Os Evangelhos segundo São Mateus e São Lucas narram a história: Maria, grávida, e seu marido precisaram deslocar-se de Nazaré até Belém, cidade natal da família de José, pai de Jesus, por causa de um recenseamento determinado pelo imperador Tibério na colônia romana. Não há registros históricos sobre este censo, mas a tradição se manteve. Os Evangelhos segundo São João e São Marcos se calam sobre o assunto.
Ao chegar à cidade, Maria sentiu os primeiros sinais do parto. José procurou em vão uma vaga em estalagens, que estavam lotadas: só conseguiu pouso numa estrebaria, onde Jesus teria nascido entre os animais. Pastores da região, atraídos por uma luz brilhante, vieram e adoraram o menino. Este é o retrato do presépio.
Em 1223, o frade italiano Francisco de Assis, posteriormente canonizado pela Igreja Católica, decidiu mudar as comemorações no Natal. Em vez da tradicional celebração na igreja, o santo resolveu representar o nascimento de Jesus na floresta de Greccio, próximo à cidade de Assis. Com figuras de barro, ele criou a manjedoura, pastores, anjos – que anunciaram o nascimento do Salvador, de acordo com a tradição –, a estrela que guiou os magos até o local, o menino e seus pais.
Algumas imagens deste primeiro presépio existem até hoje e estão na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. A palavra “presépio” vem do hebraico e significa estábulo, local de repouso e alimentação de animais. Logo após nascer, Jesus foi reclinado numa manjedoura, para se manter aquecido, já que muito antes da época de São Francisco o Natal já havia sido fixado em 25 de dezembro, em pleno rigoroso inverno do hemisfério norte.
Neste primeiro presépio, foi celebrada uma missa que teve início à meia-noite, exatamente no primeiro minuto do Natal. Esta tradição sem mantém até hoje: é a chamada Missa do Galo, realizada em praticamente todas as igrejas católicas do mundo. A tradição afirma que, enquanto o padre seguia os ritos do culto, os fiéis observaram um bebê em seu colo, motivo por que São Francisco é representado carregando o Menino Jesus.
Desenhos e pinturas inspiradas no nascimento de Jesus existem desde o século IV, mas desde o século XIII, os presépios foram se tornando cada vez mais populares.
No Nordeste brasileiro, as representações são montadas enquanto vários grupos cantam e dançam: são as conhecidas Pastorinhas, versão nacional dos autos de Natal, que são representações medievais do nascimento de Jesus.
Com o tempo, aos presépios foram agregadas outras esculturas, representando o cotidiano: mulheres tirando água de poços, lagos e mesmo situações regionais, bastante distantes do possível cenário original: mostram Jesus negro, na África subsaariana, ou de olhos puxados, no Oriente. Existem museus de presépios em diversas cidades, inclusive no Brasil.
Tradicionalmente, o presépio é montado no dia 8 de dezembro, data em que a Igreja Católica comemora a Imaculada Conceição, dogma segundo o qual Maria, mãe de Jesus, foi concebida pelos métodos normais, mas teria sido preservada do pecado original, comum a todos os homens. No Dia de Reis, 6 de janeiro, é o momento de guardar as imagens e decorações.
Apesar de os animais serem figuras frequentes no presépio, o papa Bento XVI lançou recentemente um livro, “A Infância de Jesus”, em que nega a presença dos famosos boi e burro no local de nascimento de Jesus. Ele baseou-se no Evangelho segundo São Mateus, que nada fala sobre bichos na cena, em oposição ao livro de São Lucas.
De qualquer forma, vários teólogos veem no presépio uma forma de demonstrar a humildade de Jesus, Deus encarnado de acordo com a fé cristã: podendo escolher nascer em palácios e casas ricas, optou por chegar ao mundo numa estrebaria, demonstrando a importância da simplicidade para a salvação.