sangue arterial – rico em oxigênio – também carrega eletrólitos (como os sais minerais), aminoácidos (que formam os peptídeos e proteínas) e linfa (importantes para a defesa orgânica). Os poros dos vasos sanguíneos são estreitos demais para permitir que o sangue (hemácias e plasma) passe para os demais tecidos, mas a linfa (que transporta os glóbulos brancos), oxigênio, proteínas e glicose conseguem atravessar as paredes das artérias.

Ao contrário do sangue, que é bombeado pelo coração, a linfa depende de movimentos musculares para circular. Os movimentos de braços e pernas, pequenas contrações musculares e até a movimentação sanguínea em vasos próximos determinam esta circulação. Caso haja qualquer obstrução neste “caminho”, forma-se um edema – o acúmulo de líquidos na região afetada.

A linfa é rica em lipídios e células de defesa e responde por grande parte das impurezas produzidas pelo trabalho das células e de alguns microrganismos retirados dos tecidos. Ao passar pelos filtros do baço e dos gânglios linfáticos, eles são eliminados (encaminhados para a urina e as fezes). Estes fungos e bactérias são responsáveis pelas famosas ínguas: inflamações que provocam dor e inchaços, sentidos especialmente em nas axilas, virilhas e pescoço.

Sangue e transfusões

A cada dois segundos, um paciente internado necessita de uma transfusão de sangue; 20% de todos os pacientes em hospitais demandam uma transfusão. Cada doador de sangue pode salvar até três vidas com a sua atitude.

O volume máximo de doação fica entre 400 e 500 mililitros, o equivalente a 8% (mulheres) e 9% (homens) do peso total, mas isto não engorda nem emagrece ninguém. Uma mulher perde entre 90 ml e 200 ml com a menstruação – portanto, a doação não interfere em nenhuma atividade física. Aliás, a menstruação não é um impeditivo para a doação de sangue.

A doação de sangue não transmite qualquer doença. O material é testado antes (os doadores são submetidos a cadastro, triagem clínica – que inclui testes de anemia, verificação da pressão arterial da pulsação cardíaca e questionário sobre a saúde – e voto de autoexclusão), de qualquer forma, só é possível infectar-se ao receber o sangue, e não ao doar.

O doador, além do gesto de solidariedade, ganha uma série de exames grátis: HIV, hepatite B e C, sífilis, doença de Chagas e HTLV, vírus associado a doenças degenerativas do sangue, como leucemia e linfomas das células T.

Citações

Durante muito tempo, no Ocidente, creditou-se ao sangue (e ao fleuma, bílis negra e amarela – os humores do corpo) as disposições das pessoas. Assim, alguém era irritadiço, bem-humorado ou violento em função da quantidade maior destes líquidos no corpo (bílis negra e fleuma nem existem).

Isto gerou muitas expressões. Quem executa uma ação “a sangue frio” agiu propositadamente, de forma planejada. Já quem está com “o sangue quente” age sem pensar, sem refletir sobre os resultados de sua atitude. Mas quem tem “sangue quente” é esquentado, irrefletido.

O sangue azul é o sangue dos nobres, de quem tem estirpe. A expressão surgiu na península Ibérica, quando os árabes dominavam. Os europeus, de pele mais clara, deixavam à mostra as veias azuladas, enquanto os mouros (a própria palavra tem a mesma origem de “moreno”) as mantinham ocultas. Mesmo dominados, os futuros espanhóis e portugueses queriam demonstrar que eram fidalgos (“filhos de algo”, literalmente) e passaram a dizer que tinham sangue azul.

Quem tem “sangue no olho” (ou nos olhos) ama desafios, é corajoso, destemido, determinado (em Portugal, a expressão significa ter origem nobre). Quem tem “sangue de barata”, ao contrário, é covarde, não vai atrás de seus desejos, não se impõe, não reage.

Até a descoberta dos microrganismos, no século XIX, sangrar os pacientes, para expelir os agentes patológicos, era uma prática comum; até sanguessugas eram usadas para propiciar a cura. No entanto, algumas vezes, o corte das veias provocava hemorragias intensas, “desatadas”, levando inclusive à morte. Assim, a expressão “não é uma sangria desatada” significa que algo não é tão importante, tão urgente, pode ser remediado.

Chorar “lágrimas de sangue” significa sofrer demais – a expressão é derivada de chorar até que os olhos fiquem avermelhados.

Um cavalo puro sangue é aquele que tem a raça pura, com genealogia estabelecida. Ou seja, cavalos que não são puro sangue equivalem à expressão “vira-latas”, usada para cães sem raça definida.

Quem tem “sangue bom” é boa gente. Mesmo assim, é bom não irritá-lo demais, para não deixar o “sangue ferver” (incomodar alguém até que se percam todos os limites). Também é bom não amedrontá-lo, para não fazer o “sangue gelar” (deixar alguém com muito medo).