Quem está empregado e gosta do que faz – ou, ao menos, não pode nem pensar em perder a fonte de rendimentos – precisa ficar atento para não agir de algumas maneiras condenadas pela maior parte das empresas. Mesmo com boa formação técnica e acadêmica, algumas pessoas acabam se tornando especialistas em como perder o emprego.
Experiência, títulos e cursos de especialização contam pontos no momento da contratação, mas não são suficientes para não perder o emprego. A boa relação no ambiente de trabalho é fundamental: afinal, as pessoas que podem ajudar na carreira são os mesmos atores que puxam o tapete do colega antipático. Na melhor das hipóteses, eles se tornam neutros, não ajudam, nem atrapalham. Mas o auxílio é fundamental em qualquer aspecto da vida. Amigos convivem com os nossos problemas; colegas, nem sempre (ou quase nunca): afinal, eles não escolheram participar do nosso dia a dia.
O início
Nos primeiros meses em uma nova colocação, o profissional está cheio de otimismo, mas sempre com alguma ansiedade. É preciso compenetrar-se de que, assim como foi necessário um grande esforço para conseguir o emprego, mantê-lo é um desafio que se renova a cada dia. As pessoas perdem o emprego por duas razões: incompetência para realizar as funções e dificuldade de se relacionar com colegas e superiores.
Assim, em primeiro lugar, o candidato nunca deve exagerar as suas habilidades durante o processo seletivo. Uma vez contratado, precisa se dedicar para entender e seguir as rotinas da empresa. No caso de dúvidas, o profissional ideal procura orientações imediatas, sem tentar resolver “do seu jeito”, mesmo nas situações mais corriqueiras. As atividades de uma empresa quase sempre estão inter-relacionadas e os prazos não podem ser comprometidos.
Mas existem exceções: se o prazo não puder ser cumprido por um motivo justo – e isto significa, por exemplo, ter tido de abandonar as funções para suprir temporariamente outro setor da empresa, é válido pedir mais algumas horas ou dias. Quando isto acontece, é preciso comunicar previamente a chefia e definir a nova data ou horário para entregar a tarefa.
Em tempo: muitas pessoas começam em um novo emprego com “excesso de préstimo”: oferece ajuda para tudo e todos. Com o passar do tempo, o que era gentileza passa a ser obrigação: colegas e superiores chegam a estranhar a “falta de disponibilidade”. Por isto, desde o início, é preciso demonstrar disposição para ajudar, mas também para dizer não, quando o auxílio é impossível.
Sobrecarregar-se de tarefas aumenta a margem de erro e, na melhor das hipóteses, gerará o sentimento entre os colegas de que o novato é um “burro de carga”, digno de ser o porto de salvação para todos os atrasos, mas não de respeito.
Motivos de “desqualificação”
Ética, responsabilidade, proatividade, capacidade de atuar em equipe e, em alguns casos, criatividade, capacidade analítica e carisma são qualidades valorizadas pelas equipes de recrutamento e seleção. Mas nada disto é capaz de superar o descompromisso com o trabalho.
Ao entrar em uma empresa, a avaliação continua ocorrendo – e, em alguns casos, é permanente.
Por isto, é preciso demonstrar empenho e disposição, mesmo para realizar tarefas não diretamente relacionadas à função para a qual foi admitido. Levar novas ideias para aperfeiçoar os processos é uma excelente atitude, a menos que elas venham acompanhadas por um ar de superioridade, de “sabe tudo”. Se elas forem aceitas, o novo empregado ganhará pontos. Se forem recusadas, é preciso avaliar os motivos e continuar perseverando.
Se o motivo da recusa, após uma análise crítica, for apenas implicância do chefe, talvez seja o caso de voltar a distribuir currículos, para encontrar um ambiente de trabalho mais saudável. O importante é não cair na tentação de se vitimizar. Os relacionamentos profissionais, assim como todos os demais, nem sempre dão certo.
Trabalho e vida pessoal
Antes de identificar quem é quem na empresa, o melhor a fazer é manter discrição sobre a vida pessoal. Não se trata de isolamento – é preciso bater um papinho durante a pausa para o café e participar da happy hour –, mas de preservar a própria imagem. Além do mais, ninguém quer ver fotos familiares ou tomar conhecimento do “excelente fim de semana” de um quase desconhecido. Tais atitudes provocam antipatia ou, no mínimo, desconfiança.
Ainda sobre a vida pessoal: todas as empresas têm regras sobre o acesso a redes sociais durante o expediente e o uso do telefone para assuntos pessoais. Algumas chegam a proibir o uso de celulares. Ao assinar o contrato de trabalho, o empregado aceita estas regras, que muitas vezes podem não ser ditas, mas basta observar o comportamento dos colegas para entendê-las.
Um pouco de “semancol” não faz mal a ninguém. Fazer uma chamada para marcar uma consulta médica, dar um recado rápido ou saber se o filho doente está melhor são perfeitamente admissíveis, mas o mesmo não acontece com ligações intermináveis para parentes e amigos. “Discutir a relação” com a mulher ou namorada está definitivamente fora de questão.
Mesmo as empresas de maior responsabilidade social, mais comprometidas com o bem-estar de seus colaboradores, não toleram algumas atitudes: falar alto demais ao telefone (especialmente discutindo problemas pessoais ou apenas conversando com amigos), ter um vocabulário repleto de palavrões, contar piadas preconceituosas, etc.
Outra questão importante: higiene e apresentação pessoal. Quem já conviveu com “um cecê de lascar”, mesmo no caso de atuar com operários braçais, sabe que é uma situação incômoda e até constrangedora. Em um escritório, isto é inadmissível. A apresentação pessoal também é fundamental. Muitos empregados não precisam trabalhar com trajes sociais, mas bermudas, chinelos e camisetas estão vetados, assim como decotes exagerados, microssaias e muita maquiagem.
Pontualidade
Faltas e saídas antecipadas nunca são bem vistas pelos superiores, mesmo que tenham boas justificativas. Especialmente no início, é preciso deixar a ida ao dentista, por exemplo, para depois do horário de saída ou para o fim de semana. “Fazer gazeta” e escapar algumas horas antes do final do expediente é uma forma quase instantânea de perder o emprego. E não adianta nada tentar enganar o chefe deixando um casaco pendurado na cadeira.
Um atraso é perfeitamente admissível, por exemplo, em caso de greve nos transportes ou pane generalizada nos trens e metrôs. O mesmo não acontece quando se coloca a culpa pelo atraso no trânsito congestionado em dias normais. Quem mora em cidades grandes e médias conhece muito bem os congestionamentos nos horários de rush. Mesmo nos primeiros dias, não é possível alegar desconhecimento do trajeto: antes de assumir o novo emprego, é necessário avaliar as rotas disponíveis. Atrasos reiterados são uma das melhores formas de perder o emprego.
Algumas empresas determinam horários mais flexíveis para os empregados. Enquanto uma equipe que trabalha em regime de plantão precisa estar muita atenta ao relógio, a equipe de criação de uma agência de propaganda pode ignorar os horários rígidos de entrada. Isto, no entanto, só é válido para curtos períodos e, mesmo assim, sem comprometer a execução das tarefas previstas para o dia.
“Meu escritório”
Há pessoas que deixam para imprimir trabalhos de escola ou fazer cópias de documentos pessoais usando os equipamentos da empresa. Muitas delas não apresentam restrições a isto, desde que não haja abusos. Outras, no entanto, consideram como falta grave – mais uma vez, é preciso conhecer as normas não explicitadas.
Em diversas atividades, há momentos com mais folga. Os funcionários podem aproveitar para ler, estudar e até tirar uma soneca, nas empresas que já entendem que a promoção do bem-estar dos empregados é fonte de aumento de produtividade. Mas é totalmente proibido negligenciar as funções para se dedicar a atividades pessoais. Mesmo quem está cumprindo aviso prévio (por ter sido demitido ou pedido demissão) precisa manter o profissionalismo. Até porque nunca se sabe quando será necessário obter uma carta de referência.
“Minhas tarefas”
Alguns profissionais adotam posturas inflexíveis quando são solicitados a desenvolver tarefas estranhas às suas competências. Respondem com um sonoro “não” ou, pior ainda, aceitam a responsabilidade para em seguida negligenciá-la. Quer perder o emprego? Experimente tomar esta atitude diversas vezes, sem nenhuma justificativa para isto.
É evidente que, em condições normais, nenhum gerente pode pedir a um assistente para lavar o banheiro, ou a um analista para fazer o café. Mas, na falta eventual da telefonista, não há nada de errado de um secretário efetuar o atendimento telefônico. Nestes casos, é preciso identificar, no treinamento recebido, a capacidade para executar a nova tarefa.
Outro tipo de profissional que só fica “na dele” é o que se acomoda no cargo, sem demonstrar aspirações para posições mais elevadas na hierarquia da empresa. Não desenvolve novas qualificações, não se empenha em aprender temas relacionados aos produtos e serviços da empresa. Este é o potencial candidato a perder o emprego, principalmente quando as coisas não vão bem e é necessário proceder a um corte de pessoal.
Mais um ponto a considerar. Muitos profissionais, ao se depararem com uma nova ideia, imitam a hiena Hardy do desenho animado e partem para o pessimismo: “isto não vai dar certo”. Talvez isto seja dito por experiência própria, com ideias e situações semelhantes. O melhor a fazer, nestes casos, é contar a passagem que enfrentou e demonstrar os motivos do fracasso. E, se a equipe mantiver a proposta, mesmo que não tenha êxito, nunca se deve dizer ou tomar ares de “eu sabia que não ia dar certo”.