Em casquinhas, picolés e tijolos, os brasileiros consumiram 1,209 bilhões de litros de sorvete em 2012, o que equivale a 6,21 litros per capita. Nos últimos dez anos, foi registrado um aumento de 70%. Mas o sorvete é um velho conhecido da humanidade. Ele surgiu na China, há quase quatro mil anos. Uma sobremesa à base de arroz e leite teria congelado por causa do frio intenso e rapidamente caiu no gosto popular. Em outra versão, o sorvete teria sido criado intencionalmente, com uma mistura de mel, polpa de frutas e neve – uma espécie de geladinho brasileiro.
Nesta época, o sorvete era reservado às classes mais abastadas. O leite era um produto caro e apenas os ricos podiam manter depósitos subterrâneos de neve nos meses mais quentes do ano. Oferecer sorvete aos convidados era um sinal de status. Há relatos chineses do século VI a.C. que dão conta de grandes suprimentos de sorvete como um símbolo de riqueza.
Os persas também adotaram o hábito de consumir bebidas e cremes gelados para se refrescar durante o verão. O sorvete persa era feito com neve e sucos, modelado na forma de um ovo e consumido com as mãos, como mostram ilustrações do século V a.C.
Na Europa, o sorvete chegou pelas mãos do imperador grego Alexandre, o Grande, no século IV a.C., depois de suas campanhas bélicas pelo Oriente. No século I, o imperador romano Nero alegrava seus convidados com sorvetes preparados com neve trazida dos montes do norte italiano.
A receita se perdeu e os europeus só reencontraram o sorvete no final do século XIII, quando o veneziano Marco Polo retornou das “terras do Catai” – como os medievais se referiam à China, um misto de geografia e lendas. As receitas, assim como o uso da seda e de especiarias na culinária, ficaram restritas à península Itálica até o século XVI, quando o arquiteto, pintor e escultor florentino Bernardo Buontalenti – um gourmet amador – introduziu o sorvete na corte de Catarina de Médicis, rainha da França.
Em 1670, foi inaugurada a primeira sorveteria em Paris. O sucesso foi tão grande que, em menos de dez anos, havia mais de 200 fábricas de sorvete na cidade. Com a adição de caldas e a criação de dezenas de receitas, o sorvete se espalhou pelo norte da Europa e, a partir da Inglaterra, chegou às colônias americanas. Hoje, os EUA são os principais produtores e consumidores da sobremesa no mundo.
Com as inovações tecnológicas da Revolução Industrial (século XIX), surgiram as primeiras câmaras frigoríficas, fator determinante do barateamento da produção do sorvete, que passou a ser fabricado em escala industrial e popularizou-se em todas as faixas de renda. Nesta época, foram criadas as receitas do ice cream soda, banana split e sundae, nos EUA, e da casquinha, na Itália.
No Brasil, a primeira notícia sobre o sorvete surgiu em 1834, quando um navio carregado com gelo vindo de Boston aportou no Rio de Janeiro. Dias depois, dois comerciantes anunciaram que começariam a vender “gelados” de diversas qualidades: “simples, amanteigados e peças fortes” (nestas últimas, se acrescentava alguma bebida alcoólica). O sorvete carioca fez tanto sucesso que desbancou o aluá, refresco à base de milho consumido tanto na rua, quanto na corte de Pedro II. No baile da ilha Fiscal, às vésperas da Proclamação da República, o imperador serviu aos seus convidados 14 mil litros de sorvete de pitanga, seu sabor predileto.
Com a introdução do sorvete, as mulheres passaram a frequentar os cafés e confeitarias, território restrito ao público masculino até então. O doce refrescante espalhou-se rapidamente por todo o país.