A capoeira é uma autêntica expressão cultural brasileira, mescla de luta marcial, dança, esporte e música. Ela surgiu pela necessidade de autodefesa dos negros trazidos para trabalhar nos engenhos e fazendas. A capoeira se caracteriza por movimentos ágeis e complexos: são chutes, rasteiras, cotoveladas, joelhadas, cabeçadas e até acrobacias. Quem quer iniciar uma atividade física, pode optar pela capoeira, que trabalha todo o corpo, unindo exercícios aeróbicos e anaeróbicos.
A capoeira caracteriza-se pela musicalidade. As lutas e apresentações são marcadas pelo ritmo do berimbau e dos atabaques, tocados pelos próprios praticantes, o que confere um caráter lúdico à prática. O termo é a junção de duas palavras indígenas ka’a (mata) e puer (que foi). Os escravos fugitivos embrenhavam-se nas florestas e tentavam se ocultar na vegetação: eles “iam para a mata”, muitas vezes integrando-se com aldeias de índios.
Portugal adotou a prática da escravidão ainda no século XV, antes da descoberta do Brasil, que, ainda assim, foi o maior receptor de escravos como mão de obra, já que a população local (os índios) não se adaptavam à produção em escala comercial. Não é possível saber o número exato, mas estima-se que 3,5 milhões de africanos tenham sido trazidos à força entre os séculos XVI e XIX.
Um milhão de negros foi raptado no último período do tráfico negreiro entre 1800 e 1850, quando o número de europeus e descendentes era de três milhões. A influência da cultura africana, desta forma, é extremamente forte no país. o Brasil é um país musical por causa dos escravos, trazidos principalmente do golfo da Guiné e de Angola. Sem o samba, estaríamos dançando minuetos e valsas.
O vocabulário do português falado no Brasil foi enriquecido com muitas palavras de origem africana, a culinária foi beneficiada, não apenas com a adoção de novos ingredientes e temperos, mas também com uma criação atribuída aos escravos: a feijoada. O Candomblé, religião tradicional africana, permeia diversos costumes e deu origem a uma religião brasileira: a Umbanda.
A origem da capoeira
No início da colonização portuguesa, a população negra era majoritária. Mesmo assim, a falta de armas (o grande trunfo dos europeus), o desconhecimento do território e a discordância entre escravos de nações diferentes, inclusive rivais, impediu que se formasse uma frente homogênea para reagir aos castigos físicos – verdadeiras torturas – e à carga excessiva de trabalho, especialmente nas fazendas de cana-de-açúcar.
A solução encontrada foi a fuga. A capoeira surgiu como esperança de liberdade, mais do que é uma técnica de combate. Num local estranho, sem recursos necessários para a sobrevivência, os escravos desenvolveram a luta para superar o meio hostil e os ataques de capitães de mato, sertanistas que caçavam os fugitivos.
Os quilombos
Submetidos a tratamento desumano, milhares de escravos evadiam-se das propriedades rurais. A organização dos quilombos foi o passo seguinte. Eram sociedades de africanos, que se reuniam de acordo com a sua identidade cultural. A capoeira encontrou o ambiente adequado para se desenvolver.
Muito mais do que nos terreiros e senzalas (moradias coletivas dos escravos nas fazendas), os habitantes dos quilombos eram livres para praticar sua religião e tradições. Com isto, a capoeira pôde sobreviver. A maioria das práticas culturais era proibida pelos proprietários de terras.
O quilombo brasileiro mais famoso é o de Palmares, fundado na capitania de Pernambuco, atual Estado de Alagoas. Resistiu por mais de cem anos, chegou a celebrar um acordo de paz com os portugueses e só foi destruído em 1704, com Domingos Jorge Velho comandando seis mil homens.
Neste ataque, Zumbi, o líder de Palmares, nascido no próprio quilombo, preferiu morrer a ser escravizado. Sem sua liderança, a população não resistiu e foi reescravizada ou morta. Mesmo assim, a influência africana sobreviveu. No início do século XIX, com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, a urbanização sofreu forte aceleração e a capoeira – juntamente com o samba, o Candomblé e muitas outras contribuições dos negros – chegaram às cidades.
Com a abolição da escravatura (1888), os negros foram deixados à própria sorte, sem nenhuma compensação financeira, e parte deles aderiu à criminalidade. Em 1890, para evitar a onda de roubos e assaltos, a prática da capoeira foi proibida no país: um capoeirista tinha inúmeras vantagens frente a um policial que tentasse prendê-lo.
Proibida, mas sempre praticada, a capoeira permaneceu na ilegalidade até os anos 1930. Nesta época, Mestre Bimba fundou uma academia em Salvador e sofisticou várias técnicas. Como era proibida, o professor batizou-a de luta regional baiana. Apenas em 1940 a capoeira saiu do Código Penal, para ser praticada livremente pelos brasileiros.