As principais presas das plantas carnívoras são os insetos, especialmente os que desempenham funções polinizadoras. O cardápio destas espécies, no entanto, inclui outros pratos: aracnídeos, anfíbios, répteis, roedores, morcegos e pequenas aves. O mecanismo de ação é simples: elas atraem os incautos com aromas, capturam as vítimas com folhas modificadas, digerem-nas com enzimas digestivas e são capazes de metabolizar os nutrientes – em especial, os compostos nitrogenados.
As plantas carnívoras se desenvolvem geralmente em solos pobres, arenosos ou encharcados e ácidos, com pouca disponibilidade de nitratos, substâncias essenciais para a fotossíntese (a síntese da clorofila). Apesar de absorverem proteínas animais, estas plantas, como todos os demais vegetais, dependem da energia solar para sobreviverem.
Mais propriamente, estes vegetais deveriam ser chamados de plantas insetívoras, apesar de também predar outros animais. Elas absorvem apenas parte dos nutrientes, eliminando boa parte dos “cadáveres”. Trata-se de uma longa trajetória de evolução natural, em que as espécies criaram instrumentos de sobrevivência em regiões carentes de substâncias nutritivas.
Em outras áreas do planeta, no entanto, as plantas carnívoras se adaptaram e mantiveram os hábitos nutricionais, mesmo dispondo de recursos a serem absorvidos do solo pelas raízes. Estas espécies colonizam as zonas tropicais do planeta (entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio), ocorrendo principalmente no Sudeste Asiático, Américas, litoral australiano e, com menos frequência, no sul da Europa e África subsaariana.
No entanto, é possível encontrar espécimes de plantas carnívoras sobrevivendo em hábitats bastante inóspitos, tais como o Alasca, a Escandinávia e o deserto da Austrália, com diferentes ferramentas de atração, caça e digestão.
As famílias de plantas carnívoras
São quatro as famílias mais abundantes de plantas carnívoras. As folhas das “Sarracenias”, que vivem principalmente na América do Norte, emergem de um rizoma subterrâneo, que une as folhas formando um tubo alongado. Os animais, atraídos pelas cores e aromas, literalmente “entram pelo cano”.
São 11 espécies já catalogadas, bastante apreciadas para decoração e jardinagem, divididas em diversas subespécies. Um dos gêneros é nativo da América do Sul (“Heliamphora”). Nos EUA e no Canadá, as “Sarracenias” apresentam um período de dormência nos meses mais frios do ano.
As Droseras é uma família de plantas angiospérmicas (com flores), que abriga os gêneros “Drosera”, “Dionaea” e “Aldrovanda”, talvez as mais conhecidas entre as plantas carnívoras (o termo “Drosera” é derivado de “Drosophila”, o gênero das moscas comuns).
Estas plantas apresentam tricomas glandulares – verdadeiros tentáculos – que recobrem especialmente as folhas e, ao secretarem uma substância pegajosa, atraem as presas, que ficam grudadas às armadilhas adesivas, morrem e são lentamente digeridas.
As “Lentibularias” reúnem três gêneros de plantas carnívoras: “Pinguicula”, com estratégia de caça semelhante à das “Droseras”.
“Utricularia” é um grupo de plantas aquáticas perenes, com três ou quatro talos flutuantes de até 45 centímetros e folhas de quatro centímetros.
O terceiro gênero das “Lentibularias”, a maioria nativa da América do Sul, com mais de 90 espécies ocorrendo no Brasil (de Roraima ao Rio Grande do Sul; o país só perde para a Austrália no ranking de espécies) é a “Utricularia”, composto por 214 espécies. São vegetais aquáticos e semiaquáticos, com um complexo sistema de armadilhas com válvulas que consegue capturar inclusive pequenos peixes e invertebrados que põem seus ovos à tona d’água.
As “Nepentes” apresentam na extremidade de suas folhas estruturas semelhantes a jarras. sobre Elas, os vegetais apresentam uma espécie de tampa colorida, que esconde um alçapão e impede que o líquido gosmento da “jarra” escorra.
Neste líquido, as presas escorregam para dentro do tubo: elas são atraídas pelas cores e pelo brilho das “Nepentes”. Presos, insetos, aranhas e aves não conseguem escalar para se livrar do perigo, pois os vegetais possuem pelos rijos e por uma cerosa voltados para baixo.
O maior número de espécies das plantas carnívoras pertence à família das “Nepentes”, que assumem a forma de trepadeiras, com as armadilhas situadas na base de sustentação do caule. A espécie “Nepenthes rajah”, atingem meio metro de altura e são nativas da ilha de Bornéu, dividida pela Indonésia, Malásia e Brunei.
Aos fatos
As plantas carnívoras são totalmente inofensivas para os seres humanos e animais de maior porte. Não existe a possibilidade científica de que elas sofram mutações genéticas e atinjam dimensões desmesuradas: a natureza já dotou estes vegetais com o necessário à sobrevivência e elas se encontram muito bem adaptadas aos seus hábitats.
A espécie “Dionaea muscipula” é popularmente conhecida como Vênus mata-moscas. É uma das espécies mais impressionantes, com aparência de monstro de filme de terror. Uma versão “ampliada” da planta apareceu alimentando-se de seres humanos no filme “A Pequena Loja de Horrores”, filme de humor negro de baixo orçamento, de 1960, dirigido por George Corman.
Na trama, o vegetal tornou-se gigantesco por ser o cruzamento de outras duas espécies. A planta não era norma: comunicava-se naturalmente com os seres humanos, um dos principais “aperitivos” da sua dieta. Na vida real, a dioneia leva dias para digerir as suas vítimas.
Ainda não há evidências de que as plantas carnívoras sejam medicinais, mas os primeiros estudos sobre elas já completaram 150 anos.
Estudos indicam que as enzimas digestórias dos vegetais possam ser úteis no combate a bactérias e fungos.
A maior espécie entre as plantas carnívoras é a “Amorphophallus titanium”, mais conhecida como flor cadáver. Ela chega a medir seis metros de altura e pesar 75 quilos. O fato mais extraordinário deste vegetal, é o cheiro que ele exala para atrair insetos carniceiros, um misto de carne em decomposição e fezes. Natural da Indonésia, a “Amorphophallus titanium” (cujo nome significa “falo gigante sem forma”) vive até 40 anos, mas só floresce duas vezes, por períodos de apenas 48 horas. Nestas ocasiões, apesar o cheirinho desagradável, ela se torna um ponto turístico, atraindo estudiosos e curiosos.