As primeiras coisas que aprendemos vêm principalmente da observação e imitação. Crianças pequenas observam os pais e repetem atitudes, algumas corretas, outras inadequadas. Por vezes, os pequenos simplesmente reproduzem atitudes: ao ver o pai se barbeando, o filho quer fazer o mesmo, o que pode gerar ferimentos profundos. Algumas coisas básicas que a gente faz no dia a dia, no entanto, estão totalmente erradas.
Pode parecer extraordinário, mas até nas necessidades fisiológicas estamos cometendo erros – e estes são diários, podendo comprometer seriamente a saúde. o leitor vai ficar surpreso ao perceber que, mesmo nas coisas simples, estamos errando feio na execução.
O cocô
Bebês sabem como fazer cocô corretamente. Então, como desaprendemos logo nos primeiros anos de vida? No início da vida, para expelir as fezes, as crianças elevam as pernas. O movimento equivalente, para quem já pode usar o banheiro, seria manter-se de cócoras enquanto o material não absorvido na digestão é eliminado.
Os vasos sanitários são nossos antigos companheiros. O primeiro registro sobre eles é do século XVI, feito sob encomenda para a rainha Elizabeth I, em 1596. As privadas se tornaram mais populares no início da Idade Moderna e ganharam espaço com as descobertas científicas do século XIX, que obrigaram várias populações a se preocupar mais com a higiene. No mesmo século, surgiu a água encanada, que facilitou bastantes as coisas.
No Brasil, a “inovação” é ainda mais recente. Até os anos 1960, muitas casas não tinham banheiro (ou apenas um banheiro externo) e as necessidades eram feitas no fundo do quintal ou, durante a noite, em penicos – pequenos vasos mantidos sob as camas para eventuais emergências.
Nos banheiros do mundo árabe a da Turquia, os vasos sanitários são quase desconhecidos. Os hóspedes ocidentais reclamam por terem que de agachar sobre um buraco no chão quando vão fazer as suas necessidades.
Esta, no entanto, é a posição mais adequada, de acordo com muitos especialistas. Fazer cocô sentado é a principal causa das hemorroidas. Com o avanço da idade, a posição mais cômoda pode provocar diverticulite e até a obstrução do cólon.
A razão é simples. Quando estamos em pé ou deitados, os músculos em torno do esfíncter anal o pressionam, impedindo a eliminação das fezes. Sentados, eles se relaxam parcialmente. De cócoras, o relaxamento é total, o que facilita a eliminação total do material fecal.
Nos braços de Morfeu
Dormir oito horas por noite é uma atividade relativamente recente. A lâmpada elétrica surgiu apenas em 1879, inventada pelo americano Thomas Edison. Nossos ancestrais que se iluminavam com lampiões e lamparinas recolhiam-se aos quartos bem mais cedo, com o pôr do sol.
O sono era dividido em etapas. No meio da noite, os familiares da era pré-televisiva levantavam-se, faziam um pequeno lanche e distraíam-se por uma ou duas horas antes de retornar para as camas. E levantavam-se com o nascer do sol, cantos de galos e passarinhos.
Nosso cérebro regula as atividades pela iluminação, seja natural, seja artificial. Pesquisadores desconfiam de que esta “parada estratégica” no meio da noite esteja entre as causas da insônia, incômodo que afeta muitas pessoas. No século XIX, em plena escuridão, o sono chegava logo. Atualmente, com diversas luzes acesas (celular, televisão, despertador, etc.), tornou-se mais difícil voltar a dormir e a sonhar. Por mais tênue que seja, a luz acesa afeta até o sono dos bebês.
Quando a cegonha está para chegar
Atualmente, especialmente no Ocidente, a maioria das mulheres dá à luz seus bebês na chamada posição ginecológica (deitadas de costas, com pés e pernas elevados). O método foi adotado basicamente porque, desta forma, os médicos têm acesso total à vagina. Isto quando não optam pela cesariana, um método bem mais agressivo (trata-se de uma cirurgia).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que esta é a pior posição para o parto e “claramente prejudicial”. A recomendação da OMS é a posição deve ser eliminada das maternidades e hospitais. A posição mais indicada é o parto de cócoras; ao contrário da maneira tradicional, em que o bebê luta contra a gravidade para nascer e o risco de rupturas vaginais é maior, quando a criança nasce com a mãe agachada, o parto é mais rápido e tranquilo.
Outro erro grave nas salas de parto: gritar para a mulher “empurrar, fazer força”. Isto aumenta os danos no períneo (região entre a vagina e o ânus), a dor do parto e diminui a quantidade de oxigênio enviada para o feto.
Enchendo os pulmões
Muitas pessoas, quando respiram profundamente, elevam os ombros e estufam o peito. Mas até respirar, uma coisa tão básica, fazemos errado? A resposta, infelizmente, é positiva. Na verdade, o músculo que deve ser usado na respiração, é o diafragma, que fica entre o tórax e o abdômen.
Em pé, a maioria das pessoas usa os músculos do peito para respirar. Trata-se de um movimento artificial, que enche apenas a parte superior dos pulmões. O problema é que a maioria dos vasos sanguíneos (que transportam o oxigênio para as células) está justamente na parte inferior.
A respiração torácica reduz a energia orgânica. Ela pode interferir nas trocas gasosas (eliminando parte do oxigênio, em lugar de apenas dióxido de carbono), o que causa dores de cabeça, cansaço, ansiedade e até crises de pânico. Este tipo de respiração também pode ser responsável pelo aumento do suor nas mãos, dificuldade no relaxamento e percepção mais acentuada da dor. Quando nascemos, usamos naturalmente a respiração abdominal. Com o desenvolvimento, porém, a maior parte dos humanos desaprende esta habilidade. Felizmente, com algum treino, ela pode ser reaprendida.
Exagerando nos banhos
Tomar banho diariamente é um hábito comum à maioria dos brasileiros, mas pode ser prejudicial à saúde. água quente, sabonete e superfícies abrasivas (como as buchas) retiram a camada córnea (a camada mais externa da epiderme). Formada por células que já perderam o núcleo, ela não exerce nenhuma função orgânica, apenas expõe células vivas de camadas mais internas, expondo o corpo à invasão por agentes externos, como fungos, vírus e bactérias.
O banho não elimina os microrganismos, mas pode movê-los para outra região do corpo. Em nossa pele, vivem milhões de bactérias em regime de comensalismo conosco: elas se alimentam das células mortas, que podem causar infecções, acne e espinhas. Os sabonetes antibacterianos conseguem eliminá-las, mas médicos recomendam que seu uso não seja diário, para evitar que nossas amigas microscópicas e se transformem em superbactérias.
O banho diário também é responsável pelo ressecamento da pele. “Pular” um ou dois dias permite que a pele se recupere dos danos provocados pelo banho anterior. Mas, como não é socialmente aceitável a não higienização diária, a opção é banhar-se em água morna ou fria, sabão neutro e esponja macia (como as feitas de náilon ou espuma).
Os dentes
Da mesma forma que o banho, a escovação dental excessiva é prejudicial à saúde bucal. Pode melhorar o hálito e a apresentação pessoal, mas é responsável por cáries e até por perda de dentes. Uma equipe de dentistas ingleses sugerem que as escovações, especialmente por parte de crianças, não sejam realizadas logo depois das refeições.
O motivo é simples. É preciso dar um tempo para que os dentes se recuperem do desgaste ácido: a acidez dos alimentos e bebidas provoca o amolecimento temporário do esmalte, podendo colocar outras estruturas em risco de ataque bacteriano.
Outros estudos indicam que a utilização do fio dental é mais importante que a escovação. O fio remove bactérias e restos de alimentos presos entre os dentes, sem interferir na camada externa, promovendo uma agressão bem menos severa. Pelo mesmo motivo, a escolha deve recair sempre sobre escovas com cerdas macias. Vale lembrar que a higiene bucal não envolve apenas os dentes: língua, bochechas e gengivas também merecem cuidados especiais.
Dores nas costas
Passar muito tempo sentado prejudica a coluna vertebral com mais intensidade do que as posições deitado e em pé. Infelizmente, a imensa maioria dos mortais precisa passar boa parte do dia sentada, trabalhando em escritório. Mas há como reduzir os danos.
De acordo com um estudo que utilizou ressonância magnética, o encosto da cadeira deve ter um ângulo de 135°, e não os tradicionais 90° a que estamos acostumados. O uso de bancos sem encosto também é indicado por especialistas em ergonomia. Quando estamos em pé ou sentados sem apoio para as costas, os músculos abdominais ficam ativos, ajudando a coluna a suportar o peso do tronco. Recostados, eles simplesmente “param de trabalhar”, deixando a tarefa de sustentar a parte superior do corpo apenas para a coluna.
O esforço extra provoca pressão extra nos discos da coluna vertebral, levando a dores nas costas mais ou menos intensas, que podem se tornar crônicas. Em tempo: passar muito tempo sentado com apoio vertical para as costas aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas e mesmo de alguns tipos de câncer.
Quem passa o dia no escritório (geralmente de frente para um computador) precisa fazer algumas pausas durante o expediente, levantando-se e andando entre as salas e corredores. Os chefes não terão do que reclamar: até a produtividade aumenta com a adoção desta atitude simples.