O número de pessoas que passam fome no mundo tem diminuído nas últimas décadas, mas um em cada nove habitantes do planeta (870 milhões) não tem alimentos suficientes para sua nutrição, de acordo com a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. O Brasil tem boa parte da culpa deste problema.
Os maiores gargalos estão na infraestrutura de transportes deficiente, mas cada um pode – e deve – assumir algumas atitudes para reduzir o desperdício de comida.
O mesmo relatório da FAO, datado de setembro de 2014, indica que nosso país está na lista dos dez mais perdulários quando o assunto é jogar comida no lixo: 70 mil toneladas da produção agropecuária não chegam à mesa dos brasileiros. Pouco menos de 65% do que se planta é perdido na produção e distribuição: colheita, transporte e armazenamento, beneficiamento, varejo, processamento culinário e hábitos de alimentação.
Estudos da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) corroborados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que os brasileiros descartam mais alimentos do que consomem: 35 quilos anuais, em média, vao efetivamente para o estômago, dois quilos a menos do total destinado ao lixo. Isto equivale a quase 1,5% do PIB, ou US$ 5 bilhões anuais.
Ao contrário do que diz o ditado, “uma andorinha faz verão, sim”. Enquanto esperamos melhores técnicas de produção de alimentos – e também melhores rodovias, ferrovias e hidrovias para transportá-los – nós podemos adotar algumas atitudes sem nenhum sacrifício e, assim, reduzir o desperdício de comida em nossa casa e no país.
Impactos ambientais do desperdício de comidas
Um terço de toda a produção alimentícia do mundo é jogado fora. Isto significa um bilhão de toneladas de comida a cada ano, quatro vezes mais do que o necessário para acabar com a fome no mundo. Alimentos custam caro para serem produzidos e distribuídos, e eles também provocam sérios problemas ambientais.
É necessário desmatar grandes trechos para cultivo e pasto, o consumo de água para a agricultura é imenso (70% da quantidade total de líquido disponível no planeta são usados nas plantações) e 30% da emissão de gás metano são provocados por animais ruminantes, como vacas, cabras e carneiros (outros 11% são derivados apenas do cultivo de arroz).
A utilização de fertilizantes à base de nitrogênio, nocivos ao meio ambiente e também à saúde de quem os manipula, também compromete a qualidade da terra, tornando-a imprópria, com o passar do tempo, para a produção de alimentos.
Por fim, o emprego de combustíveis fósseis nas máquinas agrárias e no transporte dos alimentos contribui para o aumento da poluição ambiental. Reduzir o desperdício de comida significa beneficiar outras pessoas que estão passando fome e também garantir ganhos para o meio ambiente, inclusive com a redução do lixo orgânico em aterros sanitários e lixões.
Como reduzir o desperdício de comida?
Em primeiro lugar, é preciso verificar, com a maior margem de certeza possível, o que está faltando na despensa.
Muitas pessoas compram, todas as semanas, exatamente as mesmas coisas no mercado e na feira, sem checar se os alimentos estão realmente em falta. O resultado é uma sobra constante de alimentos, que se estragarão e irão para o lixo.
Outro ponto importante é cuidar dos alimentos rapidamente perecíveis. Legumes, frutas e verduras devem ser lavados assim que sejam trazidos para casa. A higienização destes itens garante maior vida útil e facilita na hora do preparo.
Uma boa ideia é planejar o cardápio semanalmente. Com as refeições previamente organizadas, as compras ficam facilitadas. Também é possível economizar escolhendo produtos da estação, sempre mais em conta.
Não se preocupe com a aparência dos alimentos. As cascas de frutas e legumes, assim como as folhas das verduras, podem estar com mau aspecto, mas isto não significa que o alimento esteja estragado. Aliás, estes itens costumam ser mais baratos. Com relação aos itens mais perecíveis, verifique sempre a geladeira: mandioquinha, chuchu, abobrinha e outros podem ser transformados em seleta ade legume, mesmo que parte deles não possa ser aproveitada.
Talos, sementes, cascas e folhas, que geralmente são descartados, podem ser aproveitados como parte de saladas ou para cozinhar o arroz ou macarrão: pegue todas as partes que não entram normalmente no cardápio e ferva-as por alguns minutos. Depois, utilize está água rica em nutrientes na preparação de outros pratos.
Grandes compras de mercado devem ser evitadas. O ideal é visitar o varejo com mais frequência e, desta forma, comprar exatamente o necessário. As compras mensais eram justificadas na época da alta inflação, quando os preços eram remarcados mais de uma vez por dia.
Fuja da tentação de comprar as “ofertas do dia”. Quase sempre, os mercados aumentam os preços de alguns produtos para compensar os descontos praticados. No caso das promoções do tipo “leve três, pague dois”, verifique atentamente se o item em destaque está em falta na sua casa.
Também é importante não se deixar levar às “compras da fila”. Os comerciantes colocam uma série de produtos – doces, chocolates, salgadinhos, etc. – logo no caixa, quando os consumidores estão esperando para pagar as compras.
Via de regra, não são artigos necessários, mas são atraentes e saborosos.
Na hora de preparar as refeições, sempre é bom verificar o que sobrou do jantar de ontem. Alguns bifes podem se transformar em um picadinho (basta acrescentar alguns legumes). Os restos do frango podem ser desfiados para fazer bolinhos, risotos, etc.
Mais uma dica: sempre que sobrar comida, guarde os restos em potes transparentes. Eles estarão sempre à mão para o momento de reutilizá-los. Em potes opacos, quase sempre nos esquecemos do que está guardado e o mais provável é que o alimento se estrague antes que encontremos uma solução para “reciclá-los”.
Congelar alimentos é uma boa opção para evitar o desperdício. Muitos alimentos não resistem à temperatura ambiente e mesmo à permanência nas prateleiras da geladeira. Pratos como arroz e feijão podem ser feitos apenas uma vez por semana. O feijão pode ser temperado no momento de servir a refeição e o arroz pode ser combinado de diversas formas, para ter um prato diferente a cada dia.
Mercadões e feiras livres podem ser uma séria tentação. Cores, formatos e aromas quase sempre nos obrigam a comprar muito mais do que realmente precisamos. Isto, no entanto, não precisa ser um problema. É só transformar frutas e legumes em sucos e sopas, pratos nutritivos, gostosos e mais fáceis de digerir.
Antes de jogar a comida fora, pense na fome que existe no mundo. Se um alimento ainda está próprio para consumo, verifique se não há uma possibilidade de doá-lo para a caridade. Às vezes, ficamos enjoados com um prato qualquer, mas ele sempre será bem-vindo por quem não tem o que comer.
Sirva no prato apenas o que será efetivamente comido. Se a fome não for saciada, sempre é possível pegar um pouco mais nas travessas e panelas. Mas, se houver sobras, aproveite para fazer compostagem, usando o adubo em vasos e canteiros.
Em restaurantes, especialmente nos self service, é comum colocarmos mais comida no prato do que realmente podemos comer. É o famoso “olho maior do que a boca”: tudo está à disposição, pronto para ser consumido. Ocorre que quase sempre deixamos boa parte do alimento, cujo destino é a lata de lixo.
Ocorre o mesmo nos combinados das lanchonetes fast food. Em lugar de comer apenas um sanduíche, incluímos batatas fritas, refrigerantes extragrandes, sorvetes, milk shakes, etc. Quase tudo, como sempre, é descartado. É desperdício de dinheiro e de alimentos.