A Coreia do Norte é um país que ocupa o norte da península da Coreia, que foi governada pelo Império Coreano desde a sua fundação, em 1897, até 1905, quando o Japão ocupou a região. Derrotado na Segunda Guerra Mundial (em 1945), o Japão retirou-se da península, que foi ocupada por forças soviéticas e americanas.
As duas Coreias recusaram-se a participar de uma eleição supervisionada pela Organização das Nações Unidas, que seria realizada em 1948: os dois países reivindicavam soberania plena da península: foi o estopim da Guerra da Coreia (1950-1953).
Com o fim do conflito, estabeleceu-se um armistício (tecnicamente, as duas nações permanecem em guerra até hoje). A Coreia do Norte tornou-se uma república socialista, inspirada na ideologia formulada por Kim Il-sung, o primeiro ditador, morto em 1994. Desde 2011, o país é governado por Kim Jong-un, neto de Sung.
A Coreia do Norte é considerada o país mais isolado do mundo (ao lado de Cuba, governada por Raul Castro, irmão do líder revolucionário Fidel Castro). O regime socialista minou as relações internacionais. O PIB per capita é de US$ 500, enquanto o da vizinha do sul ultrapassa US$ 35 mil. A vida na Coreia do Norte não é nada fácil.
O cotidiano na Coreia do Norte
Logo de manhã, os norte-coreanos ouvem uma sirene que os convida a ir para o trabalho. A prática é mais comum nas grandes cidades, como Pyongyang (a capital, com mais de 3,2 milhões de habitantes), Hamhung e Chongjin (com mais de 500 mil habitantes).
O ditador Kim Jong-un é quase onipresente, assim como Kim Il-sung, “presidente eterno” do país. Outdoors espalhados por todo o país estampam os retratos gigantes dos dirigentes da Coreia do Norte. Alguns foram instalados em prédios residenciais, vedando a visão dos moradores. As peças fazem parte da propaganda do governo e impressionam pelo excesso de cores.
Os cartazes, no entanto, não são exclusividade da “dinastia socialista” instalada na Coreia do Norte. Existem outras peças, mostrando norte-coreanos com uniformes militares, operários em linhas de produção (a principal atividade econômica do país é a indústria, planejada e controlada pelo governo) e muitas imagens alusivas à força política que o país exerce no contexto mundial.
A função básica da imprensa norte-coreana é tecer elogios ao governo. Os habitantes são constantemente bombardeados por uma propaganda baseada nos moldes stalinistas: cartazes, esculturas e monumentos são dedicados a louvar a dinastia Kim.
Não existe oposição política organizada no país, que sofre com vários problemas econômicos (inclusive fome; nos últimos anos, o país tem sofrido com secas e enchentes). A participação da política partidária depende da filiação ao partido único – e isto depende de um convite formal de um membro da cúpula da organização.
A Coreia do Norte é um país extremamente militarizado. Estima-se que haja um contingente de 1,2 milhão de oficiais e soldados prontos para o combate. A população total é de pouco menos de 25 milhões de pessoas. Um entre cada cinco homens entre 17 e 54 anos está engajado nas forças regulares: é o quinto maior exército do mundo.
Existe apenas uma emissora de TV no país, cuja programação é definida pelas autoridades políticas. Há quatro estações de rádio (duas AM e duas FM), também estatais. Tentar sintonizar um canal estrangeiro é virtualmente impossível, em função dos sinais de interferência mantidos pelo governo.
Leis curiosas na Coreia do Norte
O código penal norte-coreano é draconiano. O país mantém uma legislação rigorosa até mesmo sobre atividades corriqueiras – ao menos, de acordo com a ótica do Ocidente. Condutas consideradas ilegais ou contrarrevolucionárias podem ser punidas com trabalhos forçados, prisão perpétua e pena de morte. A localização dos campos de detenção é considerada “segredo de Estado”.
São motivos para aplicação destas penas:
• usar biquíni. O Parque Aquático Munsu foi inaugurado em 2013, em Pyongyang, com pompas militares. No entanto, é proibido mostrar o umbigo nas piscinas, o que exemplifica o profundo conservadorismo que marca o regime. Seja como for, são poucos os norte-americanos que podem nadar no Munsu: o ingresso custa pouco mais de 20 mil wons, enquanto o salário médio local é de pouco mais de cinco mil wons mensais;
• dirigir. Na Coreia do Norte, apenas alguns funcionários públicos podem ser proprietários de automóveis. Fontes da Coreia do Sul estimam que apenas 1% da população seja formalmente habilitado para dirigir. Todas as mulheres sofrem esta proibição, apesar de atuarem como guardas de trânsito;
• fazer chamadas internacionais. Fazer uma ligação telefônica pode ser motivo de execução. Vale o mesmo para o uso da internet, restrito a autoridades do governo e diplomatas. Estudantes podem trocar e-mails, mas não têm direito de acessar a “internet internacional”;
• ouvir música ou assistir a filmes estrangeiros. Estes hábitos são considerados crimes contra o Estado, mas existe uma dosimetria: se o material for russo, por exemplo, a pena é de reclusão durante três anos. Caso seja americano, vale a pena de morte. Mesmo assim, a popularidade de programas internacionais não para de crescer (eles são vendidos no mercado negro);
• consumir pornografia. O “crime” é punido com a pena capital e a execução ocorre em praça pública. A pena é a mesma para a prostituição e o lenocínio;
• ter um parente condenado. Os familiares de qualquer norte-coreano responsabilizado por um crime são automaticamente considerados corresponsáveis pelo ato. A prática foi denunciada por um ex-guarda de presídio, que fugiu para a Coreia do Sul em 1994;
• ter o mesmo nome do ditador. Um ano antes de King Jong-un ascender ao poder, o governo proibiu que outros norte-coreanos tivessem este nome. Todos os cidadãos xarás do líder supremo foram convidados a mudar “voluntariamente” de nome. Jong-un era um nome popular entre homens e mulheres;
• ter uma Bíblia. Oficialmente, a tolerância religiosa é uma prática norte-coreana. Na prática, diversos grupos são perseguidos (especialmente os cristãos). Em 2014, o americano Jeffrey Fowle foi preso por quatro meses, por ter levado uma Bíblia (o livro foi encontrado no banheiro de um restaurante). A libertação precisou da mediação da Suécia, uma vez que EUA e Coreia do Norte não mantêm relações diplomáticas;
• dormir durante reuniões e outros atos oficiais do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Em 2015, o ministro da Defesa Hyon Yong-choi foi executado com um tiro de bateria antiaérea foi executado por ter dormido em um encontro e não ter obedecido a ordens superiores.
Estrangeiros na Coreia do Norte
O trânsito de estrangeiros na Coreia do Norte é rigidamente controlado. Existem poucas embaixadas em Pyongyang, todas instaladas em uma área especial da capital, com acesso controlado. Neste setor, os norte-coreanos também não podem circular livremente.
Se precisarem sair da área, diplomatas e visitantes são acompanhados por dois guias. Os estrangeiros podem conversar com os habitantes da cidade, mas os diálogos são traduzidos pelos guias. Nos grandes hotéis, é grande a presença de russos, cuja estratégia é manter vínculos com a Coreia do Norte com vistas a futuras aberturas do país aos investimentos internacionais.