“Lar, doce lar”. Esta máxima é ainda mais correta para os animais. Afinal, a casa não é apenas uma casa: é também um “bunker de defesa”, uma estratégia de captura, um chamariz para atrair parceiros sexuais. Alguns animais desenvolveram verdadeiras obras-primas e chegam a utilizar ferramentas – gravetos e folhas – para ajudar na construção.
Para nós, eles são verdadeiras pragas. Os cupins são insetos sociais que se adaptam aos mais diferentes climas e ambientes, comem praticamente de tudo e, para sua defesa, constroem algumas torres que fazem inveja aos melhores arquitetos.
Eles não são apenas pragas, que adoram madeira e assemelhados. Trata-se do gênero de insetos mais abundante do planeta. Na natureza, os cupins exercem o papel de superdecompositores: eles decompõem cadáveres, restos de plantas e outros tipos de matéria orgânica, decompondo-a em sais minerais, água e dióxido de carbono, auxiliando no balanço do nitrogênio e o carbono.
Um cupinzeiro é um amontado de terra e outros resíduos, edificado por estes insetos para moradia, criação dos “filhotes” (larvas) e defesa da colônia. Os macrotermes africanos constroem torres de até oito metros de altura, que abrigam milhões de insetos.
Construção de alvenaria
Ou quase. O joão-de-barro é uma ave que coloniza o Pantanal Mato-Grossense, áreas remanescentes da mata Atlântica e os pampas do Rio Grande do Sul, Uruguai, Paraguai e Argentina (é a ave-símbolo deste último país).
Os joões-de-barro são monogâmicos, permanecendo longos períodos juntos. O ninho do casal é permanente (apesar de não ser habitado durante o ano todo), constantemente reformado, reedificado e defendido contra prováveis invasores.
O ninho tem formato de forno (outro nome da ave é “forneiro”), tem até 30 centímetros de diâmetro e 20 centímetros de altura e chega a pesar 12 quilos (em média, porém, não ultrapassa os cinco quilos). A construção não está associada à postura de ovos e, com a invasão humana no ambiente silvestre, o joão-de-barro passou a construir “casas” nas cidades, sobre postes e torres.
A construção do ninho do joão-de-barro não impressiona apenas pela perfeição externa. No interior, a câmara incubadora é totalmente forrada por pelos, fibras vegetais, penas, etc. A entrada é estreita, para evitar invasores e “curiosos”.
Símbolos do trabalho
Na fábula da cigarra e a formiga, a primeira passa o dia cantando, enquanto a segunda não se cansa de carregar folhas para o formigueiro, pensando na alimentação necessária para o inverno. Quando o frio chega, a cigarra morre de fome, enquanto a formiga passa a estação confortavelmente em sua “casa”.
A história do fabulista grego Esopo, recontada pelo francês La Fontaine, não é exata. A cigarra “canta” (na verdade, apenas esfrega as asas) para atrair parceiros sexuais. A maioria das espécies de formigas constrói grandes labirintos subterrâneos, que funcionam como casa, abrigo, lar da rainha (a mãe de todos os insetos da colônia), fazenda (elas não comem as folhas que recortam: apenas as mascam e depositam em câmaras, para que fermentem; o fungo é o verdadeiro alimento).
As formigas são animais sociais, com tarefas geneticamente programadas: algumas nascem para ser soldados (atuar na defesa da colônia); outras, para cuidar da colônia (faxinar e cuidar das larvas); a maioria, para colher matéria prima para a “fazenda”.
Já foram encontrados formigueiros com mais de 6,5 quilômetros de extensão, apenas considerando o raio ocupado, e não todas as ramificações. A colônia está na Europa e se estende por diversos países. Os túneis são bastante elevados (considerando a estatura de uma formiga): é que as operárias, algumas vezes, capturam uma presa grande – e precisam de espaço para transportá-la.
Estratégia nas alturas
Nem todas as espécies de formigas, porém, podem se dar ao luxo de construir habitações subterrâneas. Os animais que vivem em regiões suscetíveis de alagamentos duradouros precisaram criar outro “plano habitacional”.
Todas as formigas enfrentam problemas nos períodos de chuvas, mas, como regra geral, os formigueiros são construídos com sistemas de drenagem que amenizam o problema. Dezenas de galerias precisam ser reconstruídas e, quando a água invade o labirinto, é preciso salvar as larvas e o alimento.
As formigas-tecelãs, nativas da África central e do Pantanal Mato-Grossense, encontraram uma forma criativa de superar a força as enchentes. Elas utilizam uma espécie de seda secretada pelas suas larvas. Carregando as crias, elas deixam que a seda seja derramada entre folhas, formando túneis e câmaras.
O material é tão resistente que pode ser submetido a tempestades tropicais. Um detalhe curioso é que estas formigas carregam as larvas com as poderosas mandíbulas, sem causar qualquer dano aparente. A exposição dos filhotes e da rainha (especialmente no início da construção) não parece causar prejuízo à existência da colônia.
Entre a terra e a água
Os castores são roedores semiaquáticos conhecidos por construir barragens em rios, onde passam a maior parte do tempo. Na verdade, estes animais constroem tocas coletivas (até 12 espécimes) com troncos de árvores, derrubadas com os quatro poderosos incisivos dos castores, que precisam roer constantemente para desbastar os dentes, em contínuo crescimento.
Existem apenas duas espécies de castores no mundo (“C. fiber” e “C. canadensis”), que correspondem a apenas 0,13% dos roedores que habitam o planeta. Outra espécie (“C. californicus”), que colonizava a costa oeste dos EUA, já está extinta.
São animais territorialistas, sempre entrando em confronto com “intrusos” que invadem a sua área (o dique e as margens dos rios). É comum vê-los atacando os invasores com dentadas e golpes com a cauda achatada.
No final do outono, os castores começam a reparar os danos provocados na toca pela correnteza. Cobrem a construção com lodo, que se congela durante o inverno, garantindo proteção extra. Eles também estocam alimentos para superar os dias frios. A maior barragem construída por estes roedores fica no sul do Canadá, estende-se por mais de 850 metros e resiste às investidas do tempo há mais de uma década.
Apesar do grande consumo de madeira, os castores quase nunca provocam prejuízos ambientais. Eles mantêm o equilíbrio do ecossistema: os diques garantem a umidade das margens (e o consequente desenvolvimento de espécies vegetais), ajudam a controlar inundações e diminuem a concentração de contaminantes na água.
A exceção fica por conta da introdução artificial dos animais. Eles já foram levados para a Terra do Fogo (sul da Argentina e Chile) e para comunidades espanholas em La Rioja e Navarra. Nestes locais, os castores fizeram um grande estrago na vegetação.
Estratégia duradoura
As teias de aranhas são armadilhas de seda construídas com material pegajoso, até que as presas incautas esvoacem entre a trama até que seja tarde demais: elas ficam grudadas, com poucas possibilidades de escapar, prontas para serem devoradas, ou guardadas para um lanchinho mais tarde.
Algumas espécies de aranhas são tão sofisticadas que se dão ao luxo de manter presas encapsuladas – e vivas – junto aos ninhos, para que as crias encontrem alimento fresco assim que deixarem os ovos.
Nem todas as aranhas tecem ninhos. As classificadas como “vagabundas”, como diversas espécies de tarântulas, ocupam tocas naturais, escavadas pelos ventos ou pelas chuvas, e ficam de prontidão, esperando que a caça passe em frente à sua casa.
A aranha Darwin Bark é conhecida por construir a maior e mais resistente teia de aranha do mundo. O fio que ela tece é dez vezes maior forte que o kevlar, fibra sintética de aramida conhecida pela resistência e leveza, que suporta cinco vezes mais peso do que um fio equivalente de aço.
A Darwin Bark habita algumas ilhas do Caribe e não é uma aranha grande: o cefalotórax não ultrapassa três centímetros. A sua teia, no entanto, é gigantesca: os fios de suporte atingem 25 metros e o centro da armadilha ocupa três metros quadrados.
Os fios, dispostos sobre correntes d’água, são tecidos com um material biológico considerado o mais forte já encontrado até hoje. Até pássaros e pequenos morcegos ficam presos na teia quase transparente, um excelente exemplo de adaptação natural.