Os brasileiros, em sua maioria, gostam de se endividar. Em períodos de crédito fácil ou não, o acesso aos carnês de pagamento e os limites de cartões e cheques especiais conferem a ideia de que a renda doméstica é bem maior. Se você não quiser ter filhos com problemas financeiros quando se tornarem adultos, é melhor começar a ensiná-los a cuidar do dinheiro desde crianças.
Metade da metade das famílias do país está endividada. E, de acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 70% dos brasileiros têm uma concepção equivocada sobre o que, realmente, é estar endividado: para 52%, a definição é “ter dívidas atrasadas”; 21% definiram que é “ter o nome registrado em um órgão de defesa do crédito”.
Na verdade, estar endividado é ter quaisquer parcelas a vencer, sejam elas de empréstimos, sejam de compras de curto ou longo prazo. Ter dívidas em atraso, ainda negociáveis com o credor ou já com o “nome sujo na praça”, significa que estamos inadimplentes, uma situação bem pior.
Como ensinar os filhos a cuidar do dinheiro?
Crianças e adolescentes precisam cuidar do seu próprio dinheiro. A partir dos oito anos, já é possível pagar uma mesada (que pode ser “semanada”). Os filhos começam a aprender a administrar seus “ganhos”, distribuindo-os para o lanche da escola, o sorvete e, mais tarde, condução, ingresso para cinema e outros gastos pessoais.
Diversos bancos oferecem cartões de débito pré-pagos. Os pais “carregam” o cartão com um valor definido pela família e o jovem, especialmente a partir dos 16 anos, faz ele mesmo os seus saques (desde que tenha saldo positivo). Não é preciso ter conta na instituição bancária, mas as tarifas são mais baixas para clientes com relacionamento.
Uma situação muito comum, no primeiro emprego, é o jovem perder-se totalmente ao receber o primeiro salário: ao receber aquela “bolada” (que pode ser apenas um salário mínimo), parte para as compras, especialmente se tiver sido criado em uma casa de consumidores. Passada uma semana, tem que recorrer ao auxílio paterno, mas, se tiver sido educado desde pequeno, será distribuir o seu dinheiro para satisfazer às necessidades do mês inteiro (ou quase).
Lição de casa
Toda família deve ter um orçamento doméstico, para equilibrar ganhos e despesas. Uma planilha de Excel é o suficiente. Ensine o seu filho a fazer o mesmo: anotar todas as despesas (ele ainda não tem renda, além da mesada), desde o lanche no fast food até um chocolate ou saco de pipoca.
Gradualmente, a criança ou adolescente começará a perceber o valor do dinheiro e da poupança. Com o apelo constante da mídia, todos nós criamos necessidades falsas: ter um smartphone de última geração, o tênis de grife, etc. Ao descobrir quanto cada objeto de desejo custa, descobrimos se precisamos realmente dele – e, principalmente, se ele cabe no nosso bolso.
Não é necessário, no entanto, que a criança leve uma vida monástica, renunciando a “todos os bens terrenos”. Ela pode realmente desejar um brinquedo ou uma roupa especial. Ensine-a a juntar o dinheiro, para que possa adquirir o item. Talvez, avaliando as condições, ela desista da compra.
É importante lembrar que a aquisição dos presentes de aniversário, Natal e Dia das Crianças, além das roupas de uso cotidiano ou para as muitas festas em família ou com colegas, é um dever dos pais, que têm a obrigação (inclusive legal) de prover as necessidades básicas de seus filhos.
Ensinar os filhos a cuidar do dinheiro não é eximir-se das responsabilidades da paternidade. Tampouco é estabelecer condições draconianas.
Nos primeiros meses, crianças e adolescentes certamente se atrapalham e perdem o controle das contas (igualzinho à maioria de nós). Basta uma orientação e, quem sabe, um adiantamento.
Ambiente sustentável
Com a criança progressivamente se tornando responsável pela decisão de comprar ou poupar, chega o momento em que ela deve descobrir as condições em que determinado item foi produzido. Há alguns anos, por exemplo, uma grife de renome internacional foi multada por utilizar o serviço de imigrantes ilegais na produção das peças.
Boicotar a aquisição de certos produtos caminha paralelamente a outros cuidados que crianças e adolescentes precisam adotar, como reciclar o lixo, preservar o ambiente, economizar água e energia – e não apenas por causa crise hídrica.
Ao lado de cuidar do dinheiro, é necessário também cuidar da Terra. De nada adianta termos um valor depositado no banco, se não tivermos um planeta em que habitar. Uma forma simples de fazer isto é estimular as doações de brinquedos, roupas e material escolar: muitas pessoas precisam destes donativos e, sem necessidade de comprá-los (mesmo porque elas não têm condições para isto), os recursos naturais para a sua produção são poupados.
Uma regra básica é: entrou um carrinho (ou qualquer outro item), sai outro de que a criança nem lembra mais. Esta prática ajuda a desenvolver a solidariedade nas crianças e adolescentes, fator importante para a formação do caráter e mesmo para obter, mais tarde, um emprego em corporações socialmente comprometidas.
Dicas para os pais
É sempre mais seguro e confortável passear em um shopping center do que levar as crianças para um parque, mas é necessário algum cuidado: se as vitrines chamam a atenção de adultos, elas fazem prodígios na mente dos pequenos.
Isto não é um libelo contra o consumo. As crianças podem ser convidadas a escolher um presente para os avós, ou para um colega que está fazendo aniversário. No entanto, as visitas semanais aos centros de compras servem apenas para aumentar o desejo de consumo.
Vale o mesmo para o supermercado, cheio de chocolates, balas, biscoitos, etc. Por outro lado, visitar a seção de hortifrútis pode ser uma boa lição (inclusive para nós): a criança observa os pais escolhendo os produtos mais em conta, recusando os itens em embalagens sofisticadas, levando a própria sacola para levar a compra para casa.
Lembre-se: o exemplo é mais importante que a orientação verbal. Crianças e adolescentes nunca aprenderão a lidar com o dinheiro, se passarem anos observando os pais chegando muito frequentemente cheios de sacolas, trocando automóveis e celulares sem necessidade, etc. A primeira regra para ensinar é dar o exemplo.