Comprar é uma necessidade humana, especialmente para quem mora nos centros urbanos. No entanto, muitas pessoas compram por necessidade de status, por modismo, e há quem compre apenas pelo prazer do ato de comprar. Estes são os consumidores compulsivos, que, no Brasil, representam 3% da população.
Consumidores compulsivos são classificados como portadores de um distúrbio mental, a oniomania (em grego, “onios” significa “à venda”). Trata-se de um transtorno de impulso caracterizado pelo fato de o ato de comprar, e não o objeto adquirido, é a fonte de prazer e bem estar. Muitos consumidores presenteiam amigos e parentes logo depois da aquisição.
O perfil
A maioria dos consumidores compulsivos é do sexo feminino. Entre as características comuns, são mulheres de temperamento forte, dinâmicas, imediatistas, inquietas, perfeccionistas, muito inteligentes e com boa bagagem cultural e social. Boa parte percebe imediatamente, após a compra, que adquiriram algo inútil, mas, dentro da loja, a avidez fala mais alto.
Consumidores de jogos, por exemplo, apresentam uma fixação maior pelo objeto de desejo do que a fixação de um viciado em cocaína, afirma estudo realizado pela Universidade de São Paulo. Consumidores compulsivos costumam fixar-se em determinado objeto, como CDs ou sapatos, mesmo sem ter interesse em colecioná-los. Em alguns casos, chegam a comprar duplicatas de bens que já estão mofando no armário.
As causas
Sentir-se abandonado ou mal amado não parece ter relação com o distúrbio. O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e os estados depressivos estão relacionados ao consumo compulsivo, mas não são a causa primordial. Mesmo tratados com antidepressivos, os doentes continuam apresentando o hábito. Quem sofre de TOC, que oscila entre a mania e a depressão, não apresenta diferenças de comportamento nas duas fases da doença.
As causas da oniomania ainda são desconhecidas, mas é provável que a doença resulte de fatores genéticos, psicológicos e sociais. O consumismo excessivo dos dias de hoje, com sofisticadas técnicas de marketing para despertar o desejo, não pode ser responsabilizado pelo consumo compulsivo, mas o oniomaníaco nunca consegue resistir aos apelos da propaganda.
Os problemas
O salário mensal está longe de ser suficiente para custear as despesas desnecessárias. Alguns consumidores compulsivos chegam a gastar dez vezes mais do que a renda familiar, o que gera, além dos óbvios problemas financeiros, dificuldades de relacionamento com os parentes.
Existem relatos de consumidores compulsivos que, impedidos de tomar crédito por terem estourado o limite dos cartões de crédito, chegaram a roubar produtos em lojas; pessoas até então honestas, que se deixaram levar pelo impulso. Outros pedem dinheiro emprestado, mesmo sabendo que não vão conseguir quitar a dívida. Alguns passam cheques sem fundos e há muitos casos de portadores do transtorno que foram processados judicialmente por estelionato.
Em paralelo à compulsão pelas compras, quem sofre de oniomania desenvolve outras impulsividades, como comer demais, fazer exercícios em excesso ou trabalhar todos os dias até tarde da noite.
O tratamento
O tratamento consiste em terapia (especialmente em terapia comportamental cognitiva), aliada a medicamentos para aliviar a impulsividade. Geralmente, os pacientes chegam ao tratamento apenas depois de admitir que prejudicaram a vida de muitas pessoas.
No início, os pacientes chegam a apresentar crises de abstinência semelhantes às de usuários de drogas pesadas, como LSD e heroína: sentem-se ansiosos, a irritabilidade atinge níveis bastante elevados e apresentam sintomas psicossomáticos, como transpiração excessiva nas mãos e boca seca.
O tratamento, encaminhado por profissionais de psicologia e psiquiatria, geralmente surte bons resultados. O paciente gradualmente passa a entender os motivos que o levam às compras desnecessárias e passa a evitar situações que poderiam provocar o descontrole. Outras características nocivas relacionadas à oniomania, como a impaciência e intolerância, também são atenuadas.
Existem grupos de assistência mútua em diversas cidades brasileiras: são os Devedores Anônimos, que apresentam estrutura de funcionamento semelhante à dos Alcoólicos Anônimos: depoimentos pessoais, os 12 passos para ultrapassar o problema e a constatação de não há cura para a doença: existem apenas consumidores compulsivos em abstinência.