No século XVIII, o quarto conde de Sandwich (palavra que posteriormente foi incorporada ao português como sanduíche), John Montagu, era um nobre inglês fanático por jogos de cartas. O conde era tão viciado no baralho, que passava noites em claro jogando uíste, um carteado em duplas. Apesar do vício, o conde desenvolveu uma bela trajetória profissional, tendo se tornado o primeiro lorde do almirantado. Também foi secretário de Estado.
Consta que, em certa madrugada, faminto, Montagu pediu a um criado que preparasse uma refeição que ele pudesse ingerir com apenas uma das mãos, para não ter que sair da mesa de jogo. O lacaio precisou improvisar. Pegou tiras de carne, colocou-as entre duas fatias de pão e serviu-as ao seu senhor.
O conde ficou tão satisfeito com a inovação que, dizem, nunca mais fez uma refeição normal à noite. Seus parceiros de jogos também se motivaram e, quando sentiam fome, pediam um “igual ao do Sandwich”. Entre os companheiros de cartas, estava James Cook, capitão da marinha real que mapeou a Terra Nova (Canadá) e a costa leste da Austrália, e fez o primeiro contato europeu com o arquipélago do Havaí, que batizou de Ilhas Sandwich.
Mais sobre sanduíches
No século XIX, em Frankfurt (Alemanha), um açougueiro criou embutidos – restos de carne moídos e envolvidos em tripas de porco – e batizou-os como dachshund, por lembrarem o formato de seu cachorro (raça mais conhecida no Brasil por bassê Cofap). Em 1904, em Saint Louis (EUA), um vendedor de salsichas quentes emprestava luvas para que seus clientes não queimassem as mãos.
No entanto, os consumidores saíam pelas ruas comendo os tais embutidos e nunca devolviam as luvas. O cunhado do vendedor – um padeiro – sugeriu que ele colocasse as salsichas no meio de um pão, para minimizar o prejuízo. E assim nasceu o cachorro quente. Curiosamente, a adição de chucrute (repolho fermentado, tipicamente alemão) a este sanduíche é uma invenção brasileira: nasceu nas oktoberfests de Santa Catarina.
A história do hambúrguer é bastante antiga. Apesar de ser um símbolo dos EUA, o bife de carne moída nasceu na Ásia e chegou à Europa pelas mãos de tribos nômades. Os cavaleiros transportavam seus mantimentos – carne e cebola, basicamente – que ficavam triturados e fermentados durante as longas caminhadas (é a origem do bife tartar). Marinheiros alemães se apossaram da receita, mas resolveram assá-la, para torná-la mais saborosa.
Como o principal porto da Alemanha é Hamburgo, a iguaria ficou conhecida como bife à moda hamburguesa. Aos americanos cabe a criação do formato arredondado e a transformação do prato num sanduíche e suas muitas variações, com queijo, bacon, ovo, etc.
Os americanos apreciam refeições rápidas e raramente sentam-se à mesa para almoçar (almoço, em inglês, é “lunch”, que originou a palavra “lanche” em português). Quando o fazem, eles criaram uma etiqueta própria, em que é permitido empurrar a comida com a faca, para poupar tempo, um “pecado” na etiqueta tradicional.
Um sanduíche brasileiro
Nos anos 1920, um estudante nascido em Bauru, interior paulista, sempre pedia o mesmo sanduíche no famoso Ponto Chic do centro paulistano. A receita incluía rosbife, pepino em conserva fatiado, tomate e três tipos de queijos cozidos em água. Para caber tanto recheio, o miolo do pão teve que ser retirado.
Na verdade, o acadêmico de Direito Casemiro Pinto Neto “inventou” a receita com um singelo sanduíche de queijo. Com a falta de tempo, ele acabou incluindo os outros ingredientes para garantir uma boa nutrição: a carne fornecia gordura e proteínas, o tomate, as vitaminas necessárias. O pepino só entrou depois, a pedido dos clientes.
O sanduíche ficou famoso. Cada vez mais pessoas pediam “o lanche do Bauru”, apelido do estudante. Foi “exportado” para outros restaurantes e consumido por políticos e atletas. O técnico do “Palestra Itália” – primeiro nome do Palmeiras – levava o time inteiro para degustar a iguaria, considerada um prato completo.