De acordo com o Antigo Testamento, o patriarca Noé tomou o suco fermentado da uva, embebedou-se e saiu nu de sua tenda. Se o episódio é verdadeiro ou apenas lenda, é uma questão de fé. O fato, no entanto, demonstra os efeitos negativos – neste caso, das drogas lícitas.
Atualmente, pais e professores precisam fazer grandes esforços para informar, detectar o uso de drogas e procurar uma solução.
Não é preciso que os pais se transformem em novos Sherlock Holmes: para detectar o uso de drogas, é preciso adotar um olhar atento para identificar alterações bruscas de comportamento dos adolescentes – e isto acontece em casa, na escola, no clube, entre os amigos da rua, em qualquer local onde haja interação social.
Alguns sinais de problemas à frente – ou já instalados. Quando um adolescente se rende ao uso regular de drogas, é comum a tendência ao isolamento – passar horas fechado no quarto ou não participar dos diálogos em família –, a queda do rendimento escolar e a troca do grupo de amigos.
Porém, pai e mãe não devem se render a justificativas fáceis e caducas: “meu filho está viciado porque conheceu más companhias”. Sempre existirá alguém para oferecer drogas de qualquer natureza. Alguns adolescentes recusam, outros aceitam, mas não transformam isto em um hábito e parte deles acaba se viciando.
Convenhamos: se o jovem aceitou a droga e está exibindo comportamentos inadequados, ele também é má companhia. Mesmo sem se tornar um adicto, este adolescente exibe (ou oculta) traços negativos de personalidade, que aflorariam de uma forma ou outra.
Em um momento como este, é necessário procurar elementos de conter (no sentido de continência) e cuidar do filho problemático, não de procurar “culpados” além do portão de casa. Adolescentes e jovens conhecem a diferença entre o certo e o errado: a última coisa de que precisam é que os pais “passem a mão na sua cabeça”.
Como detectar?
Com o crack, a tarefa não é nada difícil. A substância é altamente viciante (em alguns casos, uma “pedra” é suficiente) e altera profundamente a conduta e mesmo a funcionalidade. Atividades motoras e mentais ficam prejudicadas com poucos dias de uso.
Entre os adolescentes, no entanto, as drogas mais populares são as bebidas alcoólicas, maconha e anfetaminas, como rebite, ecstasy e ice. Enquanto o cigarro produzido com as folhas e flores da Cannabis sativa provoca efeito relaxante após um curto período de euforia, as anfetaminas estimulam o sistema nervoso central, tornando-o o usuário mais atento e com menos sono.
Muitos estudantes com excesso de atividades usam as anfetaminas inicialmente para varar a noite estudando. Daí a passar a noite na balada, é apenas um passo para alguns jovens. Estas drogas são sintéticas e podem tornar o usuário dependente com poucas experiências.
As bebidas alcoólicas provocam os mesmos efeitos em adolescentes e adultos: euforia e expansividade seguida de agressividade e depressão, redução da coordenação motora e da capacidade visual, dificuldade de concentração e problemas gastrointestinais. Neste caso, detectar o uso é simples. O problema, aqui, é que muitas famílias ainda estimulam o consumo de álcool. Alguns pais consideram isto como um “ato viril”.
O consumo destas drogas, mesmo de forma recreativa, provoca sinais inequívocos – a não ser que os pais não queiram observá-los. Olhos vermelhos e dilatação excessiva das pupilas são prováveis sinais do uso de álcool, maconha ou anfetaminas.
Os primeiros sinais são discretos, mas o uso regular de drogas pode provocar fungados constantes, alterações nas cavidades nasais (tais como vermelhidão) e até sangramentos frequentes. A primeira possibilidade a ser descartada, nestes casos, é o surgimento de uma doença física: rinite e sinusite apresentam os mesmos sintomas.
Se o jovem voltar para casa desta forma, mas apresentar comportamento alterado, não é o momento de dialogar: deixe que ele descanse e estabeleça a conversa horas depois ou na manhã seguinte. Lembre-se: broncas e xingamentos (como “maconheiro”) só aumentam o distanciamento entre as gerações: o adolescente “comprova” que os pais são caretas.
Sinais de agulhas (quase sempre nos braços) são mais graves. Eles podem indicar o uso de drogas injetáveis (mais pesadas), como heroína, cocaína, alguns produtos sintéticos e medicamentos controlados, como antidepressivos. Uma overdose pode significar a morte.
Por sorte, quase ninguém, na primeira vez em que experimenta drogas, quase nunca parte para as injetáveis (ou para os alucinógenos, como o LSD). O contato começa com as substâncias consideradas mais leves: o cigarro e as bebidas alcoólicas estão no topo do ranking. A maconha é comum em todas as classes sociais e as anfetaminas estão mais particularmente associadas aos baladeiros.
Vale lembrar que muitas pessoas, de qualquer idade, não identificam um prazer nas drogas e simplesmente as rejeitam. Outras conseguem passar a vida toda fazendo apenas uso recreativo. A dependência significa apenas a ponta do iceberg.
O que fazer?
As conversas sobre drogas e outros temas, como sexualidade, ao lado de conceitos como cidadania, tolerância, etc., devem fazer parte do cotidiano das crianças desde que elas consigam entender e expressar ideias, sempre utilizando palavras e conceitos que estejam ao alcance delas.
Os primeiros diálogos devem ocorrer à medida que os filhos demonstrem curiosidade. No final da infância e na puberdade, estas informações se tornam urgentes: os adolescentes em breve terão atividades sociais independentes e estarão expostos a experiências positivas e negativas.
Muitas famílias, no entanto, não cultivam o hábito do diálogo. No máximo, pais e mães se limitam a afirmar que “a droga é uma droga” quando o assunto surge no noticiário. Este é um problema sério: o adolescente, ao experimentar qualquer substância, sente-se mais solto, relaxado, descontraído, elétrico, “ligado no 220 V”. A conclusão óbvia é: “eles não sabem de nada”. Na melhor das hipóteses, o filho vai pensar que os pais mentiram.
Felizmente, sempre é tempo de iniciar uma relação franca com os filhos. Mesmo que eles neguem – é quase sempre a primeira reação –, as informações sobre os riscos oferecidos pelas drogas ficarão gravadas. Com o acesso fácil à internet, é provável que os adolescentes procurem informações na rede mundial, mas há um problema: a qualidade das informações veiculadas nos sites.
Se o uso frequente de drogas for observado, os pais precisam exercer a plenitude da sua autoridade: procurar auxílio especializado e dar início ao tratamento psicoterápico ou psiquiátrico. Menores de 18 anos não têm direito de escolha para submeter-se ou não ao acompanhamento de saúde.