Ela fica nas Ilhas Maurício, um país insular do oceano Índico há 2.000 km da costa sudeste da África (800 km de Madagáscar). Apesar de ser uma ilusão, mas parece real. Em um mergulho por águas claras do mar aberto, porém, não é possível observar nada.
As imagens da cachoeira submersa parecem montagens feitas com programas de computação gráfica, mas são dramaticamente reais, apesar de não ser um fenômeno hidrológico, apenas a reflexão dos raios do Sol sobre as águas. Quem observa a costa da ilha tem a total sensação de observar uma queda d’água. É uma emoção indescritível.
Para identificar a cachoeira submersa, é preciso sobrevoar a região. A “queda d’água” é formada em função da movimentação dos sedimentos de silte (fragmentos de rocha menores do que grãos de areia) depositados no leito do oceano. Como a água é cristalina, a incidência dos raios solares provoca a ilusão de ótica, como se o mar estivesse se precipitando sobre si mesmo. Os grãos de silte são extremamente leves e, por isto, estão sempre em movimento.
As agências de turismo, quando agendam viagens para as Ilhas Maurício, já incluem sobrevoos de helicóptero ou pequenos aviões na cachoeira submersa. Nas ilhas, existem vários serviços, inclusive voos com asa delta e parapente, para os mais aventureiros.
A cachoeira submersa fica na costa sudoeste, em uma região conhecida como Le Morne. O local, considerado patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO, tornou-se um quilombo no século XVIII. Protegidos pelos precipícios que a montanha oculta, os escravos permaneceram isolados por mais de um século. As Ilhas Maurício, até então um entreposto para o tráfico de pessoas para escravidão, tornaram-se um símbolo da liberdade, passando a ser chamada de “Terra dos Quilombolas”.
Até imagens de satélite conseguem identificar a cachoeira submersa. Nas fotos do Google Maps, por exemplo, é possível identificar um vórtice subaquático (movimento circular), em que as águas parecem se precipitar continuamente no oceano. É um espetáculo para poucos, mas merece ser visto por quem tenha condições de viajar para este paraíso.
As Ilhas Maurício
O país é um pontilhado de ilhas, a 800 quilômetros de Madagáscar. É formado pelas ilhas Mascarenhas orientais (Maurício e Rodrigues) e por dois arquipélagos ao norte: Agalega (duas ilhas) e São Brandão (Cargados Carajos), um conjunto de 22 ilhas.
O país é famoso pelos núcleos de proteção à vida marinha, especialmente às tartarugas do Índico, que sobem às praias de Cargados Carajos todos os anos para depor os seus ovos. Agalega é o hábitat natural de um lagarto raro (“Phelsuma borbonica agalegae”) e a principal produção econômica são os cocos.
Isto faz de Agalega a “ilha perfeita”: areia branca, coqueiros e muita paz. Infelizmente, não são permitidos turistas na ilha. Já no arquipélago de Cargados Carajos, é possível encontrar pontos para mergulho, avistamentos de corais ou apenas descansar nas praias. O problema, aqui, é que a altitude máxima é de apenas um metro acima do nível do mar; com a elevação dos oceanos, se nenhuma providência for tomada, este paraíso está condenado a submergir.
As Ilhas Maurício possuem IDH (índice de desenvolvimento humano) considerado elevado: 0,701. É o terceiro melhor índice do continente africano e é praticamente idêntico ao brasileiro, de 0,699. O país, descoberto em 1507 por navegantes portugueses, foi colonizado sucessivamente pela Holanda, Inglaterra e França.
Conquistou a independência em 1968. Muito antes disto, ainda no século X, os árabes já visitavam os arquipélagos do Índico, em busca de frutas frescas, especiarias e, talvez, algum minério precioso. Era uma façanha para a época, já que não havia instrumentos de navegação, não é possível tomar o litoral do continente como referência e as embarcações eram muito frágeis.
O nome “Maurício” é uma homenagem ao príncipe holandês Maurício de Nassau – o mesmo que, no século XVII, administrou os territórios da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais até perder Pernambuco e Sergipe para os portugueses.
Na verdade, as Ilhas Maurício nem precisariam da cachoeira submersa para se tornarem famosas, sempre incluídas nos roteiros turísticos do oceano Índico. Clima agradável, praias para todas as “tribos” – dos surfistas aos casais com filhos pequenos, boas opções de estadia e uma gastronomia única, que mescla influências indianas, chinesas, francesas e criola, o arquipélago é um excelente local para experimentar outros sabores.
O lugar é procurado por mergulhadores, surfistas, casais em lua de mel, famílias e grupos de amigos. A principal atração é o mar azul-turquesa, mas vale a pena passear pelos canaviais, pontilhados pelos vulcões negros (todos extintos: as ilhas têm origem vulcânica, mas isto ocorreu há mais de oito milhões de anos). Os montes não têm nenhuma vegetação e contrastam com o verde da plantação.
As ilhas, que produzem açúcar e coco, estão desenvolvendo também a indústria têxtil. A capital Saint Louis (160 mil habitantes) é conhecida como “terra da baunilha”. Os chás desta planta trepadeira feitos nas Ilhas Maurício são mundialmente conhecidos pelo sabor e o aroma.
As Ilhas Maurício possuem boa infraestrutura para receber turistas, que podem optar por hotéis, pousadas e resorts para a hospedagem e diversas áreas de proteção ambiental, algumas delas abertas para a visitação com guia. O país recebe um milhão de viajantes a cada ano, configurando-se como um dos principais destinos tropicais do mundo.
Uma curiosidade: as Ilhas Maurício foram o hábitat natural do pássaro dodô, uma ave pouco maior do que um peru, totalmente mansa. Esta característica determinou a sua extinção. Na época das Grandes Navegações (séculos XV e XVI), o dodô caiu literalmente no gosto dos marinheiros europeus.
Os holandeses, ao chegarem às ilhas em 1598, caçaram as aves aos milhares. Para piorar a situação, cães, gatos e ratos que viajavam nos navios encontraram um banquete nos ninhos do pássaro dodô. Não sobrou nenhum para contar história.