A Coreia do Sul é um país obcecado pela beleza e pela juventude. Em média, mulheres e homens coreanos utilizam dez produtos entre itens para o cabelo e a pele (do rosto e do corpo), além de maquiagem, o que lhes garantem destaque no ranking de mundial. Os laboratórios do país estão em constante inovação e não têm problemas em utilizar alguns ingredientes, como baba de lesma.
Pode parecer estranho – e até nojento – mas estudos indicam que os cremes faciais formulados à base desta gosma ou limo realmente oferecem resultados surpreendentes. A empresa TonyMoly, por exemplo, produz uma série de cosméticos feitos com glicoconjugados (moléculas constituídas por lipídeos proteínas e carboidratos extraídos da Helix aspersa, a espécie de caracóis mais conhecida do mundo e do Cantareus aspersus.
Estas moléculas são as responsáveis pela produção da baba de lesma – aquele rastro brilhante (e nauseante) que estes moluscos deixam em pisos e paredes quando se deslocam (“a passo de lesma”, é preciso dizer, para desconforto de muitas pessoas).
Este limo gosmento age estimulando a produção de fibroblastos, que aumentam os níveis de colágeno e elastina da pele humana. Desta forma, os cosméticos à base de lesma conferem mais firmeza e elasticidade, especialmente à pele do rosto.
A baba também contém enzimas que atuam nos processos de cicatrização e protegem contra os raios ultravioleta, além de ter ação hidratante e desintoxicante. O creme facial é eficiente inclusive para a eliminação de cravos, de espinhas e de pelos encravados.
O uso regular do produto coreano (copiado por indústrias farmacêuticas de vários países) aumenta a velocidade de reparação da pele, suaviza as linhas de expressão e devolve a densidade, brilho e uniformidade à pele envelhecida.
Usos e costumes no uso de lesmas
Apesar de parecer estranho, o uso das lesmas nos hábitos nutricionais, cosméticos e de saúde humanos é bastante antigo. À mesa, os caracóis são degustados ao menos desde a Grécia antiga (Hipócrates, o Pai da Medicina, teria afirmado que uma mistura de leite e caramujos esmagados é um excelente anti-inflamatório para a pele. Atualmente, quatro espécies são criadas exclusivamente para abate.
A iguaria é popular e muito requisitada em países como França (o famoso escargot, também criado no Brasil), Portugal (onde figura como caracol no cardápio) e Itália (lumache). Porém, nada de sair à caça de lesmas e caramujos no jardim: a Coreia do Sul desenvolveu uma técnica para separar a baba das fezes dos animais. Foi o pulo do gato da indústria cosmética: as fezes destes moluscos são tóxicas para animais e plantas.
Em Krasnoyarsk, na Rússia (é a capital do maior território do país, com cerca de um milhão de habitantes), esteticistas e dermatologistas decidiram eliminar os processos intermediários: nos salões de beleza da cidade, colocando os moluscos para “trabalharem” diretamente no rosto dos clientes.