Um deserto é uma área em que a presença humana permanente não é possível e, como as primeiras civilizações surgiram em torno do mar Mediterrâneo, o conceito identificou deserto com a área arenosa, sem fontes de água, que cobre todo o norte da África. Um deserto leva milênios para se formar.
Por exemplo, há 500 mil anos, o deserto do Saara (que hoje se estende por nove milhões de quilômetros quadrados, maior, portanto, que o Brasil, cuja área é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados) era bem menor. Existem evidências arqueológicas da permanência humana e de diversos outros animais na região e o Nilo, que hoje deságua no Mediterrâneo, percorria toda a extensa planície, para jogar suas águas no oceano Atlântico.
Em terrenos arenosos, a cobertura vegetal é fundamental para manter a umidade do solo. As raízes das árvores evitam a erosão e mantêm os lençóis freáticos – depósitos subterrâneos de água – em equilíbrio. Há cerca de 400 mil anos, ocorreu um súbito aquecimento da temperatura da Terra.
Isto provocou a transformação gradual das florestas dos desertos do Saara e da Arábia. Paulatinamente, elas se tornaram matas de cerrado, savanas e, finalmente, áreas desérticas. Foi um fenômeno natural, que pode estar relacionado à evolução humana: com a extinção das árvores, nossos ancestrais tiveram que descer para o solo.
Estes proto-homens ficaram expostos a predadores e, por isto, tiveram que desenvolver estratégias para não se extinguirem. Progressivamente, construíram abrigos, utensílios e armas, domesticaram o fogo e, nestas atividades, desenvolveram cada vez mais a inteligência.
O Saara, no entanto, continua crescendo. Nos últimos 50 anos, mais de 500 mil quilômetros quadrados – uma área equivalente ao Estado de Minas Gerais – foi desertificada. E isto não é um fenômeno natural: trata-se da ação humana, provocando desmatamento, degradando o solo e explorando os recursos, como água e minérios, sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade.
E o Brasil?
O processo de desertificação não ocorre apenas nas regiões banhadas pelo Mediterrâneo. No Brasil, a expansão das fronteiras agrícolas exerce forte pressão sobre a Amazônia, o cerrado e o pantanal mato-grossense, prejudicando o equilíbrio destes biomas.
Tudo está inter-relacionado. Cada região depende da manutenção das características de regiões vizinhas. A intensa exploração das terras do Nordeste durante todo o período do Brasil Colônia, desmatando áreas para produzir cana-de-açúcar, intensificou exponencialmente as condições da zona da caatinga.
A redução da Amazônia e da mata dos Cocais, entre Maranhão e Piauí, tendem a piorar a situação do sertão nordestino. A extração legal de madeiras nobres (como jacarandá, jatobá e itaúba) no Amazonas e Pará, especialmente, diminui a cobertura vegetal, permitindo a passagem de ventos quentes para o Nordeste.
Uma solução é a conscientização dos consumidores, exigindo madeira certificada na aquisição de móveis, mas a maioria do material ilegal é exportada clandestinamente para países europeus e, portanto, é preciso que estas nações adotem outras medidas para impedir a entrada.
Grandes áreas degradadas não servem para cultivo, apenas para o pasto do gado. Agricultores podem utilizar zonas de encostas para recuperar a capacidade de produção; no entanto, nestas áreas, a erosão é ainda mais rápida: em poucos anos, a produtividade é drasticamente reduzida. Além disto, a região abaixo da encosta fica com o solo arenoso, totalmente inadequado para qualquer atividade rural.
Não é isto que acontece, no entanto. A Europa, especialmente, permite a entrada de madeiras nobres e animais nativos do Brasil, para serem criados como pets e até para extração de penas e peles.
Neste cenário, a transposição do rio São Francisco, para irrigar outros Estados nordestinos e aumentar a produção agropecuária, além de recuperar áreas degradadas, é uma tarefa urgente. Mas, mesmo assim, o projeto caminha a passos de tartaruga.